Dez anos depois da Xsara, o nome
do pintor Picasso é novidade outra vez em um Citroën brasileiro, agora
uma minivan bem mais compacta
Com 40 kg a menos que a Aircross,
a Picasso é um pouco mais ágil, mas ainda impõe um peso elevado para o
motor de 1,6 litro e 113 cv
Suspensão e direção revistas
mostraram-se acertadas na avaliação: o rodar é confortável e ganhou-se
agilidade nos movimentos do volante
Navegador integrado de 7 pol
é um dos opcionais da versão Exclusive, que tem ainda sistema de áudio
superior e ar-condicionado automático |
No interior, a C3 Picasso brasileira é praticamente igual à Aircross —
e, por isso, distingue-se claramente da europeia. Se os franceses usam
um painel de instrumentos digital em montagem central e próxima ao
para-brisa, a ponto de haver um porta-objetos entre ele e os difusores
de ar, aqui foi mantido o quadro analógico do modelo "aventureiro", bem
diante do motorista.
Se gosto não se discute, em um aspecto perdemos sem dúvida: a alavanca
de câmbio da nossa é bem mais baixa e menos prática de usar. Como na
Aircross, a Picasso poderia "vestir" melhor o motorista se o arranjo de
pedais, alavanca de câmbio e — sobretudo — a de estacionamento fosse
outro, já previsto para a altura de seus bancos e não adaptado do C3
hatch. Além disso, ficaram de fora da versão tupiniquim itens que seriam
apreciados como regulagem longitudinal do banco traseiro, fixações
Isofix para cadeiras infantis e teto com
grande superfície envidraçada. E nem mesmo a Exclusive tem cinto de três
pontos para o quinto ocupante.
Mesmo com essas ressalvas, o interior mostra acabamento razoável na
versão Exclusive, painel com fácil leitura e vários porta-objetos. O
banco traseiro é espaçoso em altura e para as pernas, mas bastante
limitado em largura. A capacidade de bagagem (403 litros) é a mesma da
outra versão apesar da colocação interna do estepe, que torna o acesso à
bagagem muito mais prático.
Mesmo motor, outra caixa
Sob o capô da C3 Picasso está um velho conhecido, o motor flexível de
1,6 litro e 16 válvulas usado amplamente pelo grupo PSA Peugeot-Citroën.
Com os habituais 110 cv com gasolina e 113 cv com álcool, ele lida neste
caso com um peso cerca de 40 kg mais baixo que o da Aircross. A fábrica
diz ter reprogramado a central eletrônica, mas novidade mesmo
— e bastante aguardada —
é a opção de câmbio automático de quatro marchas. A caixa AT8 possui
modos de uso normal, esportivo e para pisos de baixa aderência e permite
mudanças manuais sequenciais, pela própria alavanca, no esquema
tradicional de subir marchas para frente.
Na versão manual não houve alteração em relações, apesar dos pneus
menores, o que deixou a Picasso ainda mais curta que a Aircross, com
3.850 rpm em quinta marcha a 120 km/h ante 3.650 rpm (na automática são
3.400). Contrassenso? Sem dúvida, pois a "aventureira" é que deveria
compensar pneus e aerodinâmica por meio de mais rotações, além de sua
aptidão para sair do asfalto recomendar que as marchas sejam mais
curtas.
Duas possíveis explicações: uma, contenção de custos e simplificação na
fábrica; outra, a hipótese de que a Citroën esteja respondendo a
críticas ao fraco desempenho da versão inicial pelo velho método de
impor mais rotação — que implica maiores consumo e ruído — ao usuário.
De resto, a redução de altura de rodagem veio acompanhada de
recalibração da suspensão, que tem até molas e amortecedores específicos
para a versão com caixa automática, e a direção ganhou relação mais
baixa (rápida) que a da Aircross, coerente com um veículo mais baixo e
portanto com melhor estabilidade. Já os freios são os mesmos.
Avaliada em São Paulo, SP, a C3 Picasso revelou-se uma velha conhecida,
mas com algumas novidades. Se nada há de novo no interior, ao dirigir se
percebe o carro um pouco mais baixo e sem a sensação de peso que os
grandes pneus da Aircross transmitem. Peso, porém, não falta ao carro
como um todo — são 1.287 kg na versão Exclusive de caixa manual — e isso
fica bem presente ao motorista, que precisa usar altas rotações para
obter bom desempenho. Se serve de consolo, não é muito diferente nas
minivans concorrentes, salvo Idea e Livina de 1,8 litro.
A suspensão recalibrada mostrou-se bem acertada, com um rodar macio e
confortável que não deixa evidente o uso de pneus de perfil baixo, sem
prejuízo do comportamento dinâmico. Bom resultado também para a direção
mais rápida, como sugerido em nossa primeira avaliação da Aircross, mas
o público feminino gostaria muito se a assistência fosse elétrica como
no C3 hatch, com seu volante levíssimo em manobras. Pena não ter sido
possível dirigir a versão automática, que fica para a avaliação
completa.
Com vários ganhos sobre a versão "aventureira" e perda apenas em um
aspecto óbvio — sua desenvoltura fora do asfalto —, a C3 Picasso a nosso
ver parece apta a fazer mais sucesso que a própria Aircross. Chama
atenção a diferença de preço entre elas, ao redor de R$ 6 mil, na mesma
versão e com conteúdo similar. Como a Citroën pretende vender 1.000
unidades ao mês da Picasso, isso pode significar séria concorrência
interna à "aventureira" (que tem alcançado a média de 1.500 por mês este
ano), já que tamanho custo adicional não se justifica sob qualquer
análise racional.
Mas, como se sabe, racionalidade não costuma ser o forte do consumidor
brasileiro... |
MOTOR
- transversal, 4 cilindros em linha; duplo comando no cabeçote,
4 válvulas por cilindro. Diâmetro e curso: 78,5 x 82 mm.
Cilindrada: 1.587 cm3. Taxa de compressão: 11:1. Injeção
multiponto sequencial. Potência máxima: 110 cv (gas.) e 113 cv (álc.) a
5.800 rpm. Torque máximo:
14,5
m.kgf (gas.) e 15,8 m.kgf (álc.) a 4.000 rpm. |
CÂMBIO
- manual, 5 marchas, ou automático, 4 marchas; tração dianteira. |
FREIOS
- dianteiros a disco ventilado; traseiros a tambor; antitravamento
(ABS). |
DIREÇÃO
- de pinhão e cremalheira; assistência hidráulica. |
SUSPENSÃO
- dianteira, independente McPherson; traseira, eixo de torção. |
RODAS
- 16 pol; pneus, 195/55 R 16. |
DIMENSÕES
- comprimento, 4,092 m; largura, 1,723 m; altura, 1,634 m;
entre-eixos, 2,54 m; capacidade do tanque, 55 l; porta-malas, 403
l; peso, 1.287 kg. |
Dados do fabricante para
versão Exclusive;
desempenho e consumo
não disponíveis |
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