Rinoceronte amestrado

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Na hora do acerto de contas, nosso colaborador foi ao encontro dos
525 cv do Audi R8 V10 em uma nova batalha da guerra dos sexos

Texto: Roberto Agresti - Fotos: Regina Garjulli

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Ameaçador dos faróis de leds às grandes saídas de escapamento, o
R8 exala potência por todos os poros e convida a ser explorado a fundo

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É hora de entrar na pista da Fazenda Capuava, de dar vazão aos 525 cv e 54 m.kgf do motor V10, bem distribuídos pela tração integral variável

O falecido Alcides Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, era um homem de gosto refinado. Cavalos, mega-iates e carros de corrida. Para estes últimos, construiu uma verdadeira pista numa fazenda de sua propriedade na região de Vinhedo, SP. Alcides faleceu em junho de 2007, aos 63 anos, e o que foi feito dos cavalos e barcos de "Cidão", como era chamado pelos amigos, não se sabe. Sobre seus carros de corrida — os mais notórios um Lister Jaguar, os Mercedes-Benz CLK em versões DTM e GTR, um Aston Martin DBR9 e outras coisinhas —, sabe-se que foram vendidos rapidamente pelos herdeiros. Para nossa sorte, porém, a pista da Fazenda Capuava resiste incólume. E agora, em vez de receber Cidão e amigos para tardes de lenha memoráveis, está disponível para locação de quem queira um belo traçado encravado numa muito bem cuidada propriedade rural.

E foi esse o palco escolhido pela Audi para, num estupendo sábado de outono, convidar clientes VIP e jornalistas a andarem em boa parte de sua linha de produtos disponível no Brasil no Audi Driving Experience. Lá estavam reluzentes A3, S3, A4, A6, TT-S, Q5, Q7 e R8 V10. Nosso foco? Adivinhe?

O R8 V10, claro. E explicamos: uma conta estava em aberto, havia um ajuste a ser feito. De fato, tratava-se quase de uma "vendetta". Nas páginas do Best Cars você já leu sobre os Audis citados, avaliados pela equipe em diferentes oportunidades. Apenas um deles — logo o mais prestigiado, o cartão de visitas tecnológico da marca das quatro argolas —, o poderoso R8 V10, havia nos deixado com uma dívida: fora pilotado por uma colaboradora bissexta do site, Regina Garjulli, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Cavalheiresca, a Audi resolveu brindar apenas colaboradoras do sexo frágil para um teste no autódromo de Interlagos de seu automóvel mais prestigiado e isso, convenhamos, resultou em mais um sofrido capítulo da eterna guerra dos sexos. Este que vos escreve, que com a citada colaboradora divide alegrias conjugais há mais de 15 anos, se sentiu vilipendiado a cada café da manhã, a cada diálogo ou referência a automóveis desde então.

O dito "homem da casa", o profissional do volante e do guidão, o jornalista especializado em motores com mais de duas décadas de ofício sofreu em silêncio. Durante enormes 68 dias teve de engolir o fato de jamais, em sua longa carreira, ter pilotado nada com tantos cavalos quanto a cara-metade, a contraparte, a "sócia" e consorte. E desde a tarde do dia 8 de março a vida se tornou um inferno. Uma humilhação silenciosa, feita de inequívocos sinais, olhares irônicos, risinhos de canto de boca, de empáfia surda, insuportável... Mas o sofrimento de mais de dois meses teve fim pois a Audi, em prol da continuidade de um casamento, fez este autor ter acesso àquilo que até então só Regina tinha tido: o volante do R8 V10. E na pista da Fazenda Capuava. Está bem, Capuava não é Interlagos, eu sei. Mas é pista também, e muito divertida — e duas voltas são melhores que uma.

E como foi? Extasiante e frustrante, ao mesmo tempo. Os 2.550 metros do tortuoso traçado interiorano se mostraram estreitos para tanto poder, tanta potência e torque concentrados. A melhor comparação que veio à mente para explicar a experiência: cavalgar um rinoceronte amestrado (isso é possível?) nos jardins de Versalhes usando esporas. Entenderam? Não? Entenderão.

Rinoceronte, porque o Audi R8 é compacto, musculoso, imponente. Amestrado, por ter dispositivos eletrônicos para controlar não apenas o quanto de potência pode ser jogada ao solo como também para a dividir entre as quatro grandes "patas". Jardins de Versalhes (em versão tropical, é verdade), pois ao asfalto perfeito, à paisagem incomum se juntou, na pista da Fazenda Capuava, um capricho quase maníaco, uma elegância feita não só de graminha bem aparada, guard-rails bem plantados e zebras impecavelmente situadas, mas — sobretudo — um traçado para exercitar os braços, onde curvas se emendam uma nas outras em um intenso sobe-e-desce, esquerda-e-direita de arrancar sorrisos de quem gosta da esfregar pneus em asfalto.

E esfregamos mesmo. Tendo ao lado o piloto da Stock Car Norberto Gresse, cumprindo função dupla de instrutor e vigilante, entramos no R8 V10 com uma excitação de criança diante da árvore de natal tomada por presentes. Confesso que não sabia para onde olhar, se para a alavanca do câmbio, o volante, o painel, os muitos detalhes de fibra de carbono, os pedais. Escolhi o óbvio: ajustar o assento, o volante e partir sem muitas mesuras para o tão esperado momento de acelerar um dos carros mais avançados da atualidade, um "brinquedinho" de R$ 700 mil. Meu vigia/instrutor de luxo pergunta então se sei como usar o câmbio manual automatizado, se vou deixar o serviço de troca de marcha por conta dos gnomos que habitam as entranhas do R8 ou se me encarregarei da tarefa. Respondo polidamente que trocaria eu mesmo e pelas alavancas tipo borboleta do volante, mas penso comigo mesmo a barbaridade que seria abdicar de ao menos isso, a troca de marcha.

Aceleração progressiva   Para mostrar ao prestativo Sr. Gresse que o momento seria intenso — bem diferente dos que me precederam, uma moça que levou o "rinoceronte" pela pista como levaria seu poodle pelo parque e um senhor tão careca quanto eu, mas cujo brilho em sua passagem pelo R8 se resumiu ao suor na testa —, decidi "socar o pé" sem muita frescura para sair do boxe. A distância dali até a primeira curva, uma esquerda de 180 graus, míseros 150 metros, foi engolida num lampejo e os freios, como previa, tentaram arrancar meus olhos da cara, o que me fez tomar a primeira decisão a propósito do meu breve contato com o R8: frear pouco ou nada. Afinal, a graça é acelerar, ou não? E fiz isso, acelerei fundo, o que me valeu o comentário (em tom de bronca...) do passageiro instrutor, incomodado pela forte escorregada de traseira: "Esse carro tem que ser acelerado progressivamente e com as rodas alinhadas." Continua

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Data de publicação: 17/5/10

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