Rumo ao topo do mercado

Fundada pelo homem que criaria a Audi, a Horch ofereceu grandes
carros de luxo nos anos 30 e tornou-se parte da Auto Union

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Os primeiros modelos da Horch: com passageiros frente a frente ("vis-
à-vis") ou em fila, sempre com dois cilindros e potência de até 14 cv

De cima para baixo, um modelo de 60 cv de 1909, o Tipo 303 -- com oito cilindros e duplo comando -- e o roadster 350, já com motor de 4,0 litros

Das quatro marcas que em junho de 1932 formaram a Auto Union — representadas em cada uma das argolas de seu emblema, hoje em uso pela Audi —, duas são bastante conhecidas dos brasileiros: a DKW, que contou com produção local por meio da Vemag nas décadas de 1950 e 1960, e a Audi, que conhecemos via importação dos anos 90 para cá. Mas as outras duas, há muito descontinuadas, também têm sua relevância na história do automóvel alemão: a Wanderer e a Horch.

Nascido em 1868, August Horch acumulou experiência com essa novidade em locomoção pessoal trabalhando na Benz, em Mannheim, onde chegou a ser engenheiro-chefe. Em 1899 ele deixou o emprego para instalar sua própria empresa — A. Horch & Cie. — em Ehrenfeld, Colônia, onde de início fazia a manutenção de carros da Benz. Não demorou a desenvolver seu primeiro automóvel, concluído em 1901 e do qual construiu 10 unidades. Não ficou por ali muito tempo: em 1902 mudava-se para Reichenbach e, dois anos mais tarde, para Zwickau, na Saxônia, onde a fábrica, renomeada August Horch & Cie. Motorwagenwerke AG, já contava com 300 funcionários.

Os primeiros carros da Horch tinham motores de dois cilindros em linha, potência de 5 a 14 cv e velocidade máxima não superior a 60 km/h. O modelo 22/30 PS de 1903 foi o primeiro com quatro cilindros em uma unidade de 2,7 litros, que permitia 30 cv. Seguiram-se carros mais potentes, como o 23/50 PS — um grande modelo lançado em 1905 com 5,8 litros, 40 cv e máxima de 100 km/h —, até que aparecesse em 1907 o primeiro com seis cilindros em linha: o 26/65 PS, que tinha cilindrada de 7,8 litros e 60 cv para alcançar 120 km/h.

Desentendimentos na direção da empresa levaram-no a deixá-la em 1909. Depois de abrir a August Horch Automobilwerke GmbH, ele passou a disputar com seus antigos parceiros, na justiça, o direito de usar o próprio sobrenome no negócio. Perdeu a briga, mas não desistiu: como horch também significa em alemão o imperativo "ouça!", ele adotou a tradução do termo para o latim e, em 1910, fundou a Audi Automobilwerke GmbH.
 
Os automóveis Horch não sofreram com a saída do fundador — pelo contrário. Nas mãos do diretor técnico Georg Paulmann, a marca passou por avanços em tecnologia e deu passos rumo ao topo do mercado. Pelos 15 anos seguintes a produção concentrou-se em modelos de quatro cilindros, o que não impediu que crescessem em refinamento e desempenho. Em 1914 a linha compreendia opções tão variadas quanto o Pony 5/14 PS, um carro compacto com motor de 1,3 litro e 14 cv; o grande 25/60 PS, com 6,4 litros e 60 cv; e o ainda maior S 33/80 PS, com nada menos que 8,5 litros (2,1 litros por cilindro!) e 80 cv.

A Argus Motoren, de Berlim, assumia a Horch em 1920 e logo promovia uma reformulação na gama. Os modelos do período de Paulmann foram substituídos por outros projetados por Paul Daimler, com motor de quatro cilindros e 2,6 litros com comando de válvulas no cabeçote: os médios 10 M 20, com 35 cv, e 10 M 25, de 50 cv. O primeiro era oferecido com carrocerias cupê e turismo de quatro lugares; o outro acrescentava a elas o sedã Pullman e o cupê conversível. O mais potente podia rodar a 95 km/h e vinha com freios nas quatro rodas, raros na época. Eram a introdução para o que faria a Horch brilhar no segmento de luxo de 1926 em diante: grandes automóveis de oito cilindros em linha.

A gama começou pelo Tipo 303/304 com motor de 3,1 litros, duplo comando no cabeçote e 60 cv. O 303 vinha como carro de turismo, sedã Pullman e conversível Pullman, todos com câmbio manual de quatro marchas e tração traseira. O 304 era sua versão conversível com menor distância entre eixos. Os Tipos 305 e 306, de 1927, substituíam os modelos iniciais e traziam motor de 3,4 litros com 65 cv. Já no ano seguinte a unidade motriz passava a 4,0 litros e 80 cv, trocando-se as denominações para Tipos 350 e 375. Com duas opções de entre-eixos, esses últimos mediam entre 4,72 e 5,25 metros de comprimento e pesavam de 1.920 a 2.200 kg.

Os grandes modelos de oito cilindros conquistaram elevada reputação no mercado germânico, tanto por sua precisão técnica quanto pela qualidade de construção. Mas a Grande Depressão iniciada em 1929 afetou gravemente as vendas da Horch — como as de todas as fábricas de carros de luxo —, já que mesmo os endinheirados viam-se em mau momento para ostentar riqueza em um bem como o automóvel. Continua

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Data de publicação: 19/7/11

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