Ligada à criação do automóvel por meio de um de seus fundadores — Karl
Benz projetou em 1886 o Benz Patent-Motorwagen,
considerado o primeiro carro —, a Mercedes-Benz conquistou uma reputação
de qualidade, requinte e avanços técnicos, mas nem sempre seus novos
modelos primaram pela inovação. Em algumas fases de sua história, a
tradição no estilo e nas soluções mecânicas falava mais alto, como
aconteceu com a série de código W08, mais conhecida pelo nome Nürburg,
apresentada no Salão de Paris de 1928.
Fazia apenas dois anos que a marca Mercedes-Benz havia surgido da fusão
da Mercedes (de propriedade da Daimler-Motoren-Gesellschaft) com a Benz
(da Benz & Cie.). Na época, sua linha compreendia os modelos familiares
8/38 (que adotaria o nome Stuttgart em 1928), 12/55 e 14/60 e os carros
esporte S, SS e SSK,
todos com motor de seis cilindros. Com o lançamento do Nürburg e, um ano
mais tarde, do Mannheim, logo seriam três os Mercedes batizados com
nomes de cidades germânicas. No caso do modelo tratado aqui, buscava-se
a alusão à robustez: no circuito de Nürburgring o carro passou por um
teste de 20 mil quilômetros em 13 dias.
Embora Ferdinand Porsche, que era desde 1923 seu diretor técnico e de
projetos, tenha sido responsável por numerosas inovações de engenharia
durante sua carreira, o alemão optou por soluções comprovadas ao
desenhar essa linha de Mercedes de luxo, que chegava ao mercado com a
versão 460. Era o primeiro carro de passageiros da marca com motor de
oito cilindros — primazia devidamente destacada em seus catálogos de
divulgação, que traziam um número oito dourado em destaque.
O Nürburg era conservador já no desenho, que não fugia aos padrões dos
carros da década de 1920: amplos faróis circulares junto à grade,
grandes para-lamas destacados, estribos, para-brisa e vidros laterais
pequenos e verticais, quatro portas com aberturas inversas (dianteiras
para frente e traseiras para trás, "suicidas") no sedã, rodas com raios
de madeira. A alta grade do radiador trazia a característica estrela de
três pontas "espetada" no topo e havia dois estepes nas laterais do
longo capô; o para-brisa podia ser basculado para frente para aumentar a
ventilação interna. Alguns traziam um grande baú fixado à traseira que
fazia as vezes de porta-malas. No interior, os cinco mostradores vinham
na parte central do painel.
A versão mais representativa da série era um sedã de quatro portas com
seis janelas laterais e dois ou três bancos inteiriços, que podiam levar
até sete pessoas em conforto. Imponente, ele media 5,20 metros de
comprimento, 1,76 m de largura, 1,90 m de altura e nada menos que 3,67 m
de distância entre eixos — quase 1 m a mais que um carro médio de hoje —
e pesava 2.150 kg. Outra opção era o Cabriolet C, com duas portas que se
abriam para frente e capota conversível de lona. Baseado no chassi
menor, identificado pela letra K (Kurz ou curto em alemão), era um pouco
menor: 4,95 m de comprimento e 3,43 m entre eixos.
Interessados em dirigir a céu aberto com mais espaço tinham à disposição
o Cabriolet D, com dois bancos inteiriços para até cinco pessoas e
quatro portas de abertura convencional, para frente. Ainda mais longo
que o sedã, chegava a 5,38 m e usava o mesmo entre-eixos de 3,67 m.
Finalmente, o Sport Roadster era o mais jovial da linha, um conversível
de dois lugares em que as duas portas eram recortadas na parte superior.
Suas dimensões seguiam as do Cabriolet C.
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