A forma definida pela função

A Allard fez carros esporte e de competição que, se não cativavam em
estilo, aceleravam muito com o baixo peso e os potentes motores

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: Allardregister.org e divulgação

Finalizado pouco depois da guerra, o J1 tinha carroceria estreita, motor Ford de 3,6 litros e inovadora suspensão dianteira com eixo dividido

Mais famoso Allard, o J2 (também na foto do alto) foi bem recebido nos EUA, onde ganhava motores Cadillac e Chrysler V8 de alto desempenho

Na década de 1930, em Londres, o inglês Sydney Allard vendia carros da Ford na concessionária da família, mas sua verdadeira paixão era pelas corridas — em especial as de trial, comuns na época, em que o desafio era cumprir longas jornadas nos pouco robustos automóveis de então. Depois de competir sem muito êxito com triciclos Morgan e carros Ford, incluindo ralis e subidas de montanha, ele decidiu construir o próprio veículo.

Concluído em 1937, o Allard Special associava um chassi Ford encurtado, com sua mecânica V8, a uma parte da carroceria de um Bugatti tipo 51. A curiosa mistura mostrou-se competitiva nos ralis e provas de montanha, o que levou Sydney a fazer mais 11 delas para amigos, usando motor V8 da Ford ou V12 da Lincoln. A atividade foi suspensa durante a Segunda Guerra Mundial, mas assumiu caráter profissional em fevereiro de 1945: fundada a Allard Motor Co., o construtor passava a desenvolver um carro esporte de dois lugares a ser produzido em uma pequena instalação em Clapham, perto da capital inglesa.

Em janeiro de 1946 estava pronto o Allard J1, um roadster essencial com carroceria estreita, capô longo, cabine quase sobre o eixo traseiro e para-lamas dianteiros separados do corpo. Não era um carro bonito, pois não surgira com esse objetivo: Sydney Allard queria um modelo funcional, sem preocupações estéticas. Inovador em suspensões, ele adotou um eixo dividido para a dianteira, desenvolvido a partir do eixo rígido com molas semielíticas transversais da Ford. Na traseira o eixo rígido era mantido.

Também da marca norte-americana vinha o motor usado no J1, um V8 de 3,6 litros com cabeçote chato (flathead), ou seja, válvulas laterais e potência de 85 cv. Até 1948 foram feitos 13 desses carros, que conquistaram vitórias em competições como os Ralis Alpino (1947 e 1949), de Lisboa (1947 e 1948) e de Monte Carlo (1949 e 1950).

A fórmula daquele primeiro modelo era aprimorada para o J2, o mais conhecido Allard, apresentado em 1949. As proporções da carroceria (de alumínio, aplicada a uma armação de madeira e esta ao chassi de aço) não mudavam muito, mas havia novidades como estepe lateral, em vez de montado na traseira, e pequenos defletores em forma de meia-lua diante do motorista e do passageiro para fazer as vezes de para-brisa. No interior simples, o painel tinha os instrumentos espalhados por uma chapa metálica e o volante usava quatro raios equidistantes.

Com dimensões semelhantes às do antecessor — e a mesma distância entre eixos de 2,54 metros —, o J2 estreava a suspensão traseira independente do tipo De Dion, elaborada por Sydney, que o deixava 10 anos à frente dos concorrentes de pista ainda equipados com eixo posterior rígido. Na dianteira permanecia o eixo dividido já visto no J1. O câmbio manual de três marchas ainda não tinha sincronização na primeira, a tração era traseira e freios a tambor Lockheed seguravam as rodas de 16 pol com pneus 6,25-16.

Que motor movia o J2? Vários. Das 90 unidades produzidas, grande parte foi exportada para os Estados Unidos sem propulsor, para que lá recebesse um da marca desejada pelo cliente — ou até mesmo fosse vendido sem motor para sua instalação posterior. Os mais comuns eram Cadillac e Chrysler Hemi, ambos V8 com cilindrada de 331 pol³ (5,45 litros). O primeiro fornecia potência bruta de 160 cv, e o outro, de 180 cv, e o da Cadillac permitia usar até caixa automática. Outras alternativas eram o Mercury 3,9 com 100 cv, uma variação com cabeçotes preparados Ardun (140 cv) e o mesmo motor ampliado para 4,4 litros (120 cv).

Com o peso a seco de apenas 770 kg, é de se imaginar a desenvoltura com que esses V8 moviam o Allard. Dados não oficiais chegam a apontar velocidade máxima de 208 km/h e aceleração de 0 a 80 km/h em 5,5 segundos com o V8 Cadillac. Concessionárias Ford na Inglaterra vendiam o esportivo e havia representantes em outros países, apesar da pequena quantidade produzida. Sua aceitação entre os norte-americanos foi grande, como acontecia no período com outros carros esporte britânicos. O próprio Sydney e Tommy Cole levaram um J2 com motor Cadillac à 24 Horas de Le Mans em 1950 e conseguiram o terceiro lugar. O modelo foi vendido por dois anos. Continua

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Data de publicação: 24/5/11

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