A conquista da América

Ao ganhar produção nos Estados Unidos e na América do Sul, os
Renaults 9 e 11 ampliaram o conceito de carro mundial na marca

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Robert Opron, projetista de ousados Citroëns, teve de optar por linhas tradicionais no R9, o que não impediu seu sucesso tão logo foi lançado

Quatro faróis e vidro traseiro envolvente deixavam o R11 mais atraente; a versão Turbo (em vermelho) tinha motor de 1,4 litro com bons 105 cv

A década de 1970 foi decisiva para implantar, na indústria automobilística, o conceito conhecido como carro mundial. Embora desde o início da história do automóvel tenham existido modelos vendidos em vários continentes, foi naquele período que os fabricantes passaram a considerar a aceitação global como item determinante desde o começo do projeto.

No caso da francesa Renault o médio-grande R18, lançado em 1978, foi o primeiro concebido dentro dessa estratégia. Quando ele chegou às ruas a empresa já trabalhava em dois modelos de menor porte, também voltados a diferentes mercados, a fim de substituir o R14. O hatchback R11 e o sedã de três volumes R9 foram desenhados pelo francês Robert Opron, então chefe de estilo da marca, e projetados já com auxílio de computadores para uma produção com certo grau de automação. A proposta da Renault era que eles atendessem tanto aos mercados europeus quanto ao norte-americano, onde seriam produzidos por uma associação firmada em 1979 com a American Motors Corporation (AMC).

Responsável por desenhos bastante ousados durante sua atuação na Citroën, como o SM e o CX, Opron teve de ser conservador dessa vez: a necessidade de satisfazer a um grande público de ambos os lados do Atlântico, com preferências tão diversas, levou a Renault a preferir linhas convencionais. Assim, o R9 surgiu com elementos de estilo simples e comuns a seu tempo, como dois faróis retangulares, para-choques plásticos envolventes, a tampa traseira à mesma altura do capô, vidros amplos e os dianteiros sem quebra-ventos. O capô abrangia parte das laterais e o coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,37 era adequado para a época. Leve ousadia era notada, no hatch R11, nos quatro faróis menores e no vidro traseiro envolvente.

O R9 foi o primeiro a ser lançado, no Salão de Frankfurt em setembro de 1981; o R11 o seguiu apenas em meados de 1983, com versões de três e cinco portas em simultâneo. Nos acabamentos superiores havia requintes como painel com instrumentos digitais, comandos de áudio junto ao volante e — inovação na marca — um sistema de verificação com mensagens de voz que avisava sobre portas mal fechadas, superaquecimento do motor e outros pontos de atenção. O hatch media 3,98 metros de comprimento e o sedã 4,06 m, ambos com largura de 1,65 m, altura de 1,40 m e distância entre eixos de 2,48 m. O peso variava entre 805 e 950 kg.

Ambos compartilhavam os motores disponíveis. As unidades mais vendidas eram as veteranas da linha C, com comando de válvulas no bloco, em versões de 1,1 litro e 48 cv e 1,4 litro com 60 cv, alimentadas com carburador. Por outro lado, havia opção pelo Turbo, o motor 1,4 com 105 cv e torque de 16,4 m.kgf obtidos com o auxílio de um turbocompressor, o que trazia desempenho muito interessante: máxima de 185 km/h e 0-100 em oito segundos. Uma opção a diesel de aspiração natural foi oferecida da linha 1983 em diante: a GTD, com apenas 55 cv de 1,6 litro. Uma unidade de maior cilindrada, a 1,7-litro desenvolvida em parceria com a sueca Volvo, era adotada no ano seguinte nas versões GTX, GTE, TXE e Electronic, sendo a primeira com carburador e 90 cv e as três últimas dotadas de injeção e 95 cv.

Apesar dos motores menores já superados, a concepção mecânica desses franceses era moderna para seu tempo, com propulsor transversal (pela primeira vez em uma unidade Renault, já que no R14 o motor era Peugeot), tração dianteira e suspensão independente nas quatro rodas, por meio do conceito McPherson à frente e de uma típica solução francesa (braços arrastados com barras de torção) na traseira. O mercado europeu oferecia forte concorrência a esses Renaults, que competiam com Citroën GS, Fiat Ritmo, Ford Escort, Opel Kadett, Peugeot 305, Talbot Horizon e Volkswagen Golf, entre outros.

Como previa o projeto, em junho de 1982 a AMC começava a produzir o R9 como Renault Alliance — nome sugestivo para essa aliança entre EUA e França — com opção entre duas e quatro portas, além de um conversível. Entre as diferenças para o original francês estavam os quatro faróis menores e recuados (protegidos em pequenas colisões, como exigia a legislação), para-choques mais salientes e robustos (também por força da lei) e o interior redesenhado por Richard Teague, da AMC. Continua

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Data de publicação: 9/11/10

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