Miniatura de Ferrari para as ruas

Sem poder usar o carismático nome da empresa que o projetou, o
ASA 1000 GT teve vida breve em um mercado que exige tradição

Texto: José Geraldo Fonseca - Fotos: Supercars.net, RM Auctions e divulgação

Inspirado no Ferrari 250 Lusso, o ASA 1000 GT tinha linhas agradáveis; o comendador apenas mandou desenhar o carro para vender os direitos

Interior bem-acabado com painel completo, rodas Borrani fixadas pelo centro e motor com 1,0 litro, comando no cabeçote e dois carburadores

Na década de 1950 existiam dezenas de fabricantes de carros esporte na Itália, que podiam ser divididos em dois grupos. De um lado, marcas como Ferrari, Alfa Romeo e Maserati, de grande prestígio e alto preço, que usavam motores quase sempre entre seis e 12 cilindros, cilindradas relativamente altas e carrocerias desenhadas pelos mais conceituados projetistas, tais como Pininfarina, Bertone e Ghia. Do outro lado, pequenos fabricantes, que em geral empregavam motores entre 850 e 1.000 cm³, em boa parte derivados da Fiat, e carrocerias de autoria de projetistas não tão conhecidos.

Eram os chamados Etceterini, entre os quais estavam Bandini, Conrero, Ermini, Giannini, Giaur, Gilco, Moretti, Nardi, OSCA, Paganelli, Siata e Stanguellini. Por isso, não foi de se estranhar quando Enzo Ferrari anunciou, em 1959, que a empresa havia construído um motor de quatro cilindros com 850 cm³ e potência de 80 cv a 7.000 rpm. O motor foi instalado por Scaglietti na dianteira de uma versão modificada do Fiat Coupé 1200. Chamado de 854, o carro foi usado para uso pessoal do comendador. No entanto, muito além dessa função, o real objetivo do modelo era realizar testes para que a Ferrari pudesse desenvolver um carro compacto, capaz de participar do crescente mercado de esportivos com motores pequenos.

A marca de Modena, com receio de que um veículo de menores custo e potência pudesse manchar sua áurea de exclusividade, não pensava em lançá-lo no mercado com sua própria marca, mas sim em oferecer o projeto e o fornecimento de peças para terceiros. Consultada, a Fiat não se interessou, pois tinha outros programas em andamento. Também foi oferecido à fábrica de armas Beretta, que já havia se interessado antes em entrar no mercado de carros. De fato, no fim da década de 1940, a Beretta chegou a produzir três protótipos de um cupê com motor Benelli. Confiante na possibilidade do negócio com a empresa bélica, o logotipo do 854 tinha forma de metralhadora. Mais uma vez, contudo, a Beretta decidiu não se arriscar nesse setor.

Com o objetivo de captar possíveis interessados no empreendimento, a Ferrari fez uma encomenda confidencial à Carrozzeria Bertone. O resultado foi que no Salão de Turim de 1961, no estande da encarroçadora, apareceu um novo carro esporte, sem marca, que tinha um pequeno logotipo tricolor retangular com a palavra "Mille" (o número 1.000 em italiano) em azul sobre fundo amarelo, lembrando o logotipo do cavalo empinado da Ferrari. A carroceria foi desenhada pelo jovem Giorgetto Giugiaro em seu primeiro trabalho como projetista da Bertone, empresa que também foi responsável pela construção do carro.

O desenho simples e agradável se inspirava no do Ferrari 250 GT Lusso, com dois faróis destacados nos para-lamas mais altos que o capô, grade dupla de perfil baixo, laterais "limpas" e uma traseira baixa com quatro lanternas circulares. O interior luxuoso trazia painel com sete instrumentos e volante de madeira Nardi, que acionava uma caixa de direção de pinhão e cremalheira. Destaque entre os comandos eram os pedais ajustáveis. Atrás dos bancos dos dois ocupantes existia um amplo espaço para levar malas. O chassi era típico Ferrari, projetado pelo engenheiro Giotto Bizzarrini: estrutura tubular com seção longitudinal elítica e reforços transversais também elíticos. Apesar da decisão da Ferrari de não permitir o uso do logotipo com o cavalo empinado no novo carro, ele foi logo apelidado de "Ferrarina" ou pequena Ferrari.

O motor, que não foi mostrado no Salão porque não tinha registro na Anfia (Associazione Nazionale delle Fabbriche di Automobili e Affini, Associação Nacional de Fábricas de Automóveis e Afins), não era outro senão a evolução do quatro-cilindros de 850 cm³ montado no protótipo. No entanto, a cilindrada havia sido aumentada para 1.032 cm³, em um motor quadrado de 69 x 69 mm, obtido com o aumento do diâmetro dos cilindros e do curso dos pistões. O único comando, no cabeçote de liga leve, acionava duas válvulas por cilindro. A alimentação era por dois carburadores de corpo duplo Weber DCOE 40. Com 91 cv a 6.800 rpm, era o motor de 1,0 litro mais potente do mundo à época. O torque máximo atingia 10,4 m.kgf a 5.500 rpm. O desempenho era surpreendente para o tamanho do motor: 185 km/h de velocidade máxima e aceleração de 0 a 100 km/h em 14 segundos. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 6/7/10

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade