Contornos barrocos

Os franceses também tiveram seu período de excentricidade em linhas
aerodinâmicas, do qual a Delahaye participou com o modelo 135

Texto: José Geraldo Fonseca - Fotos: divulgação


O 135 M Torpedo com carroceria Figoni et Falaschi, de 1937, é um bom exemplo dos estilos extravagantes aplicados ao chassi do Delahaye


Cupês e conversíveis foram feitos também com base no 135 MS, em que o motor de seis cilindros fornecia 135 cv; nas fotos, modelos Figoni

Hoje em dia, quando pensamos em automóveis franceses, quase sempre nos vêm à mente carros destinados à classe média produzidos em grande escala. Raramente nos lembramos de imediato de algum carro francês atual feito para o topo do mercado de luxo. Embora o automóvel de série mais caro da atualidade seja produzido na França, o Bugatti Veyron muitas vezes é confundido como sendo italiano, devido ao nome, ou alemão, devido ao grupo ao qual pertence, Volkswagen.

Mas isso nem sempre foi assim. No passado, alguns dos mais respeitados nomes da indústria de carros de luxo eram franceses. Havia, além da própria Bugatti, marcas como Delage, Bucciali, Talbot-Lago, Voisin e Delahaye. Esta última foi a base para algumas das carrocerias mais extravagantes jamais vistas. Boa parte dessas carrocerias foi realizada sobre o chassi que tornou, à época, a Delahaye conhecida para os aficionados em carros de luxo: o 135. Era a fase de ouro para os encarroçadores franceses, e entre os mais famosos estavam os que seguiam o chamado estilo aerodinâmico francês. Os carros desse estilo não chegavam a ser frutos de grandes pesquisas técnicas, como eram alguns veículos alemães e norte-americanos do mesmo período, que traduziam em significantes melhoras no coeficiente aerodinâmico. Eram frutos de estudos mais intuitivos, com a utilização de rodas cobertas por saias laterais, para-lamas elaborados, painéis frontais e para-brisas inclinados, resultando muito mais em um visual arrojado — às vezes chegando ao barroco — do que em uma significativa diminuição do atrito com o ar.

A Delahaye não surgiu com o 135. A empresa havia sido fundada em 1845, inicialmente produzindo equipamentos para o fabrico de tijolos. Mais tarde, lançou-se no mercado de motores estacionários. Os primeiros automóveis da marca só viriam a surgir em 1894. Durante algumas décadas, a empresa se dedicou à produção de carros sem grandes destaques, tornando-se famosa como fabricante de caminhões, em especial de bombeiros. Também produzia veículos blindados. Antes do 135, teve certa importância entre seus carros apenas o modelo 44, de 1911, pelo fato de ter sido um dos primeiros do mundo com motor V6. A marca somente lançou-se no mercado de automóveis de alto prestígio na década de 1930, com a nomeação, pelo então proprietário Charles Weiffenbach, de Jean-François como engenheiro chefe da empresa.

Logo após, apareceram dois carros com motor de seis cilindros em linha, o Coupe des Alpes (de 3,25 litros) e o 135 (de 3,6 litros). Exibido pela primeira vez no Salão de Paris de 1935, o 135 foi uma menor, mais potente e esportiva versão do modelo 18 HP, o qual substituía. O motor, derivado do empregado nos caminhões da empresa, era fornecido em vários estágios de potência. A versão 135 M (de Modifié, modificado) era caracterizada por um ou três carburadores, que resultavam em rendimento de 95 e 115 cv, na ordem. Superior a esta era a versão 135 MS (de Modifié Speciale), com 135 cv. O mais potente dos 135 era o Competition, que chegava aos 160 cv. Como exemplo do desempenho de que os 135 eram capazes, um exemplar bastante famoso à época foi o 135 Competition realizado em 1936 para o membro da família real tailandesa Birabongse Bhanutej Bhanubandh (príncipe Bira). Praticamente um carro de corridas com uso permitido nas estradas, ele chegava a 200 km/h, o que o levou a receber o título de carro de rua mais veloz existente na Grã-Bretanha à época.

Mesmo as outras versões eram bastante velozes para os padrões de então, sendo que o 135 MS era capaz de atingir 160 km/h, desempenho que o incluía entre os carros de produção mais velozes do mundo. Com todo esse potencial, não é de se estranhar que os Delahayes tenham conseguido muitas conquistas nas competições, o que auxiliou bastante na divulgação da marca, incluindo vitórias em Le Mans, no Rali de Monte Carlo e no GP de Pau. Mas não apenas carros esporte foram feitos sobre o chassi 135: sofisticados sedãs para quatro pessoas também existiram. Os detalhes técnicos do motor do 135 incluíam válvulas sobre o cabeçote (muitos motores da época usavam-nas em posição lateral ao bloco), que era feito de liga leve, carburadores Solex e taxa de compressão que chegava, dependendo da versão, a 8,4:1. Continua

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Data de publicação: 8/6/10

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