Lançada em 1990, a versão conversível vinha com comando manual da capota, que era apenas guardada sob a cobertura por sistema elétrico

"As pessoas vão notar", convidava a publicidade; no interior, um painel eletrônico e sofisticado; o volante passava a ter bolsa inflável em 1990

Rodas de 16 pol, nova caixa automática e mais 5 cv no modelo 1991 não ergueram as vendas do Reatta, que saiu de produção naquele ano

O que no Wildcat eram faróis, no Reatta embutia as luzes de posição (brancas) e de direção (em tom âmbar). Os faróis em si eram escamoteáveis. Remota semelhança entre conceito e modelo de produção, as colunas dianteiras negras vinham cobertas pelos vidros que elas separavam. As colunas traseiras embutidas no Wildcat viraram colunas tradicionais que ligavam o restante da carroceria ao teto. As lanternas formavam uma peça inteiriça de lado a lado do carro, parcialmente interrompidas no meio pelo retângulo aprofundado onde a placa de licença era instalada. Acima dela, em vez de um logotipo, o nome da marca vinha por extenso. O que era ousadia pura no Buick futurista deu lugar a discrição e elegância no Reatta. Os excessos do estilo norte-americano passavam longe dele. Com traços simples, leves e modernos, o cupê passaria tranquilamente como um modelo europeu ou japonês. Pelo menos por fora...
 
Em vez do painel com instrumentos agrupados num círculo concêntrico ao volante (sem raio algum) e botões satélites a este, solução adotada pelo Wildcat, o modelo de produção tinha um painel retangular bem realista. Por uma questão de custos, era o mesmo do Riveira. O volante de três raios rendia boa visibilidade. O quadro de mostradores era caracterizado por instrumentos eletrônicos e o Electronic Control Center, uma tela sensível ao toque em que sistema de áudio, ar-condicionado e outras funções do carro eram controlados. Não havia um compacto banco traseiro para crianças, ao estilo 2+2, mas sim dois porta-volumes no assoalho. Acima deles ainda havia bastante espaço para bagagem. Uma portinhola ligava habitáculo e porta-malas. Apenas três opcionais eram oferecidos: teto solar com acionamento elétrico, revestimento de couro dos bancos e ajuste elétrico do banco do motorista.
 
A discrição também permeou toda a base mecânica do modelo. A plataforma era a mesma do Riveira, de tração dianteira, só que encurtada até um entre-eixos de 2,50 metros. O Reatta media 4,64 metros de para-choque a para-choque, 1,85 m de largura e 1,30 m de altura. Pesava 1.525 kg. O motor era o clássico V6 de 3,8 litros com comando no bloco da marca, em posição transversal, com potência de 165 cv e torque de 29 m.kgf. A injeção multiponto sequencial dava o toque de modernidade, enquanto uma árvore de balanceamento garantia a operação macia desejada em sua classe. Em esquema de transeixo vinha a caixa de câmbio automática de quatro marchas. Na suspensão independente, o eixo dianteiro usava um sistema McPherson com molas helicoidais, enquanto o de trás adotava um feixe de molas transversal de plástico e fibra de vidro. As quatro rodas dispunham de freios a disco, embora ventilados só na frente, com sistema antitravamento (ABS). As rodas de alumínio de cinco raios e 15 pol eram bonitas e discretas, calçadas por pneus Goodyear 215/65 R 15 já sem o desgastado modismo norte-americano das faixas brancas.

Em teste da revista Motor Trend o Reatta acelerou de 0 a 96 km/h em 9,3 segundos. A Popular Science comparou-o ao Allanté e ao Mercedes-Benz 560 SL, um desafio desigual quanto aos preços, pois o Buick custava cerca de US$ 26 mil, ante US$ 57 mil do colega de corporação e US$ 61 mil do adversário germânico. Mesmo assim, o Reatta mostrou o melhor comportamento dinâmico e foi elogiado pelo interior confortável e o rodar macio. Já o desempenho revelou-se bastante inferior ao do Mercedes e houve críticas ao nível de ruído do acabamento interno. A revista concluiu: "Pela metade do preço do Allanté ou do 560 SL, o Reatta atingiu o objetivo de combinar o interior de um carro de luxo nacional a um pouco do caráter e do estilo de um carro esporte". A expectativa de vendas da Buick era de 20 mil unidades anuais, com mínimo previsto de 10 mil. Pois apenas 4.708 encontraram donos nesse primeiro ano. Credita-se o pouco respaldo comercial ao preço considerado alto demais pelo que o carro oferecia.
 
Em 1989 a forração de tecido básica dos bancos foi abolida e o travamento das portas passou a ter sistema remoto. No ano seguinte o Reatta conversível finalmente foi lançado. A última vez que a Buick havia oferecido um modelo aberto fora cinco anos antes, quando o Riviera dispôs de tal versão, a única de sua história. Mas desde 1975 nenhum conversível era produzida na própria Buick, ainda mais de modo artesanal. A nova versão custava 23% a mais que o cupê. Sua capota de tecido, rebatida e fechada à mão, tinha janela traseira de vidro com desembaçador elétrico. Um controle elétrico apenas a escondia sob uma cobertura tonneau. Bolsa inflável para o motorista foi acrescida à lista de equipamentos das duas versões, implicando no redesenho do volante, e centro de controle eletrônico do painel foi trocado por comandos convencionais de ar-condicionado e áudio. Os instrumentos eletrônicos deram lugar a outros fluorescentes a vácuo, que imitavam os de sistema analógico. Além de mais racional, o novo painel tinha uma aparência em maior sintonia ao desenho externo do modelo.

As previsões de venda da Buick estimavam que ele corresponderia a metade das vendas do Reatta, mas sua produção seria bem mais minguada que a da versão fechada. No melhor ano de vendagem, 1990, foram 8.515 carros somando as duas versões e apenas 2.132 eram conversíveis. De nada adiantaram os 5 cv extras do modelo 1991, que ainda trouxe caixa de câmbio com controle eletrônico para maior suavidade e novas rodas de 16 pol. O preço do Reatta conversível equivalia ao de dois Miatas, este sim uma sensação no mercado norte-americano da época, simples e divertido. Foi o ano derradeiro do modelo. Até maio de 1991, quando o Reatta saiu de linha, foram concluídos 21.850 exemplares, 10% dos quais conversíveis. Há duas leituras possíveis a se fazer. Uma é que ele foi mais um fracasso de vendas da General Motors e de Detroit, um equívoco de marketing que não conseguiu laçar compradores por querer ocupar um nicho sem que, na verdade, houvesse uma proposta muito clara para ele. Tudo isso é verdade, mas não conta a história toda.
 
Num mercado tão grande quanto volátil como o norte-americano, a estimativa de crescimento de um segmento ou de demanda para um novo nicho pode surgir, ganhar força, perdê-la ou até desaparecer com mais rapidez que o tempo que leva para se desenvolver um projeto. Para a marca dos três escudos e para os admiradores de belos carros norte-americanos que romperam padrões, o Reatta merece um espaço de destaque. Mal foi lançado e a fórmula de bons atributos com reduzida produção já indicava um futuro clássico. Esportivos que também começaram com motores amenos, como Chevrolet Corvette e Ford Thunderbird nos anos 50, havia anos eram disputados. Mais exemplares do raro Kaiser-Darrin foram produzidos que do Reatta conversível. Pela exceção e pela raridade que representou, o último Buick de dois lugares pode figurar em qualquer garagem de colecionador como um símbolo dos infortúnios e da inventividade de uma época singular.

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