Com uma fina carroceria de alumínio, o Competizione Speciale (modelo vinho) deu origem ao GTB/C, um 275 mais potente e 150 kg mais leve

Mesmo desenho, mais vigor: o 275 GTB/4, com duplo comando e seis carburadores, ia aos 330 cv e estava entre os mais velozes da época

O pedido especial do revendedor Chinetti levou ao Spider NART, série de 10 unidades conversíveis; uma delas valeu US$ 4 milhões em leilão

Antes disso, ainda em 1964, aparecia o conversível 275 GTS (de Spider) com foco no mercado norte-americano. Não era uma simples versão aberta do GTB, mas um carro de desenho próprio, com carroceria construída pela própria Pininfarina. Ele buscava um perfil mais comportado de grã-turismo, um carro confortável para longos percursos, sem o caráter fortemente esportivo do cupê. As linhas muito elegantes incluíam uma grade longa e ovalada, faróis em destaque em relação ao capô baixo, saídas de ar nos para-lamas dianteiros e uma traseira longa e baixa. Rodas raiadas com fixação por um só elemento central (cubo rápido) davam o toque final. A versão foi produzida por dois anos e deu lugar ao 330 GTS, deixando a linha 275 sem opção a céu aberto.

Enquanto isso, o cupê foi às pistas. A Ferrari não havia concebido a série 275 com tal intenção, mas foi forçada a rever sua posição quanto o 250 LM de motor central-traseiro não pôde ser homologado para competir. Surgiu assim o 275 GTB Competizione Speciale, que teve apenas quatro unidades construídas com componentes mais leves e o motor do 250 LM na posição habitual dianteira. Ao contrário do que o número 250 indicava, o LM já contava em 1963 com um V12 de 3,3 litros e 320 cv. No Speciale essa usina de força foi associada a um novo desenho, com frente inspirada na do 330 LMB, para-lamas mais largos e dimensões gerais menores. A carroceria de alumínio usava painéis tão finos que poderia amassar só de se olhar feio para ela...

O chassi também teve o peso aliviado por tubos mais finos, e o motor e câmbio, pelo extenso uso de magnésio. O Competizione ficou com apenas 870 kg, mas isso trouxe dificuldades à Ferrari para obter sua homologação — o carro estava leve demais em comparação ao 275 de rua. Depois que o comendador Enzo muito protestou, chegando a ameaças de abandonar as competições, a homologação foi dada com a condição de que o carro recebesse lastros para chegar a 978 kg. A melhor atuação da versão foi na 24 Horas de Le Mans de 1965, em que a equipe belga Ecurie Francorchamps chegou em primeiro lugar na classe GT e em terceiro na classificação geral. Após a temporada, a Ferrari apresentou na linha 1966 a edição especial 275 GTB/C, voltada tanto a corridas quanto ao mercado comum.

Embora lembrasse muito o GTB básico, todos os painéis de carroceria eram inéditos e havia importantes diferenças do ponto de vista técnico. Usando aço e alumínio, Mauro Forghieri desenhou um chassi mais leve e a carroceria de Scaglietti, toda de alumínio, usava chapa bem mais fina. A combinação deixava a versão 150 kg mais leve que o 275 de alumínio do qual derivava. O motor herdado do 250 LM e do Competizione Speciale, mesmo com apenas três carburadores Weber 40 em vez de seis unidades 38, vinha preparado com comando de válvulas "bravo" e outras alterações para fornecer 300 cv a 8.000 rpm e 30 m.kgf a 6.000 rpm. Havia ainda diferencial autobloqueante, freios a disco maiores, rodas mais largas com pneus 205/80 R 14, janelas laterais em plástico (Plexiglas) e para-lamas alargados. A velocidade máxima estava acima de 255 km/h e bastavam 6,3 segundos para passar de 0 a 100. Das 12 unidades do GTB/C, duas foram vendidas para uso em rua e as demais foram a competições.

Mas a Ferrari ainda tinha problemas nas ruas. Enquanto a Lamborghini apresentava o mítico Miura, outras novas concorrentes se armavam — a Maserati com o Ghibli, a Iso com o Grifo, a Bizzarrini com o 5300 GT Strada. Maranello tinha de responder à altura. Enquanto um carro todo novo não saía do forno, o 275 passava por sua última evolução no Salão de Paris de 1966 com o GTB/4, número alusivo ao duplo comando de válvulas em cada bancada de cilindros, em total de quatro árvores. O motor Colombo, amplamente revisto, vinha com seis carburadores Weber 40 agora eram padrão e a lubrificação usava cárter seco. A potência de 330 cv a 8.000 rpm e o torque de 33,1 m.kgf a 6.000 rpm deixavam o GTB/4 entre os carros mais velozes de sua época, a 265 km/h. Na transmissão havia um novo tubo de torque entre o motor e o câmbio, os sincronizadores da caixa passavam a ser do tipo Porsche para engates mais precisos e a versão estava também melhor em ruídos e vibrações. Bitolas mais largas aumentavam a estabilidade. Ainda a cargo da Scaglietti, a carroceria mantinha as belas formas do 275 de frente longa, com a adição um ressalto no capô para acomodar o motor maior.

O GTB/4 não teve versões conversíveis na Europa, mas o maior revendedor Ferrari nos Estados Unidos, Luigi Chinetti, pediu a Enzo um lote nessa configuração. Como o comendador disse não, Luigi pediu a conversão das carrocerias diretamente a Sergio Scaglietti. De uma forma ou outra, o carro saiu
— e foi muito elogiado na imprensa. Foram feitas só 10 unidades entre 1967 e 1968, vendidas sob a sigla NART, de North American Racing Team, alusiva à equipe de competição em provas de grã-turismo com Ferraris que Chinetti mantinha desde 1958. Esses carros se tornaram valiosíssimas peças de coleção: um deles foi vendido por quase US$ 4 milhões em um leilão em 2005.

No total, a série 275 acumulou 970 unidades até o começo de 1968, sendo o GTB/4 o mais vendido com 320 exemplares. Seu sucessor, o 365 GTB/4 "Daytona", seria um dos Ferraris mais famosos de todos os tempos.

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