Espaço para a excentricidade

Desde os anos 80 a alemã Isdera produz, com mecânica Mercedes,
carros esporte de elevado desempenho que fogem ao comum

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O Erator GT de 1969, primeiro projeto independente de Schulz: aspecto de Ford GT40, "asas de gaivota" e motor Mercedes 5,0-litros de 420 cv

O conceito CW 311 de 1978, construído para a Mercedes, destacava-se pela aerodinâmica e, com motor de 6,9 litros e 375 cv, atingia 320 km/h

Um pouco maior e com motores mais modernos, o Imperator trazia para as ruas o CW 311; um "periscópio" no teto dispensava os retrovisores

Potentes e confiáveis, os motores V8 e V12 dos fabricantes alemães têm sido aplicados com sucesso pelos construtores de alguns dos carros mais rápidos do mundo. Na década passada houve o McLaren F1, com a unidade BMW V12 de 6,0 litros e 627 cv, e hoje o Pagani Zonda faz bom uso do Mercedes-AMG V12 de 7,3 litros em diferentes versões.

Bem antes deles, porém, outro fabricante de superesportivos recorreu aos motores de oito e 12 cilindros da marca da estrela de três pontas — e o fez com maestria. A Isdera surgiu pelas mãos de Eberhard Schulz, na cidade alemã de Leonberg, a poucos quilômetros de Stuttgart, no sul do país. Schulz, projetista da Mercedes por cinco anos, já havia trabalhado em dois outros carros de alto desempenho antes de abrir sua empresa. Em 1969 fizera o Erator GT, um cupê com certo jeito de Ford GT40 e motor Mercedes V8 de Classe S, com 5,0 litros e 420 cv.

Nove anos mais tarde desenvolveu o carro-conceito Mercedes CW 311, único modelo a levar o emblema da estrela sem ter sido construído nas instalações da fábrica. Assim denominado por apresentar o excelente Cx (Cw em alemão) de 0,311, era um compacto cupê de 4,10 metros de comprimento, linhas angulosas e perfil muito baixo, com saídas de escapamento laterais. Pesava 1.250 kg e trazia algo portentoso entre os eixos: o V8 de 6,9 litros do sedã 450 SEL 6.9, modificado para fornecer potência de 375 cv e torque de 58,2 m.kgf. Era o bastante para alcançar velocidade máxima de 320 km/h, mas o carro não chegou a entrar em produção normal.

Então Schulz abriu em 1982 a Isdera, nome que significa Ingenieurbüro für Styling, Design und Racing, ou "engenharia para estilo, projeto e competição" em alemão. Como se vê, sua atividade inicial era prestar serviços de engenharia a outros fabricantes. No entanto, o sonho de colocar o CW 311 nas ruas não foi esquecido: já em novembro do ano seguinte era formada a Isdera GmbH (limitada) e aparecia seu primeiro modelo, o Imperator 108i, que aproveitava grande parte do projeto que a Mercedes não quis produzir. Suas formas eram decisivamente ousadas, com o enorme para-brisa formando uma linha quase contínua com a frente, superfícies lisas ao extremo e notável preocupação com a aerodinâmica.

Seguia a escola do formato de flecha, iniciada em carros de produção pelo Lamborghini Countach de 1971, embora tivesse aparecido antes em conceitos do estúdio Bertone, onde Marcello Gandini (autor do Countach) trabalhou. As portas abriam-se para cima, como asas de gaivota, solução do clássico Mercedes 300 SL de 1954 que Schulz apreciava muito. Além do efeito visual, era uma boa solução para permitir que o chassi tubular de aço — como o do citado Lamborghini — tivesse largas e altas estruturas na região lateral inferior sem prejudicar o formato das portas convencionais. Os faróis eram fixos, não mais escamoteáveis como no CW 311.

Na carroceria de plástico reforçado com fibra-de-vidro, toda a seção traseira (iniciada logo após a coluna central) basculava para trás para acesso aos órgãos mecânicos. Apenas as lanternas traseiras com estrias horizontais faziam lembrar os conservadores carros que a Mercedes fazia na época. Contudo, o Cx do Imperator, 0,38, estava longe do resultado obtido pelo CW 311, apesar das formas suaves e do uso (como no conceito que o precedeu) de um periscópio na parte dianteira do teto para substituir os retrovisores externos. Maior que o conceito que lhe deu origem para ganho em espaço interno, o Isdera media 4,22 m de comprimento, 1,83 m de largura, apenas 1,13 m de altura e 2,49 m de distância entre eixos.

As primeiras unidades usavam o motor V8 original do Mercedes 500 SEC de 5,0 litros, duas válvulas por cilindro, 235 cv e 41,3 m.kgf, cujo desempenho não fazia jus à imagem de supercarro. Mais tarde, Stuttgart passou a fornecer propulsores mais adequados como o de 5,5 litros, 300 cv e 46,3 m.kgf do 560 SEC e os V8 de 32 válvulas elaborados pela AMG (então uma empresa independente), com 390 cv/53,5 m.kgf no 5,5 e 420 cv/57,6 m.kgf no de 6,0 litros. Em teste da revista alemã Auto Motor und Sport em 1987, o modelo de 390 cv alcançou 281 km/h na pista de Ehra-Leissen da Volkswagen e acelerou de 0 a 100 km/h em cinco segundos. Já não fazia feio diante do Countach Quattrovalvole e do Ferrari Testarossa. Continua

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Data de publicação: 1/9/09

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