Os Fords em miniatura

Pequenos e pouco potentes, Prefect e Anglia tiveram
papel fundamental na história da empresa na Inglaterra

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

A fábrica que a Ford construiu em 1931 em Dagenham, Essex, na Inglaterra, podia ser considerada a mais moderna do mundo fora de Detroit, Estados Unidos. Seus dois produtos iniciais — o Modelo Y e o Modelo C — eram os primeiros carros projetados especificamente para o mercado inglês, apesar de desenvolvidos na matriz americana. Seis anos depois o C era substituído pelo Eight (código 7Y), o primeiro Ford projetado fora dos EUA, com desenho britânico, versões de duas e quatro portas e motor de quatro cilindros e 933 cm³. Surgia também um modelo com 10 centímetros a mais na distância entre eixos e cilindrada de 1.172 cm³: o Ten ou 7W.

Esses modelos dariam origem aos primeiros Fords identificados por nomes, em vez de números, letras ou siglas: o Ten tornava-se Prefect, em 1939, e o Eight era renomeado Anglia no ano seguinte. O primeiro era disponível apenas com quatro portas e exibia acabamento mais caprichado, enquanto o outro, com duas portas e interior mais simples, seria por anos o carro mais barato do mercado inglês. Suas linhas os fariam conhecidos como os "Fords verticais", pois eram um tanto estreitos e altos. Pareciam versões em miniatura dos carros americanos da marca.

O quatro-portas Prefect em 1939 e o duas-portas Anglia (ao lado) em 1940: os sucessores dos modelos Ten e Eight usavam uma mecânica simples e custavam pouco

Os dois usavam os já conhecidos motores de quatro cilindros em linha e válvulas laterais (flathead, cabeçote plano), com cilindrada de 933 cm³ no Anglia e 1.172 cm³ no Prefect. Não havia bomba d'água — a circulação do líquido de arrefecimento era feita por termo-sifão — e uma manivela permitia a partida manual, caso a bateria de seis volts não resistisse ao inverno europeu. As potências de 23 e 30 cv, na ordem, eram suficientes para carros desse segmento de entrada, com velocidade máxima de quase 100 km/h.

Toda a mecânica era simples e sem inovações: câmbio de três marchas com primeira não sincronizada, eixos dianteiro e traseiro rígidos com feixes de molas semi-elíticas, freios a tambor da marca Girling com comando mecânico. O limpador de pára-brisa funcionava com o vácuo do coletor de admissão, o que o tornava lento quando o motorista exigia mais aceleração. Ao menos o Prefect contava com um reservatório para o manter ativo mesmo em longas subidas de pé embaixo.

Depois da guerra a produção era retomada com o desenho antigo (como no Prefect do alto da página), mas em 1949 vinham nova grade e faróis integrados aos pára-lamas, ao lado

Com a Segunda Guerra Mundial a produção era interrompida em 1941, mas retomada depois de quatro anos com as mesmas características de simplicidade. Em 1949, depois de 55.800 unidades produzidas, vinham alterações de estilo que os deixavam mais coerentes com as tendências pós-guerra. Os faróis eram reposicionados e nas colunas havia sinalizadores de direção. Nos quatro anos com essa aparência seriam feitos 108.800 exemplares dos dois modelos.

Ambos os automóveis e o pequeno furgão Fordson, da mesma linha, chegaram a ser vendidos nos EUA (sempre com o motor de 1,2 litro), apesar de sua inadequação se comparados aos modelos locais. O que a Ford aparentemente não viu foi logo percebido pelo consumidor americano: das 12 mil unidades que a marca esperava vender no primeiro ano, só 3.500 encontraram comprador. Não adiantou muito reduzir o preço, em 1949, para US$ 947 no caso do Anglia: após cinco anos no mercado, a contabilização não passava de 25 mil carros e furgões. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 2/5/06

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade