Polêmica teimosia

A Volkswagen alemã fez o Typ 4 em busca de um segmento
superior, mas pagou o preço de insistir no motor "a ar"

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O mote "parece, mas não é", imortalizado pela propaganda de xampu, aplica-se bem à linha conhecida como Typ 4 (Tipo 4 em alemão) que a Volkswagen produziu na Europa de 1968 a 1974. Qualquer brasileiro que os veja pensará que são modelos equivalentes a nossos 1600 TL e Variant, com os quais apresentam boa semelhança de desenho. A verdade, porém, é que esses alemães estavam bem à frente em termos técnicos dos nacionais citados. Seus reais equivalentes na matriz alemã foram os da linha Typ 3, iniciada em 1961.

Sete anos mais tarde, a empresa de Wolfsburg dava um passo importante com o sedã dois-volumes 411 (Typ 4 era seu código interno, sendo Typ 1 o Fusca e Typ 2 a Kombi). Lançado em agosto de 1968 com duas e quatro portas, era considerado o melhor projeto da empresa por seu presidente Heinz Nordhoff, que buscava obter uma imagem mais refinada e competir em segmentos ainda inexplorados por ela.

Com dois faróis ovalados ou quatro circulares, o 411 (ao lado) diferencia-se do 412 (acima) pela frente; as opções de duas e quatro portas existiram desde o início

A insistência no motor traseiro arrefecido a ar, porém, decepcionou a muitos que esperavam a adesão da VW à tendência mundial de "tudo à frente" e à refrigeração líquida. A revista alemã Auto Motor und Sport, em fevereiro de 1969, comparou o Typ 4 a cinco concorrentes — Fiat 125, Renault 16, Audi 80, Ford 17M e Opel Rekord — e colocou o VW em último lugar, lamentando que a empresa "torna-se cega para onde está indo o mundo automobilístico". A americana Car and Driver atacava, em abril do mesmo ano: "Wolfsburg parece ter decidido que tudo o que ela tem de fazer é produzir um Beetle maior", referindo-se à denominação local do Fusca.

As linhas do 411 seguiam de certo modo as do Typ 3 fastback, mas os faróis tinham forma ovalada e as dimensões eram maiores: 4,52 metros de comprimento, 1,63 m de largura, 1,48 m de altura e 2,48 m de distância entre eixos — o primeiro VW a não ter 2,40 m nessa medida. Além do espaço interno muito bom, seu acabamento era superior ao dos modelos menores da marca e havia boa dotação de itens de conforto. A versão L vinha com bancos dianteiros reclináveis com ajuste lombar, relógio, assoalho carpetado e encostos de cabeça.

De qualquer ângulo o 411 faz lembrar o TL da VW brasileira, mas sua mecânica era bem diferente: estrutura monobloco, suspensões como as de nossa Variant II e motor de 1,7 litro, que teve até injeção eletrônica

Um recurso único e muito apreciado era o aquecimento interno. Ao sistema habitual, que conduzia à cabine parte do calor do motor, a VW adicionara um ventilador elétrico para garantir o fluxo de ar quente mesmo em baixas rotações — e até sem a chave de ignição ligada. Era possível deixar o aquecedor funcionando por até 10 minutos, enquanto o motorista preparava-se para sair de casa, e então rodar com o interior já em temperatura agradável.

Ao contrário de todos os automóveis VW até então (exceção à Kombi, um utilitário), o 411 usava estrutura monobloco em vez de carroceria sobre chassi. Como era bem mais pesado que o Fusca e o Typ 3, com 1.020 kg, vinha com um motor mais potente. Também de quatro cilindros opostos (boxer), tinha carcaça e cilindros de alumínio e filtro de óleo como o usado nos dias atuais, em vez do de tela metálica do Fusca. A primeira versão, de 1.679 cm³ (diâmetro de 90 mm, curso de 66 mm) e dois carburadores, desenvolvia potência máxima de 68 cv a 4.500 rpm e torque de 12,8 m.kgf a 3.300 rpm. Continua

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Data de publicação: 7/2/06

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