Puro sangue azul

Se existe um grau máximo de sofisticação, exclusividade
e carisma, ele foi estabelecido pelo Bugatti Atlantic

Texto: Fabiano Pereira – Fotos: divulgação*

Um assombro. Assim pode ser descrita a experiência de dirigir um automóvel de um milhão de euros com 1.001 cv de potência, 127,4 m.kgf de torque, 0 a 100 km/h em menos de três segundos e 406 km/h de máxima — recordes mundiais de desempenho para um carro de série. Estamos falando do EB 16/4 Veyron, que resgata uma das mais célebres marcas de carros sofisticados que já existiu: a francesa Bugatti, hoje sob comando da Volkswagen. O Veyron estabelece novos patamares de desempenho, enquanto resgata a aura de carros de sonho que tiveram no Bugatti Atlantic o ápice em esportividade, estilo e exclusividade.

O Atlantic, que levava dois ocupantes, era uma série limitada do Type 57. Na verdade, seu nome completo era Bugatti Type 57SC Atlantic, uma idéia tão fascinante que ganhou luz própria e status de mito. Ele é encarado como um modelo à parte da família criada pelo italiano Ettore Bugatti de 1898 em diante, por seus atributos técnicos de ponta e, em especial, por seu desenho singular. Tanto que ficou conhecido apenas como Atlantic, nome que é atribuído a uma homenagem a Roland Garros. Este ás da aviação francesa na Primeira Guerra Mundial morreu num acidente no Oceano Atlântico.

A gama da família Type 57, ao se encerrar em 1940, contabilizava 710 unidades produzidas. Ela nascera em 1934 das pranchetas de Jean Bugatti, o filho de Ettore. A série de modelos sobre essa plataforma foi das mais variadas e criativas da marca e rendeu frutos como o também aclamado Atalante. Com enormes 3,3 metros de distância entre eixos, o carro usava um motor de oito cilindros em linha com duplo comando de válvulas, câmaras de combustão hemisféricas e 3.257 cm³ (diâmetro e curso de 72 x 100 mm), que também equipava a maior parte dos modelos 57. A potência era de 135 cv e a velocidade máxima de 153 km/h, marcas vibrantes para a época.

Do primeiro Atlantic não se tem notícia, mas o segundo (na foto), depois de mudar de cor várias vezes, foi restaurado conforme o padrão original de 1936

O propulsor do Type 57 era o mesmo do Type 59 de corrida, derivado do que equipava o Type 49, com profundas modificações no projeto original feitas por Jean Bugatti. Diferente dos motores de duplo comando acionado a corrente do Type 50 e do 51, o do Type 57 usava engrenagens para transmitir o movimento do virabrequim ao trem de válvulas. Inicialmente operados por cabos, os freios passavam para sistema hidráulico em 1938. As versões de rua pesavam em torno de 950 kg. Essa configuração básica do modelo estaria em 630 unidades das 710 de toda a série.

A versão 57S trazia em 1936 um chassi mais baixo e curto das pistas de corrida. O mesmo chassi seria usado no Type 57SC, que ainda saía de fábrica com compressor do tipo Roots, como no 57C de corrida, item que justificava a sigla SC (de supercharger, nome inglês desse equipamento). O desempenho sadio vinha por 160 cv. Apenas dois sairiam de fábrica com compressor, o que não impediria que a maior parte dos donos de 57S mandassem seus carros de volta a Molsheim, onde os Bugatti eram construídos artesanalmente, para a instalação do superalimentador. Os resultados iam de 175 a 200 cv.

O Atlantic foi apresentado em 1935, numa unidade ainda derivada de um chassi Type 57 convencional. O motor oito-cilindros já apimentado recebia uma injeção extra de ânimo, com carburador Stromberg UUR-2 e taxa de compressão de 8.5:1. A potência, colossal para os padrões dos anos 30, passava a 210 cv a 5.500 rpm. A tração era traseira e a caixa manual tinha quatro marchas. Continua

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* Modelo azul: foto Supercars.net - Data de publicação: 20/12/05

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