Tarifa mínima

Com o Balilla a Fiat errou na ideologia, mas formulou
seu primeiro carro pequeno de vendas generosas

Texto: Fabiano Pereira – Fotos: divulgação

Certos carros marcam a história do automóvel como um reflexo preciso do período em que foram fabricados, em que obtiveram alguma repercussão relevante. Mais do que representar avanços tecnológicos, têm maior valia como objeto de estudo do mercado, por servir de indicador da situação econômica, política e social de determinado país. Na Itália fascista, um dos mais notáveis exemplos foi o Fiat 508 Balilla.

No período entre guerras do século 20 a Itália, assim como outros países europeus, viu a política totalitarista ganhar força em meio à crise econômica que assolava o continente. Depois de perder os territórios que almejava e 700 mil vidas na Primeira Guerra Mundial, a Itália assistia as idéias de esquerda se difundir, enquanto o país emitia moeda e dependia de empréstimos estrangeiros para tentar restabelecer sua indústria e forças armadas. Rebeliões e invasões ocorriam em todo o território italiano.

Ao lado, o Balilla de 1932 em versão sedã: estilo discreto, pouco mais de três metros, menos de 700 kg. No alto, o modelo 508C de 1937

O Fascismo do Duce Benito Mussolini surgiu como uma solução de direita para a desorganização da esquerda, que não conseguiu reverter a situação em função das diversas vertentes que a constituíam. Industriais, comerciantes e proprietários rurais reforçaram e pavimentaram o avanço fascista. Nos anos 20 o poder reacionário, nacionalista e populista de Mussolini crescia gradativamente até o ponto da ditadura de extrema direita, paralelo à superpopulação do país.

Forçando a volta da velha ordem capitalista, o Duce conseguiu estabilizar a lira em 1927 e dar impulso à industrialização. Grandes obras, como auto-estradas e estações ferroviárias, ajudavam a forjar o plano de prosperidade. Nesse cenário propício para desenvolvimento de novos produtos, a Fiat viu a necessidade de criar um produto bem mais simples e acessível que seus sofisticados modelos até então comercializados. Seria algo semelhante ao compacto 509, introduzido em 1924, que vendeu mais de 90 mil unidades. Mas o novo modelo precisava ir além.

A oferta de conversíveis compreendia o Spider, ao lado, com duas portas, e o Torpedo, com quatro, sendo as dianteiras articuladas na parte de trás

O lançamento foi na Fiera Campionaria di Milano, equivalente a um Salão do Automóvel de Milão, em 12 de abril de 1932. O novo carro era chamado de 508 Balilla. O “sobrenome”, que vinha estampado na grade do carro, evidenciava a ideologia política por trás do novo modelo. Além de haver a Opera Nazionale Balilla (ONB), uma organização da juventude fascista, Balilla era um nome inspirado no jovem que iniciou uma revolução em Gênova, no século 18, jogando pedras nos austríacos que ocupavam a região na época.

Inicialmente, o 508 Balilla estava disponível em três tipos de carroceria. A Berlina, um sedã de duas portas para quatro ocupantes, era uma delas. Havia também o 508 Torpedo, um conversível de quatro portas com as duas dianteiras com abertura ao estilo suicida, e o Spider, com teto também retrátil, mas só dois lugares e apelo mais esportivo. O estilo era absolutamente discreto e lembrava a proposta do Austin Seven inglês, ou mesmo o Modelo T da Ford americana. Continua

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Data de publicação: 19/4/05

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