Valentia em embalagem compacta

Ao lado do Corvair e do Falcon, o Valiant revolucionou
Detroit e, de quebra, deu origem a um clássico brasileiro

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Em 1959 dois extremos marcaram a história do automóvel. De um lado, a mais exorbitante demonstração de estilo já feita por um fabricante de grande porte, o hollywoodianamente pomposo Cadillac Eldorado. De outro, um criativo exercício de compactação, o carismático e longevo Mini inglês. Mas um exemplo de equilíbrio raiou no fim do ano, quando os três maiores fabricantes americanos seguiram pela primeira vez a receita européia de dimensões, as menores em 30 anos de produção das três. Surgiam os compactos para 1960.

Não era obra do acaso. Detroit precisava responder à crescente demanda por importados, carros pequenos e mais racionais. Os menores americanos de 30 anos antes possuíam baús no lugar dos porta-malas e seus compartimentos de passageiros eram caixas com pára-brisa quase vertical. Portanto, os novos compactos eram realmente inovadores. No elenco estavam o Chevrolet Corvair, o Ford Falcon e o Valiant da Chrysler.

Ao lado e acima, o modelo inicial do Valiant, em 1959: teto anguloso, grade exagerada e pára-lamas com ressaltos em um estilo nada harmonioso

Em seu primeiro ano, o Valiant (valente em inglês) foi vendido por uma divisão independente homônima. Com a chamada A-body (carroceria A), era o maior dos três compactos — só perdia para o Corvair em espaço para a cabeça dos ocupantes. E era o mais esquisito. Como os adversários, correspondia a um médio se comparado aos carros fabricados mundo afora. Nos EUA, os três mediam bem menos que os modelos convencionais e pareciam mesmo compactos.

O projeto começara em 1957, fazendo uso até de computadores IBM para ajustes na suspensão e nível de ruído. O maior problema foi arrumar outro nome na última hora: quase foi batizado de Falcon, já registrado pela Ford. Enquanto os carros da virada dos anos 1950 para os 1960 começavam a ficar mais retilíneos e simples, o Valiant trazia contornos supérfluos nos pára-lamas, frente alta e traseira baixa, ambas arredondadas; já o teto era anguloso. A tampa do porta-malas tinha uma falsa cobertura de estepe.

O desenho estranho demorou três anos para mudar, mas já em 1961 era oferecido um motor de 3,7 litros e 145 cv brutos, contra 2,8 litros e 101 cv do primeiro Valiant

Faltava harmonia às linhas, mas isso fazia dele um carro interessante. Também curiosa era a perua Suburban que, apesar do tamanho, levava até nove passageiros com um terceiro banco opcional. O compacto tinha duas versões, V100 e V200, ambas nas duas carrocerias. Sob o capô, um seis-cilindros em linha de 2,8 litros, montado a um ângulo de 30° e por isso chamado Slant Six (seis inclinado), fazia 101 cv e 21,4 m.kgf (valores brutos) com carburador Carter de corpo simples. Com o pacote Hyper-Pack de admissão induzida de ar, passava a 148 cv. Sua configuração básica duraria até 1987!

Havia uma caixa manual de três marchas, que se repetiam na versão automática acionada por botões. A suspensão dianteira era independente, com barras de torção, e atrás tinha eixo rígido e feixe de molas semi-elíticas. Além de o maior e o mais estranho do trio compacto, o Valiant era reconhecido como o mais bem projetado. A melhor prova disso veio com a recém-criada categoria Nascar de compactos que ele venceu — seguido de seis outros Valiants! Ainda assim, maus encaixes e vazamentos d'água eram convites à ferrugem. Continua

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Data de publicação: 9/3/04

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