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Os Palios para o futuro

A Fiat gastou pouco, mas melhorou Palio, Weekend e
Siena substancialmente ― e os apresenta como novos

por Roberto Nasser - Fotos: divulgação

Roberto NasserQuem não tem cão, caça como gato. Quem não tem carro novo, caça com reestilização, redecoração, redirecionamento e preço.

Será esta a conclusão óbvia a quem acompanhar o trabalho da Fiat em poupar-se de investimento, que não pode fazer, para substituir a modelia baseada na plataforma Palio. Tendo que prolongar a vida útil de seus produtos, deu aula de competência ao mercado: atualizou sua linha, primeiro o Palio, agora a Weekend e o Siena, mudando estética, decoração interna, padronizando a motorização.

Chamou o festejado Giorgetto Giugiaro para atualizá-los, e o hábil designer aplicou nos produtos nova conceituação estética. E mudou seu apelo: clareou-os internamente com a introdução de itens de acabamento mais claros, passando idéia de maior área, aprimorou sua decoração.

Com as mudanças, renova a atratividade e sintonizada com o mercado de um país onde a população vê impostos aumentar e renda encolher. Aos que perdem renda, a família Palio oferece um conceito de carro pequeno com tratamento de produtos mais caros. Aos que ascendem, encontram trato de evolução. Manteve preços, comparativamente atrativos aos da concorrência entre conteúdo e valores.

Síntese de tudo, gastou pouco para mudar o jeito dos produtos, melhorando-os substancialmente. E fez festa competente, juntando revendedores, fornecedores e jornalistas da América Latina, como se estivesse lançando um produto novo. Quer ampliar vendas, manter a liderança e fazer lucros.

Como diz seu manda-chuva, o superintendente C. Bellini, com postura de quem manda no negócio, quem sobrevive não é o mais forte, mas quem tem maior capacidade de adaptação.

O coletivo, o individual e nós

A Anfavea, entidade que reúne as fábricas de veículos, virou notícia. Além da eleição de Rogelio Golfarb, engenheiro, 46, diretor da Ford, como presidente para os próximos três anos. Mas, e principalmente, pela cisão com a General Motors. Em comunicado que singra redações, diz que a Anfavea não fala por ela.

A questão liga o desentendimento filosófico à falta de noção corporativa.

A Anfavea, pelo presidente em mandato, o advogado Ricardo Carvalho, diretor da Volkswagen, tem-se manifestado que a política sobre veículos no Brasil deve ser linear e sem soluços — as soluções tipo colcha-de-retalhos, surgidas com usual redução de impostos sempre que a movimentação comercial se reduz.

E por coerência, e falta de consenso entre as associadas, não requereu ao governo federal o prolongamento da redução do IPI para os veículos que utilizem motor flexível em combustível, capaz de consumir gasolina e álcool em todas as proporções. Foi o que relatou ao ministro Antônio Pallocci, da Fazenda. A GM, por seu vice-presidente, oficiou à Anfavea que a entidade não a representa; e à mesma autoridade, solicitou IPI menor para os flexíveis.

É improvável que o Governo Federal acate o solitário pedido pois, afinal, governos de cabeça no lugar não costumam aceder a pleitos isolados, sem apoio corporativo.

A cizânia entre os dois executivos do lobby tem adereços interessantes. Primeiro, expõe que o assunto é da sociedade civil: a redução de tributos que o Governo Federal realiza é renúncia fiscal. E a sociedade, você, eu, devemos ser consultados para saber se concordamos em diminuir a arrecadação que pode melhorar saúde, educação e segurança, e em seu lugar favorecer usineiros de álcool.

Segundo, a postura da GM, em tentativa para ser a primeira do mercado: se o interesse coletivo coincide com o seu, está dentro. Senão, está fora.

Flexíveis
Atual mania mecânica do país, a tecnologia flexível, hoje aplicada por Volkswagen, GM e Fiat, logo terá seguidores. O presidente da Ford, Antônio Maciel Neto, afirma, terá o melhor sistema, não derivado de motores a álcool, como os da concorrência, mas de motores inteiramente revistos. O flexível hoje representa 30% das vendas dos carros novos, e 33% mais que os carros exclusivamente a álcool. Sua vantagem básica é que, em tese, a incorporação do sistema não aumenta o preço dos veículos, pois isto é compensado pelo IPI menor.

Além das marcas tradicionais, incluindo a Ford, a Renault, por seu diretor de marketing, Antônio Megale, e a união Peugeot-Citroën, segundo Bruno Grundeler, presidente da Peugeot, trabalham nesta direção. Sérgio Habib, presidente da Citroën, tem a coragem de comparar o flexível ao pato: anda mal, nada mal e voa mal. “É pior que um motor a gasolina e que um a álcool“.

Japonesas, Honda e Toyota ficarão de fora, por receber motores prontos do exterior, e tal implementação exigiria custos elevados em transformação na origem ou intervenção local em produtos importados. Os usineiros de álcool, preocupados com a safra, 7% maior que o esperado, e maiores interessados, agem para viabilizar a redução do IPI. Continua

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Data de publicação: 23/3/04