O coletivo, o individual e nós
A Anfavea, entidade que reúne as fábricas de
veículos, virou notícia. Além da eleição de Rogelio Golfarb,
engenheiro, 46, diretor da Ford, como presidente para os próximos três
anos. Mas, e principalmente, pela cisão com a General Motors. Em
comunicado que singra redações, diz que a Anfavea não fala por ela.
A questão liga o desentendimento filosófico à falta de noção
corporativa.
A Anfavea, pelo presidente em mandato, o advogado Ricardo Carvalho,
diretor da Volkswagen, tem-se manifestado que a política sobre
veículos no Brasil deve ser linear e sem soluços — as soluções tipo
colcha-de-retalhos, surgidas com usual redução de impostos sempre que
a movimentação comercial se reduz.
E por coerência, e falta de consenso entre as associadas, não requereu
ao governo federal o prolongamento da redução do IPI para os veículos
que utilizem motor flexível em combustível, capaz de consumir gasolina
e álcool em todas as proporções. Foi o que relatou ao ministro Antônio
Pallocci, da Fazenda. A GM, por seu vice-presidente, oficiou à Anfavea
que a entidade não a representa; e à mesma autoridade, solicitou IPI
menor para os flexíveis.
É improvável que o Governo Federal acate o solitário pedido pois,
afinal, governos de cabeça no lugar não costumam aceder a pleitos
isolados, sem apoio corporativo.
A cizânia entre os dois executivos do lobby tem adereços
interessantes. Primeiro, expõe que o assunto é da sociedade civil: a
redução de tributos que o Governo Federal realiza é renúncia fiscal. E
a sociedade, você, eu, devemos ser consultados para saber se
concordamos em diminuir a arrecadação que pode melhorar saúde,
educação e segurança, e em seu lugar favorecer usineiros de álcool.
Segundo, a postura da GM, em tentativa para ser a primeira do mercado:
se o interesse coletivo coincide com o seu, está dentro. Senão, está
fora.
Flexíveis
Atual mania mecânica do país, a tecnologia flexível, hoje aplicada por
Volkswagen, GM e Fiat, logo terá seguidores. O presidente da Ford,
Antônio Maciel Neto, afirma, terá o melhor sistema, não derivado de
motores a álcool, como os da concorrência, mas de motores inteiramente
revistos. O flexível hoje representa 30% das vendas dos carros novos,
e 33% mais que os carros exclusivamente a álcool. Sua vantagem básica
é que, em tese, a incorporação do sistema não aumenta o preço dos
veículos, pois isto é compensado pelo IPI menor.
Além das marcas tradicionais, incluindo a Ford, a Renault, por seu
diretor de marketing, Antônio Megale, e a união Peugeot-Citroën,
segundo Bruno Grundeler, presidente da Peugeot, trabalham nesta
direção. Sérgio Habib, presidente da Citroën, tem a coragem de
comparar o flexível ao pato: anda mal, nada mal e voa mal. “É pior que
um motor a gasolina e que um a álcool“.
Japonesas, Honda e Toyota ficarão de fora, por receber motores prontos
do exterior, e tal implementação exigiria custos elevados em
transformação na origem ou intervenção local em produtos importados.
Os usineiros de álcool, preocupados com a safra, 7% maior que o
esperado, e maiores interessados, agem para viabilizar a redução do
IPI. Continua
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