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Os buracos do mercado

"Passeio" de ambulância faz refletir sobre a falta de
adequação desses e outros veículos a suas propostas

por Roberto Nasser - Fotos: divulgação
Roberto Nasser

Semana passada andei de ambulância. Sem a estamina que me provoca toda vez que dirijo algo novo, sem cinto de segurança, porém ligado à vida por um vaso de soro, um Izordil sublingual, tubo de oxigênio, monitor cardíaco, médica e paramédico de olhos assustados, torcendo para que eu chegasse à UTI pré-avisada sobre enfarto em andamento.

Allah, clemente e misericordioso, e eu temos um pacto. Sutilezas orientais, negociações fenícias. Da minha parte mantenho bom caráter, boas ações e a incapacidade de pactuar com malfeito e gente sem qualidade. E faço o que mandam o Dr. Carlão Freitas, meu cardiologista, e o professor Nuno Cobra, meu condicionador físico, que me dão cansativa disposição. Allah, superior, quando ultrapasso a linha, provoca a genética e desastres químicos: é a terceira vez que faz isto comigo.

Trata-se de educador gentil. Só acicata ao limite do normal. O acordo continua válido: só quero a vida enquanto puder desfrutá-la, pensar, provocar. Depois, não sei para o que servirá e aí, ele lerá as cláusulas finais do nosso contrato. De nossa última conversa, estamos mais ou menos acertados: 2.031, com um Jaguar novo, mais recente aquisição, fazendo curva mais rápida que o carro, sozinho no carro, na estrada, exceto um jequitibá, responsável pelo ponto final — nos últimos tempos tenho-me questionado se a marca durará tanto quanto eu...

à parte das digressões sobre a vida, os 8 km que separam o bem-equipado e operacional posto de emergência da Câmara dos Deputados, do hospital para onde me levaram, acompanhei de corpo inteiro as inconveniências do veículo ao serviço que prestava.

O motor diesel, pequeno, fazia força para deslocar a massa de metal, plástico e vidros que formam a ambulância. O câmbio, mecânico, não permitia maciez na troca das marchas. E a suspensão, por feixes de molas semi-elíticas, é o destaque de inadequação. Preparadas para carga seca, refrigerantes, bujões de gás, material de construção, enfim, coisas rígidas, transformam seu corpo em amortecedor auxiliar, forçando-o a participar da rugosidade das ruas.

Pensará o leitor que o escriba que esta Coluna lavra há quase 37 anos é um alienado apto ao enclausuramento, absorto em raciocínios entre químicas e físicas tentando manter-lhe a vida. Mas a vida, caro leitor, é isto: instigação, provocação, conclusão. Deus, educado, não interrompe a frase — quando você não mais consegue continuar a conversa.

Num raciocínio amplo, como nossos veículos são inadequados. A razão é que partem do geral para o específico. Isto ocorre