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E a teimosia do sr. Ford faz 100 anos

Ele não só criou a linha de montagem, mas o conceito
da mobilidade, da democratização do automóvel

por Roberto Nasser - Fotos: divulgação
Roberto Nasser

O título não é correto. O sr. Ford foi teimoso há mais tempo, muito antes de criar a Ford Motor Company aos 40 anos. Desde menino, que deixou o futuro de agricultor em Detroit para se tornar aprendiz de mecânico de máquinas a vapor e de relojoeiro, exercitava independência e determinação.

Engenheiro — quer dizer, o sujeito que tomava conta daqueles engenhos esquisitos que geravam luz e substituíam a força humana —, Henry Ford foi palpiteiro, sócio, engenheiro, associado, consultor, com todas as conseqüências previsíveis de quem tinha um sonho na cabeça e uma caixa de ferramentas na mão — comprada com sua participação quando deixou sua primeira sociedade.

Ford não criou o Modelo T tornando-se famoso ao viabilizá-lo pelo conceito da linha de montagem. Muito mais que isto, ele criou o conceito da mobilidade. E, industrialmente, o da racionalidade, da produtividade, da democratização do automóvel, dirigindo-o ao povo, numeroso, e não aos poucos compradores ricos.

Foi um palpiteiro da melhor qualidade. Desde a crença que a terra devia ser respeitada, aplicando-se à melhoria da agricultura, como no desenvolvimento da soja para ser aplicada, em forma assemelhada aos plásticos, na construção dos automóveis. Foi criador da linha aérea nos EUA, construindo aviões trimotor. E na seqüência de produção cadenciada do Modelo T, conseguiu, em 1919, construir um milhão de unidades.

Quatro anos depois, uma informação assustava os outros fabricantes: em 36 horas um bloco de pedra se transformava em um motor que girava um automóvel já vendido! Foi também a primeira multinacional do automóvel. Nem bem começara com o Modelo T, criando fábricas novas, implantou unidades industriais e de montagem mundo a fora. Da Inglaterra à Argentina. No Brasil chegou por representante, em Salvador, em 1918. Por si mesma, em 1920.

Evidentemente, tantos resultados — Ford foi à época o homem mais rico do mundo, seu primeiro bilionário — davam-lhe a consciência de dono da verdade. E isto impediu-o de perceber que o Modelo T cansara. Ele criara o conceito da mobilidade; cobrara dos dirigentes a construção de estradas; e o piso regular matou o T e suas limitações. Boas estradas exigiam carros mais velozes. O Modelo T, que em 1924 vendera 2/3 dos carros da América, em 1926 vendeu 1/3.