De olho nos mitos

Quantas vezes você já ouviu histórias estranhas sobre
carros? Confira o que estava errado em cada uma delas

Texto: Fabrício Samahá

Três amigos trocam idéias sobre seus carros numa mesa de bar:

— Coloquei escapamento esportivo, bobina de alta voltagem, filtro de ar mais livre e retirei o catalisador. Vocês precisam ver como o desempenho melhorou! — orgulha-se um deles.

— Pois carro bom é o meu. Envenenei os giclês e ele ficou muito mais rápido. Depois lavei-o com querosene, para dar aquele brilho à pintura. Ficou uma beleza! — retruca o segundo.

— Sabem que eu removi a válvula termostática e passei a subir a serra com o motor bem mais frio? — comenta, impressionado, o terceiro.

Eis que aparece o quarto motorista da turma...

— Bobagem, tudo isso não passa de mito. Eu li no Best Cars Web Site que essas alterações trazem pouco benefício e podem até ser prejudiciais —explica, diante dos amigos contrariados com o "parecer técnico".

As lendas acompanham o automóvel desde ele passou a levar a humanidade de um lado para o outro. De receitas milagrosas de preparação aos cuidados exigidos pelos veículos, tudo já deu origem a equívocos e mentiras, repetidos a ponto de parecer verdade. Relacionamos alguns em artigo publicado meses atrás (
clique aqui para ler) e agora voltamos ao assunto. Vejamos em que mitos você não deve acreditar.

Lenda - Deve-se aguardar a parada da ventoinha para desligar o motor.

Realidade - Muitos ainda não sabem que as ligas metálicas dos motores atuais suportam alta temperatura sem danos. A função da ventoinha é criar fluxo de ar com o motor em funcionamento: não é necessário refrigerá-lo após desligado — por isso em alguns modelos ela pára quando se desliga a ignição. Alguns se preocupam tanto com isso que chegam a abrir o capô em intervalos da viagem para o motor esfriar...

Lenda - A lavagem com água e querosene resgata o brilho da pintura.

Realidade - O querosene só deve ser usado na pintura (de preferência diluído; puro, só se necessário) para remover manchas de óleo, piche ou asfalto. Nas lavagens comuns o produto retira a proteção da cera que tenha sido aplicada e ainda resseca as borrachas, propiciando infiltrações. O correto é lavar o carro com detergente ou xampu neutro, à sombra, e depois aplicar cera não-abrasiva, para proteger a pintura e facilitar a remoção da sujeira na próxima lavagem.

Lenda - Remover a válvula termostática previne superaquecimentos.

Realidade - Essa válvula retém a circulação da água com o motor frio para acelerar seu aquecimento. Quando apresenta defeito, muitos optam por removê-la, o que faz o motor funcionar em menor temperatura. Isso pode até evitar um superaquecimento, mas aumenta o consumo, piora o desempenho e ainda contamina o lubrificante. Também é mito que rodar com a tampa aberta no Fusca ou na Kombi otimiza a refrigeração e mantém o motor mais frio. Como a traseira é uma zona de baixa pressão, a temperatura pode até aumentar.

Lenda
- Escapamento esportivo e sem catalisador faz ganhar potência.

Realidade - Certos "preparadores" usam soluções que trazem mais problemas que benefícios. A remoção do catalisador — que é ilegal e irresponsável, pois aumenta muito a emissão de poluentes — pouco melhora a potência, se não vier acompanhada de alterações na carburação (ou programa da injeção) e ignição. O mesmo vale para os escapamentos esportivos: a menor restrição pode, quando muito, diminuir a queda de potência no limite de giros do motor, permitindo "esticar" mais as marchas. Quem não supera a rotação de potência máxima terá apenas mais barulho, sem ganho em desempenho.

Lenda - Bobina de maior voltagem, cabos de vela especiais e filtro de ar com menor restrição melhoram o rendimento.

Realidade - Tudo depende da preparação do motor. Com turbocompressor ou taxa de compressão mais alta, bobina e cabos especiais podem ser necessários para uma queima eficiente da mistura ar-combustível. Mas num motor original o benefício é apenas estético. Também o filtro esportivo, mais livre, deve ser empregado em motores preparados, que requerem maior fornecimento de ar. Nos demais será inócuo (pois a passagem do ar é limitada pelo venturi do carburador ou o corpo de injeção) e, se de má qualidade, pode ainda aspirar impurezas e fazer um belo estrago nos componentes internos do motor.

Lenda - Não se pode utilizar amortecedores pressurizados num eixo e manter os comuns, apenas hidráulicos, no outro.

Realidade - Pode-se, sim. A maior vantagem dos pressurizados é manter a eficiência após intensa solicitação, em estradas sinuosas ou piso irregular. De resto pouco alteram a estabilidade, e a maioria sequer perceberia se tratar de carro "misturado". O que não se pode fazer, mesmo com todos os amortecedores do mesmo tipo, é trocar apenas um: eles trabalham em pares e a segurança – sobretudo nas freadas – seria comprometida.

Lenda - O cinto pode matar se o carro pegar fogo ou cair num rio, pois retarda a saída dos passageiros.

Realidade - Mera desculpa de quem ainda não aprendeu que ele salva muitas vidas. Primeiro porque há um tempo razoável para a saída dos ocupantes nessas situações, antes que a temperatura atinja um nível insuportável ou que o veículo submerja. Mas sobretudo porque, com o cinto, é muito mais provável que os passageiros fiquem conscientes após o choque, para abrir a fivela e afastar-se do carro.

Lenda - Em caso de chuva ou neblina, rodar com o pisca-alerta ligado facilita a visão do carro pelos outros motoristas.

Realidade - Os que seguem essa lenda estão expondo muitas vidas ao perigo. O pisca-alerta só pode ser usado com o veículo parado. Ligá-lo em movimento pode levar o motorista de trás a pensar que você parou e desviar, causando até um acidente. Acenda apenas os faróis baixos e de neblina (se houver) e deixe o pisca-alerta para quando parar na pista (como em tráfego congestionado) ou no acostamento.


TRAÇAS NO TANQUE

Há quem tenha desde a infância uma "fórmula mágica" para melhorar o desempenho: adicionar bolinhas de naftalina ao combustível. O objetivo é aumentar a octanagem da gasolina, pois o naftaleno de que é feita é um hidrocarboneto aromático e de fato possui octanas. Ocorre que para obter ganho perceptível seriam necessárias muitas bolinhas. E, como demonstraram os testes com a gasolina Premium, são raros os motores que se beneficiam de uma maior octanagem. Resta o grande problema da "receita": os resíduos que se alojam nas câmaras de combustão e podem trazer sérios problemas ao motor. Assim, deixe as naftalinas no armário, a não ser que haja traças no seu tanque...

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