Três amigos trocam idéias sobre seus carros numa mesa de bar:
Coloquei escapamento esportivo, bobina de alta voltagem,
filtro de ar mais livre e retirei o catalisador. Vocês precisam
ver como o desempenho melhorou! orgulha-se um deles.
Pois carro bom é o meu. Envenenei os giclês e ele ficou
muito mais rápido. Depois lavei-o com querosene, para dar aquele
brilho à pintura. Ficou uma beleza! retruca o segundo.
Sabem que eu removi a válvula termostática e passei a
subir a serra com o motor bem mais frio? comenta,
impressionado, o terceiro.
Eis que aparece o quarto motorista da turma...
Bobagem, tudo isso não passa de mito. Eu li no Best
Cars Web Site que essas alterações trazem pouco benefício
e podem até ser prejudiciais explica, diante dos amigos
contrariados com o "parecer técnico".
As lendas acompanham o automóvel desde ele passou a levar a
humanidade de um lado para o outro. De receitas milagrosas de
preparação aos cuidados exigidos pelos veículos, tudo já deu
origem a equívocos e mentiras, repetidos a ponto de parecer
verdade. Relacionamos alguns em artigo publicado meses atrás (clique aqui para
ler) e agora voltamos ao
assunto. Vejamos em que mitos você não deve acreditar.
Lenda - Deve-se aguardar a parada da ventoinha
para desligar o motor.
Realidade - Muitos ainda não sabem que as ligas metálicas
dos motores atuais suportam alta temperatura sem danos. A função
da ventoinha é criar fluxo de ar com o motor em funcionamento: não
é necessário refrigerá-lo após desligado por isso em
alguns modelos ela pára quando se desliga a ignição. Alguns se
preocupam tanto com isso que chegam a abrir o capô em intervalos
da viagem para o motor esfriar...
Lenda - A lavagem com água e querosene resgata
o brilho da pintura.
Realidade - O querosene só deve ser usado na
pintura (de preferência diluído; puro, só se necessário) para
remover manchas de óleo, piche ou asfalto. Nas lavagens comuns o
produto retira a proteção da cera que tenha sido aplicada e
ainda resseca as borrachas, propiciando infiltrações. O correto
é lavar o carro com detergente ou xampu neutro, à sombra, e
depois aplicar cera não-abrasiva, para proteger a pintura e
facilitar a remoção da sujeira na próxima lavagem.
Lenda - Remover a válvula termostática previne
superaquecimentos.
Realidade - Essa válvula retém a circulação da
água com o motor frio para acelerar seu aquecimento. Quando
apresenta defeito, muitos optam por removê-la, o que faz o motor
funcionar em menor temperatura. Isso pode até evitar um
superaquecimento, mas aumenta o consumo, piora o desempenho e
ainda contamina o lubrificante. Também é mito que rodar com a
tampa aberta no Fusca ou na Kombi otimiza a refrigeração e mantém
o motor mais frio. Como a traseira é uma zona de baixa pressão,
a temperatura pode até aumentar.
Lenda - Escapamento esportivo
e sem catalisador faz ganhar potência.
Realidade - Certos "preparadores" usam
soluções que trazem mais problemas que benefícios. A remoção
do catalisador que é ilegal e irresponsável, pois
aumenta muito a emissão de poluentes pouco melhora a potência,
se não vier acompanhada de alterações na carburação (ou
programa da injeção) e ignição. O mesmo vale para os
escapamentos esportivos: a menor restrição pode, quando muito,
diminuir a queda de potência no limite de giros do motor,
permitindo "esticar" mais as marchas. Quem não supera
a rotação de potência máxima terá apenas mais barulho, sem
ganho em desempenho.
Lenda - Bobina de maior voltagem, cabos de vela
especiais e filtro de ar com menor restrição melhoram o
rendimento.
Realidade - Tudo depende da preparação do motor.
Com turbocompressor ou taxa de compressão mais alta, bobina e
cabos especiais podem ser necessários para uma queima eficiente
da mistura ar-combustível. Mas num motor original o benefício
é apenas estético. Também o filtro esportivo, mais livre, deve
ser empregado em motores preparados, que requerem maior
fornecimento de ar. Nos demais será inócuo (pois a passagem do
ar é limitada pelo venturi do carburador ou o corpo de injeção)
e, se de má qualidade, pode ainda aspirar impurezas e fazer um
belo estrago nos componentes internos do motor.
Lenda - Não se pode utilizar amortecedores
pressurizados num eixo e manter os comuns, apenas hidráulicos,
no outro.
Realidade - Pode-se, sim. A maior vantagem dos
pressurizados é manter a eficiência após intensa solicitação,
em estradas sinuosas ou piso irregular. De resto pouco alteram a
estabilidade, e a maioria sequer perceberia se tratar de carro
"misturado". O que não se pode fazer, mesmo com todos
os amortecedores do mesmo tipo, é trocar apenas um: eles
trabalham em pares e a segurança sobretudo nas freadas
seria comprometida.
Lenda - O cinto pode matar se o carro pegar fogo
ou cair num rio, pois retarda a saída dos passageiros.
Realidade - Mera desculpa de quem ainda não
aprendeu que ele salva muitas vidas. Primeiro porque há um tempo
razoável para a saída dos ocupantes nessas situações, antes
que a temperatura atinja um nível insuportável ou que o veículo
submerja. Mas sobretudo porque, com o cinto, é muito mais provável
que os passageiros fiquem conscientes após o choque, para abrir
a fivela e afastar-se do carro.
Lenda - Em caso de chuva ou neblina, rodar com o
pisca-alerta ligado facilita a visão do carro pelos outros
motoristas.
Realidade - Os que seguem essa lenda estão expondo
muitas vidas ao perigo. O pisca-alerta só pode ser usado com o
veículo parado. Ligá-lo em movimento pode levar o motorista de
trás a pensar que você parou e desviar, causando até um
acidente. Acenda apenas os faróis baixos e de neblina (se houver)
e deixe o pisca-alerta para quando parar na pista (como em tráfego
congestionado) ou no acostamento.
TRAÇAS
NO TANQUE
Há quem tenha desde a infância uma "fórmula
mágica" para melhorar o desempenho: adicionar
bolinhas de naftalina ao combustível. O objetivo é
aumentar a octanagem da gasolina, pois o naftaleno de que
é feita é um hidrocarboneto aromático e de fato possui
octanas. Ocorre que para obter ganho perceptível seriam
necessárias muitas bolinhas. E, como demonstraram os
testes com a gasolina Premium, são raros os motores que
se beneficiam de uma maior octanagem. Resta o grande
problema da "receita": os resíduos que se
alojam nas câmaras de combustão e podem trazer sérios
problemas ao motor. Assim, deixe as naftalinas no armário,
a não ser que haja traças no seu tanque...
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