As mentiras que contaram para você

Há lendas envolvendo quase tudo num carro.
Veja em que, e por que, você não deve acreditar

Texto: Fabrício Samahá

Carro zero-quilômetro não pode fazer viagens longas? Rodar com pouco combustível propicia a aspiração de sujeira? Parar no semáforo com a embreagem acionada desgasta o sistema? Herdadas de épocas passadas ou fruto de informações sem critérios, lendas como essas iludem e confundem muitos motoristas. Para que você não seja mais um, vamos passar a limpo as verdades e mentiras que andam lhe contando por aí.

Lenda - Amaciar o motor

Realidade - Um velho mito sobre motores envolve o amaciamento. Não são poucos os que ainda dispensam ao carro novo cuidados exigidos décadas atrás, como não impor longos percursos nem atingir altos giros durante 3.000 ou 5.000 km. Hoje a regra é outra: basta não atingir altas rotações (acima de 3.000 rpm) por 100 ou 200 km iniciais. Depois, pode-se explorar todo o regime de giros, o que ajuda até a não "amarrar" o motor.

Lenda - Não permanecer parado com a primeira marcha engatada

Realidade - Certas regras antigas perderam a validade com o desenvolvimento dos carros, mas ainda têm seguidores. Ao contrário do que mencionou certa e conhecida publicação "especializada", permanecer num semáforo com a embreagem toda acionada e a primeira marcha engatada não desgasta as atuais embreagens, com platô de mola diafragmática ("chapéu chinês"), embora ocorresse nas antigas, com platô de seis ou nove molas helicoidais. A explicação está na mola diafragmática ficar com carga mínima quando o pedal está todo apertado, desta maneira não "cansando" a mola.

Lenda - Chapa fina, pouca resistência

Realidade - Ainda persiste entre alguns a idéia de que o carro seguro é aquele que não se amassa em colisões, motivo de desconfiança das chapas de aço mais finas utilizadas nos modelos atuais. Em outros tempos olhava-se com orgulho o pára-lama pouco amassado, mesmo que isso implicasse um tremendo impacto dos passageiros contra o interior. Hoje se sabe que o melhor é a chamada "estrutura diferenciada", em que apenas a cabine é rígida. Às partes dianteira e traseira cabe absorver ao máximo o impacto, suavizando-o em forma de desaceleração mais suave para os ocupantes do veículo. Aliás, esse é motivo suficiente para jamais se transportar alguém, como uma criança, no compartimento de bagagem das peruas.

Lenda - Rodar com pouco combustível faz aspirar a sujeira do tanque

Realidade - Muitos não trafegam com pouco combustível por receio de que a sujeira do fundo do tanque seja aspirada, entupindo os filtros. Na verdade, como o tubo de captação ("pescador") fica próximo ao fundo, eventual sujeira seria aspirada mesmo com o tanque cheio até à boca.

Lenda - Pneus novos sempre na dianteira

Realidade - O hábito de manter os pneus mais desgastados na traseira, que pode gerar um comportamento perigoso em curvas com piso molhado, já foi desmistificado. É sempre preferível uma escapada de dianteira, cuja correção é instintiva. E não se comova, relacionando a um carro bem-cuidado, com o argumento de que "o estepe nunca rodou". Para mantê-lo assim, há até quem deixe o veículo no macaco e leve o pneu furado para consertar...

Lenda - Nunca freie na curva

Realidade - A lenda de que não se pode frear nas curvas já provocou sustos em muita gente que, possuindo a devida sensibilidade, poderia ter aplicado os freios sem desequilibrar o carro ou travar as rodas. Essa noção de nunca frear nas curvas já provocou acidentes do tipo desviar para não atropelar alguém e o veículo vir a bater violentamente contra algum obstáculo ou mesmo sair da pista. É possível frear na curva, desde que feito com suavidade.

Lenda - Portas travadas para maior segurança contra aberturas acidentais

Realidade - Não falta quem sinta maior segurança travando as portas na estrada, temendo que se abram numa curva rápida. Não sabem que travar o trinco apenas desativa as maçanetas, sem oferecer qualquer bloqueio adicional: não há, por exemplo, um pino ou tramela que atravesse a coluna. Assim, portas travadas servem apenas para dificultar o socorro aos passageiros em caso de acidente - por isso em alguns modelos, como Omega e os BMW, um sistema as destrava em colisões. Se no trânsito urbano o risco de assalto justifica o travamento, na estrada ou na via expressa ainda é melhor destravar as portas.


Aceleração a fundo, maior economia

Poucas lendas são tão arraigadas como a de que o menor consumo se obtém com aceleração leve. Embora não pareça, é acelerando fundo, desde que em rotações bem baixas, que se obtém o menor consumo específico nos motores a quatro tempos. O acelerador pouco aberto dificulta a aspiração do ar e gera perdas de bombeamento - daí o efeito de freio-motor quando se corta a aceleração. Não se deve seguir, portanto, os indicadores de consumo do tipo vacuômetro. Um teste feito pela Saab anos atrás revelou inclusive que o método denominado 1-3-5, isto é, passar diretamente da primeira para a terceira marcha e desta para a quinta (o que equivale a espaçar as relações de transmissão), permite uma redução do consumo da ordem de 10%.


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