Luigi Colani em foto de 2005:
seus desenhos atendem a fabricantes tão diversos quanto Sony e Yamaha,
Boeing e Seiko, Thyssen e Hitachi
O primeiro projeto com quatro
rodas foi um roadster com motor Simca, em 1953; em cores, o cupê com
motor Alfa do recorde em Nürburgring |
Se hoje em dia parece normal que uma câmera ou filmadora portátil tenha
um formato que se encaixe às mãos de quem a opera, não era assim antes
dos primeiros projetos para algumas empresas japonesas elaborados pelo
projetista alemão Luigi Colani, que também emprestou sua criatividade ao
desenho de automóveis. Um dos mais influentes desenhistas industriais,
Colani é considerado por muitos o pai do desenho orgânico. Suas criações
podem ser vistas nos mais diversos campos, pois entre os clientes de seu
escritório estão Sony, Yamaha, Seiko, Hitachi, Thyssen e Boeing. Uma das
áreas em que teve maior sucesso foi a de eletrônicos, que o mantém como
consultor desde a década de 1970.
A principal característica dos desenhos de Colani são formas
arredondadas e orgânicas, que ele chama de biodinâmicas. Seus estudos
ergonômicos sempre estiveram à frente dos modelos tradicionais da
indústria — um dos mais conhecidos foi a Cozinha Satélite, de 1969.
Muitos de seus projetos para aparelhos eletrônicos, móveis plásticos e
calçados foram ou são hoje produzidos em massa, mas seus conceitos mais
conhecidos, de maior porte, em boa parte não foram construídos ou
ficaram apenas nos protótipos — sendo, no entanto, os responsáveis pela
divulgação de seu nome.
Ele nasceu em Berlim, em 2 de agosto de 1928, com o nome Lutz Colani.
Além de seu trabalho como projetista e consultor, tem lecionado por
décadas em diversas universidades ao redor do mundo, além de ser pintor
e escultor. Colani recebeu vários prêmios de desenho, além de ter sido
tema de exposições em museus técnicos e de arte pelo mundo. Sua carreira
começou em 1946, quando estudou escultura na Akademie der Künste
(Academia de Artes) de Berlim. Logo após se formar, mudou-se para a
França, então com melhores oportunidades que a Alemanha ainda em início
de reconstrução da guerra.
Seu contato com o desenho de automóveis começou como ilustrador em uma
agência de publicidade que tinha entre seus clientes a Ford. Colani
ilustrava assim a revista para os consumidores da marca, a Revue
Vedette. Com essa experiência, se transferiu para a revista
especializada L'Automobile e mais tarde passou a ilustrar também
para a Motocycles. Ali, em 1952, uma ilustração de sua autoria —
a pedido do fabricante de turbinas Turboméca — de uma proposta de
motocicleta a turbina chamou tanta atenção, que a fábrica de aviões
McDonnell-Douglas o chamou a participar de um grupo de projetos de novos
materiais na Califórnia. Isso o levou a conhecer o plástico reforçado
com fibra de vidro.
Em uma visita à empresa aeronáutica pelo presidente da Simca francesa,
este se interessou pelos trabalhos de Colani, que foi contratado para
desenvolver o primeiro carro com carroceria feita desse material para o
fabricante. Apresentado em 1953, tratava-se de um cupê esportivo sobre
chassi tubular. Baixíssimo, o veículo tinha apenas 95 centímetros de
altura. Foi também o primeiro carro europeu com tal material. Tendo sido
então aberta a porta para o meio automobilístico, Colani foi contratado
pelo Barão du Bouget, que era proprietário de uma equipe de corridas em
Le Mans, para desenhar alguns carros, dos quais alguns protótipos foram
feitos. Em Le Mans, conheceu Charles Deutsch e René Bonnet,
proprietários da marca de carros esporte DB, que acabaram o contratando.
Deutsch estimulou Colani a estudar aerodinâmica na Sorbonne, em Paris,
França. Com esse currículo, foi contratado pela fábrica de aviões Marcel
Dassault.
Não tardou para que os construtores de seu país natal, já bastante
recuperado da guerra devido a um extraordinário crescimento econômico,
se interessassem por seus projetos. Foi assim então que Colani foi
trabalhar na encarroçadora Rometsch, onde criou um carro sobre chassi
Fiat 1100 TV, que em 1954 recebeu o prêmio internacional Golden Rose do
Salão de Genebra, Suíça. Dali foi para a encarroçadora Erdman & Rossi,
onde projetou um carro sobre chassi Volkswagen. Ele nunca mais deixou de
desenhar automóveis, em paralelo a outras atividades como projetista, e
logo após deixou de trabalhar para os outros, criando seu estúdio.
Segundo Colani, tudo o que ganhava era gasto em criações
próprias para seu uso, não apenas pela satisfação, mas também como
maneira de chamar atenção para seu nome.
Continua
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