Um engenheiro em nome da arte

Autor de automóveis e motores que emocionaram multidões no
passado, Giotto Bizzarrini continua a assinar belos esportivos

Texto: Francis Castaings - Fotos: divulgação

O jovem Bizzarrini. com Enzo Ferrari e Carlo Chiti (no centro), e duas criações suas na marca do cavalo empinado: 250 GT SWB e 250 GTO

Giotto projetou para a ATS o esportivo 2500 GT (em cima), fez o motor do Lamborghini 350 GT e concebeu o IR 300 para a Rivolta (embaixo)

Desde os primórdios do automóvel, fabricantes se esforçam para tirar mais potência dos motores, fazendo o diferencial do produto. Marcas não muito conhecidas hoje, que se extinguiram ou ressuscitaram, distinguiam-se pelo desempenho de suas mecânicas, a beleza e o arrojo de suas carrocerias. Na década de 1920, Auto Union, Bentley, Bugatti, Duesenberg, Maserati, Maybach e Mercedes faziam carros que eram desafios para se dirigir. Juntavam-se a eles Avion Voisin, Delage, Delahaye e outros. Nos anos 40, devido ao conflito bélico mundial, muitas fecharam e outras nasceram. Nos anos 50, Ferrari, Jaguar e Porsche começaram a escrever seus nomes na corrida pela velocidade. Foi nesses anos de motores quentes que o italiano Giotto Bizzarrini começou a ser conhecido.

Nascido em Livorno na bela região da Toscana, em 6 de junho de 1926, era filho de um engenheiro mecânico e neto de um biólogo muito reputado. Em sua infância foi apaixonado pelo futebol, mas após a guerra estudou na Universidade de Pisa e formou-se em 1953 na mesma graduação que seu pai. Logo se tornou um apaixonado por motores e carros. Começou sua vida profissional dando aulas na universidade e em agosto do ano seguinte era contratado pela Alfa Romeo. Fez ótimos trabalhos, mostrou competência e teve participação importante no desenvolvimento de motores e chassis. Deixou seus traços no pequeno e belo esportivo Giulietta, que teve enorme êxito por vários anos no continente.

Já com o nome conhecido na Itália, foi fisgado por Enzo Ferrari em breve entrevista. Teria trabalho duro pela frente: caberia a Giotto desenvolver bons carros de corrida, já que a concorrência estava trazendo muita dor de cabeça ao comendador, concentrado no Campeonato Mundial de Marcas. Faziam sucesso nas pistas o Jaguar D-Type, o Aston Martin DB3, o AC Bristol, o Lotus Climax e o Porsche 550 Spyder. O desenvolvimento começou. O jovem engenheiro de 31 anos desenhava, ajudava a produzir e a montar carroceria, chassi e motor. O mandatário da empresa de Maranello não poupava seus funcionários: vários trabalhavam até bem tarde e até nos fins-de-semana. Giotto também testava os carros, já que tinha habilidade de piloto de testes.

Em 1959 nascia o belo e potente Ferrari 250 GT SWB, sigla para Short Wheelbase em inglês, ou seja, entre-eixos curto. Brilhou muito nas pistas, notadamente em Nürburgring (Alemanha), Targa Florio (Itália), Le Mans (França) e também em provas nos Estados Unidos. Na época, Bizzarrini fez importantes modificações nos modelos 250 Testa Rossa e Spider California. Dois anos mais tarde, estava avançado o projeto de substituição do 250 SWB. O novo carro, concebido a partir de um pedido de Enzo, seria o famoso 250 GTO. Estudava-se muito a suspensão e a aerodinâmica com vistas a combater um novo concorrente de peso nas pistas — o Jaguar E-Type.

Toda a equipe de mecânicos, técnicos e engenheiros trabalhava à exaustão. O primeiro protótipo, tão feroz quanto feio, ganhou o apelido de Monstro. Era testado pelo hábil belga Willy Mairesse e pelo grande inglês Stirling Moss. Mas o clima não estava bom e os nervos à flor da pele, pelo excesso de trabalho, culminaram na saída de boa parte da equipe — incluindo Giotto, que ficou muito magoado, pois tinha Enzo como uma pessoa próxima e querida. Não demorou muito e ele criou a empresa Autostar, que fabricava peças especiais para vários esportivos. Um de seus primeiros clientes foi a ATS de Bolonha, que fez um belo grã-turismo com linhas avançadas, o ATS 2500 GT. O carro, apresentado no Salão de Genebra com motor V8 de 2,5 litros e 220 cv, não vingou pelo alto custo e por não ter tido êxito nas pistas.

Não demorou muito e Giotto estava em outra empresa de esportivos, a ASA Auto Autocostruzione de Milão. Fundada em 1962, construía pequenos esportivos interessantes, leves e bonitos, com motores de 1,0 litro e potência da ordem de 100 cv. Os pilotos de testes eram o ítalo-libanês Lorenzo Bandini e o milanês Giancarlo Baghetti. Bizzarrini tinha especial apreço por seus trabalhos na pequena empresa familiar. Foi outra vez um curto período, pois foi recrutado por Ferrucio Lamborghini, que o queria para construir um motor com 12 cilindros em “V” capaz de rivalizar com os da Ferrari. Na nova equipe estavam outros “banidos” de notáveis empresas do mundo do automóvel, gente muito competente como Carlo Chiti, Girolamo Gardini e Romolo Tavoni.

A intenção era obter uma cilindrada de 4,0 litros, podendo chegar a 5,0. O motor, bonito de ver e belíssimo de ouvir, nos testes tinha 3,5 litros e chegou a despejar 360 cv. Veio a equipar o primeiro Lamborghini civil, o 350 GT. Mas Giotto logo deixou a empresa de Sant'Agata, pois começava a ter relações de trabalho com o empresário Renzo Rivolta, que desejava construir um esportivo capaz de rivalizar com Maserati, Lamborghini e, claro, Ferrari. A pequena Itália já exibia muita diversidade esportiva no meio automobilístico. Todos queriam ter uma "macchina" veloz e a rivalidade interna era tão grande quanto a vaidade de seus construtores. Continua

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Data de publicação: 25/8/09

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