Renovação do Gol traz à discussão os vários
graus de reformulação estética dos automóveis

A pomposa denominação "Geração III" foi a escolhida pela Volkswagen para definir o novo Gol que chega ao mercado como modelo 2000. A estratégia é clara: associar a mudança na estética a uma reestruturação ampla, como a efetuada em 1994, quando surgiu o merecidamente chamado Gol Geração II. No caso do "III", as publicações menos especializadas logo absorveram a idéia, chegando a observações patéticas como comparar o espaço interno do modelo retocado ao da linha anterior. Estaria certa a VW?

Num país de Primeiro Mundo, com imprensa e consumidores mais esclarecidos, seria diferente. Os graus de atualização de um automóvel são internacionalmente divididos em três categorias: face-lift ou cirurgia plástica, restyling ou reestilização, e a reformulação completa ou nova geração. Não se trata aqui de traçar limites precisos para cada categoria, mas de citar exemplos bem conhecidos e mostrar a estratégia de supervalorização da reforma adotada.

Grade, faróis, pára-choques: apenas mudanças superficiais na cirurgia plástica do Tempra '98 (direita) para o '99

A cirurgia plástica é a mais suave (e menos custosa) das operações. Em geral, consiste em alterar poucos componentes, criando uma aparência geral mais atualizada, que possa levar o proprietário do modelo a desejar trocar de carro. É também comum nos modelos em fim de ciclo de vida, que mediante a "cirurgia" adquirem condições de sobreviver por mais alguns anos. Grade, pára-choques, lanternas traseiras e faróis são os alvos mais frequentes.

Alguns exemplos dessa prática: S10 e Blazer '99, Civic '99, Renault Laguna '99, Peugeot 306 '98, Mercedes Classe C '98, Escort '96 e meio (linha lançada em meados daquele ano, adotando grade oval que em seis meses seria substituída pela frente atual), linha Uno '91, Opala '85 e '91, Kadett '96, Tempra '95, '96 e '99 (a primeira só grade, a segunda incluindo faróis e lanternas traseiras, e a terceira modificando grade e pára-choques), Santana '95 e '99.

Ampla reforma frontal e nova suspensão: do Ranger '97 (vermelho) para o '98 houve uma reestilização

Mais extensa, a reestilização abrange mais componentes: em geral capô, pára-lamas, tampa do porta-malas e painel de instrumentos, além dos afetados pela plástica. Pode ser a oportunidade para se introduzirem mudanças mecânicas, como o emprego de subchassi na estrutura dianteira -- caso do novo Fiesta (1996). Mas as dimensões básicas (entreeixos, bitolas), a configuração mecânica e os elementos principais da carroceria, como cabine, portas e vidros, permanecem intocadas ou sofrem alterações mínimas.

Este é o caso do Gol 2000 e de diversos outros modelos no Brasil e no mundo. Para relacionar alguns: Monza '91, Santana '91 e meio, Gol '87 e '91, Mondeo e Escort '97, Explorer '96 e Ranger '98 (ambas incluíram nova suspensão dianteira), Corolla '98, Mazda Miata '99 e, para os saudosistas, Opala '80 e Corcel II '85.

O Golf é caso típico de sucessão de gerações: do I (ao fundo) ao IV (em destaque), passando pelo III (vermelho), a renovação é sempre completa

Para que uma reforma seja considerada como nova geração, os especialistas consideram necessária uma reestruturação abrangente do veículo. É como se nascesse um novo carro, mesmo que a motorização, suspensão ou algumas dimensões, como entreeixos, sejam mantidas.

A oportunidade de introduzir um novo nome é aproveitada com frequência, como de 147 para Uno e deste para Palio, ou de Kadett para Astra, o que ocorreu na Europa em 1991. Alguns fabricantes, contudo, preferem conservar a antiga denominação para manter seu público cativo - e para somar números de vendas, é evidente, produzindo recordistas como Corolla, Escort e Golf.

Ao contrário do que sucede em mercados mais exigentes, o lançamento de novas gerações foi raro no Brasil durante longo tempo - mas ocorreu, ao surgirem o Corcel II '78 e a Variant II '77. Foi também o caso de Gol '95, Vectra '97, Escort '93, Astra importado para nacional, Omega nacional para importado, Mercedes Classe E '96, Grand Cherokee '99, Audi A6 '97, Golf '99 e vários BMW, além do atual Porsche 911 (primeira reformulação total de um modelo sucessivamente retocado desde 1963).

Apesar do aspecto tão diferente, os Corollas '98 (esquerda)
e '99 pertencem à mesma geração: houve só reestilização

Caso a VW utilizasse o critério agora adotado já nos tempos do Fusca, teria atingido 10 ou mesmo 15 "gerações" em sua estada de 47 anos no mercado nacional -- para terminar seus dias com o mesmo exíguo espaço interno, a estabilidade precária, as dobradiças externas nas portas e os estribos.

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