Desde que lançamos a seção Carros do
Passado no Best Cars, em 1999, o site tem sido
frequente fonte de consulta, informação e entretenimento para
milhares de aficionados por automóveis antigos ou, de alguma forma,
com interesse histórico. Desses milhares de leitores, uma parcela
tem nos antigos não apenas um gosto para ver, ler e conhecer, mas
também para dirigir e contemplar na própria garagem. E muitos que
ainda não chegaram a esse ponto podem ter grande vontade de fazê-lo
— e não saber como realizar o sonho sem terminar em um pesadelo.
Nas garagens dos membros da equipe do site, somam seis os carros que
poderiam ser colocados naquela categoria. Nenhum, é verdade,
alcançou a idade necessária para receber a placa preta — distinção a
veículos com 30 anos ou mais de fabricação, em muito bom estado e
alto grau de originalidade, obtida após vistoria por clubes
credenciados para esse fim. Mas todos (um BMW 320i e um VW Passat
GTS Pointer 1986, um Chevrolet Diplomata 1987, um Chevrolet Vectra
GSi 1994 e dois Fords Escort XR3, um 1993 e outro 1994) mostram
condições para, se mantidos nas condições atuais, receber a cobiçada
identificação quando chegar o momento.
Para quem pretende ter algo assim em casa, o primeiro aspecto a
definir é que tipo de automóvel será. Há gosto para tudo, de sedãs a
esportivos, de picapes a conversíveis, em diferentes graus de
interesse de preservação — em regra, quanto mais raro o modelo ou a
versão, maior destaque ele ganhará com o passar do tempo. Nos
exemplos "de casa", o Vectra GSi é muito menos comum que um GLS ou
CD, assim como o XR3 se distingue de um Escort qualquer (se for o
conversível, ainda mais). Por outro lado, prepare-se para pagar bem
mais por uma raridade.
Se o objetivo é ter um valorizado objeto de coleção, faz pouca
diferença se o carro escolhido lhe agrada ou não. Mas esse fator
ganha importância bem maior quando a intenção é ter nesse primeiro
modelo antigo uma realização pessoal, algo prazeroso de ter e
dirigir —
mesmo que só em fins de semana de bom tempo, longe dos perigos do
trânsito. Muitas vezes se deseja um automóvel porque um ente querido
teve um igual no passado. Considere essas influências, pois a
dedicação ao carro será crucial nos momentos difíceis que, não raro,
você enfrentará com ele.
Nacional ou importado? Em regra o fabricado no Brasil tem
manutenção, reparos e reposição de peças mais simples e baratos, até
por haver muitos mecânicos que trabalharam com o modelo no passado e
o conhecem em profundidade. Mas há exceções: em alguns casos
encontram-se componentes com facilidade no exterior para um
importado, enquanto certa peça do nacional pode não ser mais
produzida há muito tempo.
Escolhido o modelo, é interessante conhecê-lo melhor, e nisso os
artigos de história do Best Cars são grandes aliados. Cada
carro passou por modificações em seu ciclo de produção, o que afeta
tanto o uso quanto o valor histórico. No exemplo do Vectra GSi, o
modelo inicial de 1993 não vinha com teto solar e computador de
bordo, adotados no ano seguinte. Já o Escort XR3 oferecia como
opcionais sistema de áudio com equalizador e bancos Recaro, itens
muito associados à imagem da versão e que agregam valor ao antigo.
Nossos artigos também mostram as séries limitadas, que em alguns
casos são alvo de especial interesse histórico.
E onde comprar? Lojas especializadas em carros antigos e especiais,
que já existem em várias cidades, podem ser o caminho mais fácil —
mas não o mais barato. Como para esses automóveis não existe cotação
(o estado é determinante), negociar com particulares pode resultar
em menor preço, já que o lojista conhece o mercado e tende a
valorizar mais o produto. Hoje a internet facilita muito a fase
inicial de pesquisa e seleção. |
O joio e o trigo
Então vem a parte mais complexa e cheia de armadilhas: analisar
os carros à venda, separar o joio do trigo e definir a melhor
compra. Embora algumas regras válidas para veículos atuais se
apliquem também aos antigos, esse mercado tem peculiaridades.
Retificar ou trocar um motor tem seu custo, mas — dependendo do
modelo — encontrar uma série de peças originais de acabamento pode
ser bem mais trabalhoso. Pequenos reparos a fazer na carroceria não
justificam rejeitar o carro; problemas estruturais, em muitos casos,
sim.
Mesmo que o conjunto lhe pareça valer o preço pedido, atente a
detalhes. Em um carro de cinco anos, um farol ou difusor de ar do
painel pode ser trocado em minutos sem grande despesa. Em um de 15
ou 20, nem sempre: há peças que desapareceram do mercado, sendo
encontradas apenas de segunda mão ou remanescentes de estoques
antigos — a preços de acordo. Há também o caso oposto, o da peça que
parece impossível de substituir, mas que tem uma alternativa
acessível vinda de um modelo atual. Por isso, vale à pena pesquisar
os componentes que exigem reparo antes de fechar negócio.
Falei acima em originalidade, que é um ponto dos mais relevantes.
Talvez você só queira ter um carro parecido com o do vovô, ainda que
desfigurado, ou procure uma base para fazer um hot rod ou street rod
— antigos modificados, muitas vezes com mecânica moderna e sem
vínculo com a marca original. Mas, se não for esse o caso (e este
editorial se dedica a quando não é esse o caso), preste
atenção aos pormenores. Um automóvel antigo será tão mais valioso
quanto mais preservar as características de fábrica, da cor ao
revestimento, passando por acabamentos, rodas e calotas e toda a
mecânica. Acessórios, para os especialistas, são aceitos apenas
quando disponíveis na época de fabricação.
Para tudo o que foi dito nesses três parágrafos, vale uma mesma
dica: informe-se com quem conhece. A internet está repleta de clubes
— "físicos" ou virtuais — e sites especializados em marcas e
modelos, no Brasil e no exterior, que trazem matérias, fóruns e
imagens para orientar a compra, tirar dúvidas e indicar alternativas
a peças que não existem mais. Melhor ainda, costumam ter anúncios
classificados de carros, peças e literatura técnica, uteis tanto
para encontrar quanto para reparar ou restaurar um antigo.
Há outra utilidade nesses espaços que reúnem proprietários e
interessados: conhecer de antemão as boas e más características do
automóvel. Uma suspensão mais dura e "seca" que a dos carros atuais,
uma marcha-lenta irregular ou pequenas falhas elétricas talvez
indiquem um veículo muito desgastado ou com problemas, mas também
podem ser o comportamento normal daquele modelo. Afinal, ninguém
esperaria que há 15 ou 20 anos se tivesse a tecnologia de hoje para
garantir um funcionamento estável e confiável.
Seguidas todas as considerações, é grande a chance de fazer um bom
negócio. O resultado será não apenas mais um carro na garagem: para
alguns, trata-se da realização de um sonho alimentado por anos; para
outros, a oportunidade de entrar para um novo círculo de amigos,
frequentar encontros e conhecer outras pessoas com histórias
parecidas ou diversas, mas com uma paixão em comum pelos automóveis
do passado. |
Retificar ou
trocar um motor tem seu custo, mas — dependendo do modelo —
encontrar uma série de peças originais de acabamento pode ser bem
mais trabalhoso |