Tecnologia: modo de usar

Novidades para muitos, freios ABS, bolsas infláveis, câmbio automático e
ar-condicionado têm alguns segredos para o melhor aproveitamento

por Fabrício Samahá

Há 10 ou 15 anos, não eram muitos os brasileiros que tinham bolsas infláveis, freios com sistema antitravamento (ABS), caixa automática ou mesmo ar-condicionado em seu carro. Hoje esses itens são bastante comuns do segmento médio para cima e começam a ganhar presença nos automóveis menores — os dois primeiros serão obrigatórios em todo carro novo daqui a pouco mais de três anos, em um programa que requer sua adoção gradual até se chegar aos 100%.

No entanto, enquanto se tornam mais comuns essas facilidades tecnológicas em favor do conforto ou da segurança, crescem também as lendas que envolvem seu funcionamento. Quem nunca ouviu alguém dizer que "não teria freado a tempo se não tivesse ABS", ou soube de um caso de protesto porque "o airbag não abriu em uma colisão forte" em que a frente do carro saiu intacta? Tudo culpa dos mitos que envolvem essas novas — ou nem tão novas — tecnologias, assunto de nosso Editorial de hoje.

Com o ABS o espaço de frenagem é menor.
Em termos. O que o ABS faz é modular a aplicação dos freios para que as rodas cheguem ao limite do travamento, ao ponto de máxima redução de velocidade sem travar. Se elas travam, o espaço de frenagem aumenta; se a força de frenagem é insuficiente, ele aumenta também. Em piso de boa aderência, um motorista experiente provavelmente conseguiria repetir o efeito do ABS. Já em piso molhado, na terra ou no barro, um pequeno travamento de rodas pode até ajudar a frear, embora o dispositivo traga a vantagem de manter o controle de direção — assim, pode-se desviar de um obstáculo enquanto se freia intensamente. Nessas condições e, sobretudo, em pisos com sucessivas irregularidades, a atuação do ABS pode até aumentar o espaço de parada.

Se o pedal de freio pulsar, deve-se aliviar a pressão sobre ele.
Errado. A pulsação é natural durante a ação do ABS, cabendo ao motorista manter o esforço no pedal enquanto necessário. É para evitar o reflexo indesejado de aliviar a pressão que foi inventada a assistência adicional em frenagens de emergência, que aumenta a força aplicada aos freios mesmo que o motorista use menos o pedal do que deveria.

As bolsas infláveis aumentam a proteção oferecida pelo cinto.
Certo. Embora em alguns países de vanguarda as bolsas não sejam exigidas por lei, elas equipam todos os carros porque seria impossível atender aos modernos padrões de proteção sem usá-las, pois o cinto sozinho não retém os ocupantes com a mesma eficiência. Contudo, é essencial associar bolsa e cinto: sem este último, a bolsa tem sua eficácia reduzida e pode até ferir o ocupante durante o disparo, que é muito rápido.

Fabrício Samahá, editor

As bolsas devem disparar em qualquer colisão.
Errado. Há parâmetros para sua abertura, que envolvem velocidade no momento do impacto (em geral a partir de 28 km/h), ângulo da batida e deformação da frente do veículo. Assim, uma colisão lateral ou uma capotagem não deve fazer a bolsa frontal abrir, mesmo porque ela seria inútil. Observe também que o processo de inflar e desinflar a bolsa é muito rápido, bem menos de um segundo, o que deixa o ocupante desprotegido caso haja um segundo impacto — como ao bater num barranco e o carro ser projetado para outro lado, sofrendo nova colisão. Mais um motivo para usar o cinto!

Com câmbio automático o consumo é maior.
Certo, mas cada vez em menor intensidade. A caixa automática tem uma forma de transmissão de energia menos eficiente, o que aumenta o consumo, e muitas delas trazem menos marchas que a manual do mesmo modelo, de modo que o conversor de torque — o "vilão" do consumo — precisa ser mais usado. Contudo, as centrais eletrônicas estão mais aprimoradas, o número de marchas cresceu (hoje há nacionais com seis e importados com oito) e o conversor tem atuação bem mais discreta, além de ser bloqueado em velocidades de estrada. Nessa condição, a perda de energia é baixa e o consumo fica próximo ao do câmbio manual.

A alavanca da caixa automática pode ficar sempre em "D".
Em termos. Em algumas condições é uma boa medida usar mudanças manuais, mesmo que o carro não traga a operação sequencial para esse fim. É o caso de uma descida íngreme de serra, em que mover a alavanca para 3, 2, 1 ou L — conforme o modelo e a situação — impede o uso das últimas marchas e produz freio-motor, poupando os freios do carro. Você também pode passar a "N", ou ponto-morto, nas paradas mais longas do trânsito para reduzir o consumo, já que o motor deixa de tentar mover o carro.

Com ar-condicionado, o ar deve ser direcionado aos ocupantes.
Errado, a menos que você esteja em busca de um resfriado. O ar deve refrigerar o ambiente e não as pessoas diretamente. Para isso, direcione os difusores para o alto, pois o ar frio tende a descer, criando um resfriamento homogêneo.

O ar-condicionado aumenta o consumo do carro.
Certo, mas com uma ressalva. Sem ele, tende-se a rodar com vidros abertos e isso também eleva o consumo — embora em menor grau — pelo prejuízo à aerodinâmica. De qualquer forma, o aumento de gasto tem sido menor com os sistemas mais eficientes de hoje e, afinal, é uma despesa adicional bastante recompensada pelo conforto.

O comando de recirculação deve ficar sempre ligado.
Errado. Por fechar a admissão de ar externo, esse comando evita a entrada de fumaça, poeira e mau cheiro, além de acentuar a capacidade do sistema quando o interior já está mais frio do que lá fora. Mas evite usá-lo por longo tempo: como o ar-condicionado resseca o ar, nessa condição ele usa um ar já seco e reduz ainda mais sua umidade, o que pode causar desconforto.

Há parâmetros para a abertura das bolsas infláveis. Uma colisão lateral ou uma capotagem não deve fazer a bolsa frontal abrir, mesmo porque ela seria inútil.

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Data de publicação: 25/9/10

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