Carrossel de marcas

A Chrysler passa à Fiat, a Opel vai aos canadenses, GM e Ford vendem
divisões: o que tudo isso representa para o consumidor brasileiro

por Fabrício Samahá

De repente, tudo mudou. Em questão de semanas, por causa da crise econômica mundial, o cenário da indústria automobilística assumiu um novo aspecto, com fusões e mudanças de mãos entre grandes empresas do setor. Nunca se viu tantas alterações em tão pouco tempo nesse panorama.

No último dia 10 a Fiat anunciou a aquisição da Chrysler, que estava em concordata desde abril. A italiana fica com apenas 20% da norte-americana, participação que pode crescer até 35%, enquanto os governos dos Estados Unidos e Canadá detêm 8% e 2%, na ordem, e os 55% restantes cabem a um fundo sindical. Somadas, Fiat e Chrysler produzem hoje quatro milhões de veículos por ano, quantidade que pretendem elevar a 5,5 ou seis milhões — talvez precisem de novos parceiros para atingir a meta.

Para os italianos, a compra abre portas no maior mercado de automóveis do mundo, de onde a marca saiu há mais de 25 anos. Para a empresa norte-americana, além da possível salvação financeira, o acordo cria possibilidades de desenvolver carros menores e mais econômicos, com base em plataformas Fiat, e de adotar os conceituados motores a diesel do grupo italiano. Se tudo isso vai dar certo, é uma incógnita. Há 11 anos a Chrysler passou às mãos da Daimler-Benz, fabricante dos Mercedes, e o resultado foi uma tumultuada associação desfeita em 2007. A Fiat, por sua vez, rompeu após cinco anos a parceria firmada em 2000 com a General Motors.

Enquanto isso, marcas menores — mas também relevantes — mudam de mãos. Em meio à crise sem precedentes que a colocou em concordata, a GM pôs à venda várias de suas divisões. A alemã Opel (responsável pela maioria dos projetos que chegaram à Chevrolet no Brasil, do Opala ao atual Vectra) teve anunciada no fim de maio sua venda ao fabricante canadense de autopeças e sistemas Magna.

Pouco depois, já em junho, divulgou-se que a marca de utilitários Hummer — que a GM havia adquirido de sua criadora, a AM General, em 1998 — passará no terceiro trimestre do ano para o grupo chinês Sichuan Tengzhong. Nesta terça-feira, 16, foi a vez de a corporação assinar um acordo preliminar para a venda da sueca Saab a outra empresa daquele país, a fábrica de supercarros Koenigsegg. Outro braço da GM, a Saturn, foi vendida ao grupo norte-americano Penske.

Embora em melhor situação financeira que suas colegas da terra de Tio Sam, a Ford também se desfez nos últimos anos de algumas marcas que havia comprado em períodos de vacas mais gordas. A inglesa Aston Martin passou já em 2007 a um grupo de investidores liderado por David Richards, presidente da empresa de preparação Prodrive, do mesmo país. As também britânicas Land Rover e Jaguar são da indiana Tata há um ano; e o grupo chinês BAIC tem interesse na compra da sueca Volvo.

Fabrício Samahá, editor

E por aqui?
Como todo esse movimentado panorama afeta você, que vive no Brasil e provavelmente tem um carro nacional? Os reflexos são variados.

Para quem possui ou pretende comprar um carro das marcas que mudaram (ou mudarão) de mãos, os negócios feitos lá fora costumam trazer mais confiança que apreensão, pois o grupo comprador está em melhores condições financeiras do que a empresa adquirida e o grupo que a vendeu. Pode haver, contudo, novas decisões que afetem o andamento da marca absorvida, como a de alterar drasticamente o foco de mercado e a linha de produtos, com possíveis efeitos sobre valor de revenda e oferta de peças de reposição.

E sempre fica alguma dúvida sobre questões como a da qualidade de construção, sobretudo em caso de transferência dos locais de produção. Seriam, por exemplo, um hipotético Jaguar feito na Índia e um eventual Volvo chinês tão bem fabricados quanto os que existiam sob o guarda-chuva da Ford?

Há também efeitos sobre fabricantes multinacionais instalados aqui. O caso Fiat-Chrysler pode ser positivo para a empresa de Betim, MG, dando-lhe condições de atuar, com sua ampla rede de concessionárias, nos segmentos de utilitários maiores de que ainda não participa. Para a norte-americana, a compra pode trazer credibilidade perante o consumidor, um desafio para quem já encerrou por duas vezes suas atividades de fabricação no País (em 1981 com os carros Dodge, por ter sido absorvida pela Volkswagen, e em 2002 com o picape Dakota).

O caso da GM é mais complexo. Apesar da autonomia da engenharia brasileira, que desenvolve carrocerias inteiras (como a do Celta e a do projeto Viva, em fase final) sobre plataformas e mecânicas originárias da Opel, a maior parte de seus produtos ainda é procedente de antigos modelos da marca alemã, agora vendida aos canadenses. Assim, a GM local tem basicamente dois caminhos: adotar o padrão da subsidiária sul-coreana do grupo (antiga Daewoo), hoje responsável pelos carros pequenos vendidos mundo afora pela corporação, ou ampliar sua autonomia para desenvolver aqui todos os futuros modelos. A primeira opção me parece bem melhor do ponto de vista do consumidor, mas pelos infelizes rumos recentes da empresa (leia editorial) é a segunda que soa mais provável.

Quaisquer que sejam os próximos passos desse carrossel de marcas, é certo que ele não pode parar. Desde que grandes fusões e aquisições se tornaram mais frequentes no setor automobilístico, no fim da década passada, os analistas consideram que o futuro pertence a grandes grupos, capazes de reduzir custos e ganhar eficiência na competição pelo consumidor. Se hoje algumas corporações parecem se desfazer, é provável que disso surjam outros conglomerados e que os pequenos se fortaleçam para se tornar peças-chave desse jogo nas próximas décadas.

Os negócios feitos lá fora costumam nos trazer mais confiança que apreensão, pois o grupo comprador está em melhores condições financeiras do que a empresa adquirida e o grupo que a vendeu

Colunas - Página principal - Envie por e-mail

Data de publicação: 20/6/09

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade