por Fabrício Samahá 

Kit para obter motor flexível: se
bem feito, não custaria pouco


Pesquisei na internet e encontrei dezenas de kits eletrônicos para converter veículos a gasolina para flex. Todos são muito semelhantes e prometem uma conversão simples, barata e sem riscos. Por que a BCWS não ajuda seus leitores e joga uma luz sobre o assunto?

José Leite
Ubatuba, SP

Tenho um Corsa a gasolina e comprei um kit flex. O equipamento está ligado diretamente no chicote original de injeção, tendo eu também trocado o filtro de combustível e o refil da bomba de gasolina para modelos flex. O mesmo faz o carro rodar com álcool, gasolina ou a mistura dos dois. Quais os riscos de utilizar o álcool?

Francisco Aristides de Aragão Mendonça
Fortaleza, CE

Tenho um EcoSport 1.6 a gasolina. Tem no mercado um módulo que passa para flex. Isso é confiável? Quais os prós e contras?

Pedro Alberto
Dourados, MS


Passei meu carro a álcool com módulo flex, porém perdi potência, pois a queima do álcool x gasolina é diferente. Tem algo a ver com a taxa? Poderia enviar algumas soluções para este caso?

Ricardo Takano
São Paulo, SP

As dúvidas destes e de outros leitores mostram que, ao lado da difusão dos carros flexíveis em combustível de fábrica, ganham espaço no mercado de pós-venda os kits que prometem converter o motor para uso de álcool ou mesmo torná-lo flexível, permitindo também o uso de gasolina ou dos combustíveis misturados.

Como o Best Cars esclareceu em artigo publicado em 2002, passar a usar álcool em um carro a gasolina requer alguns cuidados. A central eletrônica do motor, que controla injeção e ignição, é o primeiro ponto: sem uma reprogramação por técnico capacitado, o motor não consegue trabalhar perfeitamente com o novo combustível, o que leva a prejuízo em desempenho, falhas de funcionamento e partida difícil com motor frio. O consumo pode até parecer bom, pois um motor que opera com mistura ar-combustível pobre (menor proporção de combustível que a correta) tende a consumir menos, mas os demais inconvenientes anulam essa vantagem.

Essa reprogramação eletrônica (seja do chip original, seja pela instalação de módulo auxiliar ou mesmo a troca do chip por um com programação diferente) é o principal elemento dos kits de conversão anunciados. Claro que é possível obter funcionamento perfeito, mas não é um trabalho simples nem barato
— que o digam os preparadores de motores. Assim, o Best Cars põe em dúvida se o serviço foi feito de modo apropriado, para cada modelo e versão de automóvel, por todas as empresas que vendem kits. Um erro nesse trabalho pode levar a consumo elevado e perda de desempenho.

Mesmo que a parte eletrônica seja bem efetuada, há outros pontos que requerem atenção. A bomba de combustível e todo o sistema de alimentação dos motores a gasolina não estão preparados para o poder corrosivo do álcool em proporção elevada (na gasolina padrão o teor de álcool fica em cerca de 25%). Resultado: tendência a corrosão prematura, que no caso da bomba pode levar à parada repentina do veículo, além de exigir a troca de um item que não é barato.

Em alguns motores, os bicos injetores e as velas podem também ter de ser trocados por outros adequados ao álcool, o que onera a conversão. Há ainda a questão das sedes de válvula sem a dureza necessária para o motor funcionar com álcool, pois este combustível não tem enxofre, um lubrificante natural. Em pouco tempo as sedes se desgastam e comprometem o motor. E vale notar que a taxa de compressão da maioria dos motores a gasolina é baixa demais para uso de álcool, o que por si só impõe menor desempenho e maior consumo.

De resto, não há como esperar bom funcionamento e partida a frio sob baixa temperatura (menos de 15° C) ao usar álcool, a não ser que seja instalado o sistema de injeção a gasolina. Aplicá-lo a um carro que tenha versão flexível ou a álcool é complexo; se não houver essa opção na linha, torna-se um desafio. Pode-se contornar o problema usando um pouco de gasolina (15% a 20%) no álcool, como ocorre no E85 (85% etanol, 15% gasolina) vendido em outros países, mas fazer a mistura diretamente no tanque é sempre um incômodo. E perde-se parte da vantagem financeira do uso de álcool, objetivo da conversão.

Tudo somado, o Best Cars não recomenda os kits, porque um trabalho apropriado de conversão não pode ser feito pelo valor e com a facilidade anunciados por seus fabricantes. E, se fosse efetuado, seria preciso rodar por muito tempo com álcool a baixo preço para compensar o investimento, cabendo lembrar que o custo desse combustível está sujeito a grandes oscilações conforme a região, a época do ano e o humor dos usineiros.

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Foto: Fabrício Samahá - Data de publicação: 8/12/07

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