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por
Fabrício Samahá e Iran Cartaxo
Monobloco e
carroceria sobre
chassi: vantagens e desvantagens
Gostaria de saber mais sobre as diferenças entre monobloco e carroceria
sobre chassi, as vantagens e desvantagens de cada um.
Cláudio S. Ferreira - São Paulo, SP
Por que em picapes da categoria da S10, Frontier e outras existem um vão
entre e cabina e a caçamba, o que não acontece com picapes da categoria
da Saveiro, por exemplo?
Vitor Hugo Rodrigues Parreira - Uberlândia, MG
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A
construção de carroceria sobre chassi (ou seja, o "corpo" do veículo
aplicado por cima de uma estrutura inferior como partes separadas)
vem dos primórdios do automóvel, tendo sido o único sistema adotado
até a década de 1910. Foi com o Lancia Lambda de 1922 que apareceu a
construção monobloco, em que carroceria e chassi formam uma única
peça. Depois desse pioneiro italiano o método se estendeu a várias
marcas, como Citroën (Traction Avant, 1934), Chrysler (Airflow,
mesmo ano), Opel (Olympia, 1935), Lincoln (Zephyr, 1936) e Nash
(modelo 600, 1941). Só na década de 1960 o monobloco ganharia espaço
em grande escala nos carros americanos, mas alguns deles
permaneceram com carroceria sobre chassi até os dias de hoje, caso
do Ford Crown Victoria. Esse método ainda é usado em grande parte
dos picapes e utilitários esporte, apesar da clara tendência ao
monobloco também nesta última categoria.
As maiores vantagens de ter chassi e carroceria em um só corpo, como
no Mustang 2005 da foto, são
as reduções de peso do veículo e do espaço ocupado pela estrutura.
Se o chassi separado representa uma volumosa e pesada "escada" sob a
carroceria, o monobloco distribui os elementos estruturais por
locais que não prejudicam tanto o compartimento de passageiros. Ao trocar o método separado pelo
monobloco no utilitário Pajero Full, em 2000, a Mitsubishi informou
diversas vantagens: rebaixamento do assoalho em 50 mm, aumento do
vão livre do solo em 20 mm, estrutura três vezes mais rígida e 25 kg
mais leve (embora o veículo estivesse mais longo e largo que a
geração anterior) e deformação frontal mais eficiente em colisões.
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Desvantagens? O chassi separado
(como no picape Ford F-450 americano, ao lado) ainda é mais barato de fabricar e de
reparar em caso de acidente, pois seções danificadas podem ser
substituídas com maior facilidade. No segundo aspecto, porém, a
vantagem diminui quando o monobloco possui
subchassi (em muitos
casos apenas dianteiro, em outros também na traseira), que pode ser
substituído em caso de danos sem necessidade de intervenção no
monobloco. O sistema tradicional de construção também é visto como
mais robusto para transporte de carga, como em picapes de trabalho,
e se torna opção obrigatória quando há necessidade de substituir a
caçamba metálica por outro tipo de carroceria. A Holden (braço
australiano da GM), que possui na linha o picape Ute derivado do
automóvel Commodore
— Omega no Brasil — com
monobloco, oferece também versões aptas a transportar uma tonelada com
chassi separado.
Quanto à dúvida do Vitor, picapes derivados de automóveis (Strada,
Montana, Courier, Saveiro e outros no caso brasileiro,
Chevrolet El Camino e
Ford Ranchero para os americanos, Holden Ute e
Ford Falcon Ute para os australianos) usam estrutura monobloco, enquanto os
projetos já desenvolvidos para aplicação como picape usam, em sua
maioria, carroceria sobre chassi (o Honda Ridgeline é uma exceção,
pois adota monobloco). Como se trata de veículos com alta capacidade
de carga e em geral de grande comprimento, o chassi separado está sujeito a
elevada torção, como no caso de o veículo estar desnivelado,
com a suspensão de rodas opostas
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dianteira direita e
traseira esquerda, por exemplo
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mais comprimida que a das demais rodas.
Nessas condições é
preferível que cabine e caçamba estejam separadas, para permitir que
o chassi torça sem que isso cause estresse entre a parte da
carroceria carregada (caçamba) e a parte que leva os ocupantes
(cabine). Apesar desse arranjo parecer inadequado do ponto de vista
de rigidez do veículo, e portanto causar prejuízo ao comportamento
dinâmico, tem a vantagem de prolongar a vida útil da carroceria e de
evitar ruídos que apareceriam com o tempo. Caso um monobloco fosse
usado nessa aplicação, até trincas poderiam surgir na parte de carga
pela fadiga sofrida pelo material com o tempo. |
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