O que o leitor experimentou foi o que dezenas de milhões de motoristas vivem todos os
dias mundo afora: as delícias de dirigir um automóvel usando gasolina pura, sem álcool.
Tenho dito a meu círculo de amigos que o Brasil sofre de uma maldição energética. Estamos fadados a viver para sempre com gasolinas que o mundo não conhece. Até o início da década de 80, tínhamos uma gasolina com baixo número de octanas em relação ao resto do mundo, que obrigava os fabricantes locais a produzir automóveis com motores de taxa de compressão bem baixa. Aos poucos, a adição de álcool foi aumentando, tendo chegado a 24%, que retornou para 20% no ano passado, devido à escassez do produto quando se vislumbrou a volta do carro a álcool.
A coisa toda chega ao absurdo de termos um mercado comum, o Mercosul, com uma gasolina que não é mesma entre os países membros. No mundo todo, a gasolina brasileira é única. A Petrobras tentou há alguns anos lançar uma gasolina como a que se vende em todo o planeta, inclusive na América do Sul, mas o governo não permitiu, baseado na lei que determina a adição de álcool. Importadores não precisariam mais “tropicalizar” os motores, que seriam os mesmos produzidos em outros países. Brasileiros poderiam ir de carro
à Argentina e vice-versa, com motores funcionando perfeitamente.
O efeito sentido pelo leitor ao usar gasolina sem álcool, obtida a partir da separação por meio de água, é real, principalmente nas pequenas aberturas do acelerador. Lembro-me de ter dirigido na França um Fiesta com motor Zetec Sigma de 1,25 litro, que mostrava o mesmo desempenho da versão brasileira de 1,4 litro. É somente questão de gasolina.
No caso do carro do leitor, o sistema de gerenciamento eletrônico do motor corrigiu parcialmente a relação ar-combustível, tendo a mistura ficado um pouco rica, sem a menor dúvida. As emissões gasosas certamente ficaram acima dos limites legais e o consumo deve ter ficado maior do que o normal.
Hipoteticamente, o leitor poderia passar a usar apenas essa gasolina “fabricada em casa”
-- sendo indispensável utilizar a Premium, por sua maior octanagem --
e procurar obter um módulo eletrônico de comando para gasolina sem álcool na GM do Brasil (improvável, todavia) ou adquirir um numa concessionária Chevrolet na Argentina.
|