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por Bob Sharp

Estabilizador melhora ou
piora a estabilidade?


Caro Sr. Bob Sharp, acompanho seu trabalho desde a Oficina Mecânica e li, em um dos comentários do leitor, sua resposta em que disse: "remover a barra estabilizadora traseira do Opala, que prejudicava a tração e acentuava as escapadas de traseira..." Isso procede? Tive alguns anos atrás um Fusquinha 68 onde coloquei um motor de SP2 1700, com pneus 165 R 15 Firestone, porém só obtive uma melhora na suspensão traseira após achar e instalar uma barra estabilizadora, que unia as duas pontas de eixo traseiros, amarrada nos tubos das barras de torção utilizando bieletas de Chevette ou Opala. Essa barra melhorou e em muito a estabilidade, a ponto de, na serra de Petrópolis, conseguir manter, subindo, mais de 90 por hora (mantive a caixa original).

Tive um Opala 72 que possuía o espaço para uma barra que, acredito ser semelhante, ancorada na carroceria e no eixo traseiro, porém, não tinha tal equipamento e, enquanto tive o carro não encontrei uma original. Hoje tenho um Chevette 84 hatch que na traseira também possui os locais para fixação da tal barra. Pergunto: tal barra no Opala realmente faria a traseira escapar com mais facilidade? E no Chevette? Por que no Fusca a melhora foi tão grande? Lembrando que o Opala possuía pneus 195/70-14, o Chevette possui 185/70-13.

Talles Wang
Duque de Caxias, RJ
tallwang@yahoo.com.br

Caro Talles, isso de Oficina Mecânica já vai longe... Note que o nome 'barra estabilizadora' (ou apenas estabilizador, como chamamos no BCWS) é impróprio, pois ela não estabiliza o veículo qualquer que seja o sentido de estabilizar. Os americanos usam ora barra anti-rolagem (anti-roll bar), ora barra anti-balanço (anti-sway bar), este estranho também. O que a barra estabilizadora faz é aumentar a resistência à rolagem, fazer o carro se inclinar menos nas curvas. Só que isso cobra o seu preço: o peso do carro é transferido da roda interna para a externa à curva com mais intensidade, disso advindo duas conseqüências.

A primeira é o aumento do ângulo de deriva, ou de escorregamento do pneu (por efeito de maior peso), fazendo o eixo em questão escorregar mais que o outro, o dianteiro. No caso de uma barra estabilizadora traseira inexistente antes, o carro vai inevitavelmente tender a sair mais de traseira, a sobresterçar mais.

A segunda conseqüência é a roda interna à curva ficar com menos aderência (ou nenhuma) e, não sendo o diferencial autobloqueante, cessar a tração por completo (roda interna patinando sem produzir tração). O que acontece na maioria das vezes, quando um carro passa a rolar menos, é ter-se uma sensação de segurança, sempre acompanhada da impressão de que "o carro melhorou" e, por isso mesmo, levando o motorista a ter mais confiança e passar a fazer as curvas mais rapidamente.

Dadas as características de seu Fusca, pneu 165-15 (embora mais largo que o original radial, 155-15), permito-me supor que você tenha passado por essa sensação. Os Fuscas 1500 e a Variant/TL tinham uma barra traseira, mas em formato de "Z" visto de cima, cuja função era a de ser uma verdadeira "anti-barra estabilizadora", dessa maneira promovendo menor transferência de peso para a roda externa e, claro, aumentando a tração. A saída de traseira ficava bastante atenuada.

Nos anos 1950 uma empresa preparadora da Califórnia chamada EMPI (European Motor Products Inc.) vendia uma peça para a suspensão traseira de Volkswagen chamada Camber Compensator. Era uma lâmina, como se fosse uma mola, que se prendia em cada extremidade de eixo e se apoiava no câmbio. O efeito era o mesmo da barra "Z". Depois ela foi aplicada pela Porsche no 356C, que tinha o mesmo arranjo de suspensão, semi-eixo oscilante.

Deixe-me contar outra experiência que tive em competição. No treino de classificação para a 4 Horas de Tarumã em 1976, vinha eu com o Maverick na curva 9, já dentro dela, estabilizado, quando a traseira deu uma escapada monumental e enchi o guard-rail de ré, acabando com a traseira. O Greco (chefe da equipe) ficou furioso comigo, com razão. Mas, no íntimo, eu sabia que não tinha feito nada errado (todo piloto tem essa autocrítica).

Enquanto o carro sobre quatro cavaletes era desamassado às pressas, no boxe, comecei a examiná-lo todo, procurando a causa da traseirada. Até que finalmente descobri: a barra estabilizadora dianteira estava seccionada, partida bem no meio, com todo o aspecto de recém-partida. No momento em que eu estava na curva, estabilizado como disse, a quebra da barra provocou um aumento instantâneo e inesperado de aderência no eixo dianteiro, que a traseira jamais poderia ter acompanhado. Claro, chamei o Greco e mostrei-lhe a barra seccionada...

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Data de publicação: 9/9/03

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