É por isso que se usa motor central em muitos esportivos e carros de competição -- seja dianteiro, à frente da cabine, ou traseiro, atrás dos ocupantes, como é mais comum. O objetivo nesse caso é concentrar as massas mais no centro do veículo, de maneira a se obter baixo momento polar de inércia. Mas, em contrapartida, como a massa das extremidades é menor, as respostas ao comando do motorista são mais rápidas, podendo surpreender os menos habilidosos. Além disso, carros com baixo momento polar de inércia não "avisam" que o limite está próximo, o que também pode surpreender.
Para entender bem o efeito do momento polar de inércia, os equilibristas que caminham sobre um fio a grandes alturas não conseguiriam fazê-lo sem a comprida barra. Maior o momento polar de inércia, maior a resistência à mudança de direção. Outra alusão interessante é a da bailarina que gira rapidamente apoiada em apenas um dos pés, com os braços junto ao corpo. Quando estende os braços, sua massa torna-se menos concentrada no eixo (seu corpo) e o movimento tende a perder velocidade.
Um dos fabricantes que mais preza a distribuição de peso é a BMW. Além de manter a tração traseira em toda sua linha, utiliza recursos como rodas dianteiras bem avançadas -- observe esse detalhe num Série 3 --, habitáculo
recuado, como nos
roadsters Z3 e Z8, e até outras soluções visando ao equilíbrio entre os eixos, como transferir a bateria para o porta-malas.
Apesar da tração traseira, os BMWs atuais não tendem a desgarrar com esse eixo nas curvas, salvo se houver aplicação de muita potência com o controle de tração desligado: a marca trabalhou nas suspensões para gerar tendência ao subesterço, de controle mais simples pela maioria dos motoristas.
Quanto ao centro de gravidade: mais baixo, melhor a estabilidade. É fácil confirmar isso dirigindo um utilitário-esporte, qualquer que seja: em condições iguais de aderência dos pneus, nunca será tão equilibrado e estável nas curvas quanto um automóvel mais baixo.
O leitor aponta corretamente uma configuração de motor -- a de cilindros opostos ou
boxer -- que contribui para uma montagem baixa e, por conseqüência, para um baixo centro de gravidade. Esse esquema tem a preferência da Subaru e da Porsche, sendo também empregado nos Volkswagens refrigerados a ar, em alguns Alfa Romeos do passado e também nos famosos Ferrari Testarossa e Berlinetta
Boxer.
Finalmente, a configuração sugerida de motor boxer central e tração integral é realmente a que mais se aproxima do ideal em termos de distribuição de peso, centro de gravidade e divisão da transmissão de potência ao solo. É de se imaginar como ficaria um Porsche Boxster
(raio X na ilustração inferior) com a tração nas quatro rodas do 911 Carrera 4...
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