Best Cars Web Site Consultório Técnico

por Fabrício Samahá 

Como a distribuição de peso afeta
o comportamento dinâmico


Gostaria de saber se o balanceamento do peso de um veículo entre os eixos influencia na tendência de sobresterço ou subesterço. E quanto ao posicionamento do centro de gravidade adiantado, atrasado, alto e baixo? Como fica a estabilidade de um mesmo automóvel com diferentes distribuições de peso? Como comportam-se veículos com motores dianteiros, centrais e traseiros? Haveria carro mais estável que um com motor boxer central e de tração 4x4?

Alain Perez
Rio de Janeiro, RJ
apz@mailbr.com.br

O comportamento dinâmico de um automóvel nem sempre confirma o que se pode esperar com base nas configurações do veículo. As tendências de sobresterço (sair de traseira nas curvas) e subesterço (sair de frente) podem ser controladas pelo fabricante ou preparador do veículo para chegar ao comportamento desejado -- pelo piloto ou, no caso dos veículos de rua, pelo próprio fabricante em prol da segurança.

A distribuição de peso entre os eixos é fator importante nesse processo: quanto mais concentrado em um dos eixos, mais haverá tendência daquele eixo desgarrar nas curvas antes do outro.

Um Porsche 911 (raio X acima), por exemplo, com seu motor localizado na extremidade traseira, é caso típico de projeto com tendência ao sobresterço. No entanto, um bom desenvolvimento de suspensão e o uso de pneus bem mais largos nesse eixo tornam o 911 mais neutro e seguro nas curvas. Principalmente depois que foi adotada a suspensão traseira multibraço no lugar da por braços semi-arrastados, a partir de 1993, permitindo melhor posicionamento das rodas traseiras em todas as situações.

É por isso que se usa motor central em muitos esportivos e carros de competição -- seja dianteiro, à frente da cabine, ou traseiro, atrás dos ocupantes, como é mais comum. O objetivo nesse caso é concentrar as massas mais no centro do veículo, de maneira a se obter baixo momento polar de inércia. Mas, em contrapartida, como a massa das extremidades é menor, as respostas ao comando do motorista são mais rápidas, podendo surpreender os menos habilidosos. Além disso, carros com baixo momento polar de inércia não "avisam" que o limite está próximo, o que também pode surpreender.

Para entender bem o efeito do momento polar de inércia, os equilibristas que caminham sobre um fio a grandes alturas não conseguiriam fazê-lo sem a comprida barra. Maior o momento polar de inércia, maior a resistência à mudança de direção. Outra alusão interessante é a da bailarina que gira rapidamente apoiada em apenas um dos pés, com os braços junto ao corpo. Quando estende os braços, sua massa torna-se menos concentrada no eixo (seu corpo) e o movimento tende a perder velocidade.

Um dos fabricantes que mais preza a distribuição de peso é a BMW. Além de manter a tração traseira em toda sua linha, utiliza recursos como rodas dianteiras bem avançadas -- observe esse detalhe num Série 3 --, habitáculo recuado, como nos roadsters Z3 e Z8, e até outras soluções visando ao equilíbrio entre os eixos, como transferir a bateria para o porta-malas.

Apesar da tração traseira, os BMWs atuais não tendem a desgarrar com esse eixo nas curvas, salvo se houver aplicação de muita potência com o controle de tração desligado: a marca trabalhou nas suspensões para gerar tendência ao subesterço, de controle mais simples pela maioria dos motoristas.

Quanto ao centro de gravidade: mais baixo, melhor a estabilidade. É fácil confirmar isso dirigindo um utilitário-esporte, qualquer que seja: em condições iguais de aderência dos pneus, nunca será tão equilibrado e estável nas curvas quanto um automóvel mais baixo.

O leitor aponta corretamente uma configuração de motor -- a de cilindros opostos ou boxer -- que contribui para uma montagem baixa e, por conseqüência, para um baixo centro de gravidade. Esse esquema tem a preferência da Subaru e da Porsche, sendo também empregado nos Volkswagens refrigerados a ar, em alguns Alfa Romeos do passado e também nos famosos Ferrari Testarossa e Berlinetta Boxer.

Finalmente, a configuração sugerida de motor boxer central e tração integral é realmente a que mais se aproxima do ideal em termos de distribuição de peso, centro de gravidade e divisão da transmissão de potência ao solo. É de se imaginar como ficaria um Porsche Boxster (raio X na ilustração inferior) com a tração nas quatro rodas do 911 Carrera 4...

Página principal - e-mail

© Copyright 2001 - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados