Ambas
as condições devem ser evitadas, Filipe, mas por motivos diversos.
Álcool e gasolina diferem, basicamente, em dois fatores: a gasolina
tem maior poder calorífico (gera mais energia na queima), mas oferece
menor octanagem (entra em combustão mais facilmente, o que leva à detonação
com taxa de compressão muito elevada) do que o álcool. Na verdade o
álcool não possui octanas, mas é possível estabelecer um índice
de comparação.
Com isso, o motor a álcool possui taxa de compressão maior
(considerando motores com mesmo estágio evolutivo e sem sensor
de detonação), mas trabalha com mistura ar-combustível mais
rica (menos ar, mais combustível) que o propulsor a gasolina. Daí a
dificuldade em desprezar a diferença de taxa, como o leitor sugere:
não se conhece nenhum motor a álcool com apenas 9,5:1, enquanto
motores a gasolina com taxa elevada (acima de 11:1) são poucos e, sem
exceção, utilizam sensor de detonação -- que o álcool dispensa
com essa taxa.
Ainda assim, apenas como referência, um motor a gasolina alimentado
por injeção, com taxa de 9,5:1, tende a sofrer com a mistura muito
pobre caso rode apenas com álcool. Esperam-se falhas de
dirigibilidade, sobretudo em baixa rotação e com o motor frio. A
partida a frio também é bastante prejudicada, já que a injeção
dificilmente conseguirá enriquecer a mistura o bastante para essa
condição; há ainda o problema da ausência do sistema de injeção
de gasolina a frio, que todo carro a álcool ainda possui.
Já um motor a álcool com taxa de 9,5:1 poderia rodar com gasolina
sem maiores problemas, a não ser que a injeção não conseguisse
empobrecer a mistura o suficiente. Entretanto, como dissemos, essa
taxa hipotética não corresponde à realidade. Com as taxas entre
11:1 e 13:1, normalmente usadas com álcool, esses motores
apresentariam forte tendência à detonação, que pode danificar
gravemente o motor.
Portanto, consideradas as taxas efetivamente utilizadas, o uso de
gasolina no motor a álcool é mais perigoso que o contrário.
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