O cupê de conceito Asso di
Picchie de Giorgetto Giugiaro, com base no 80, propunha linhas angulosas
nas quais o Scirocco seria inspirado
Com desenho da mesma ItalDesign,
o Scirocco estreava pouco antes do Golf e sugeria esportividade por seu
perfil baixo e traseira inclinada
Revestimentos alegres, volantes
esportivos e vários instrumentos no interior do modelo, que não tinha no
espaço traseiro um bom atributo |
A
fórmula de combinar uma carroceria jovial e esportiva à plataforma e à
mecânica de um automóvel acessível já havia dado certo na Volkswagen
desde 1955, ano do lançamento da primeira geração (Tipo 14) do
Karmann Ghia. O chassi do
Fusca, com seus motores de 1,2 a 1,6 litro,
havia sido "vestido" com um belo e atemporal desenho de linhas
arredondadas criado pelo estúdio italiano Ghia, tão atraente que durou
praticamente duas décadas até 1974. Nem mesmo o
Tipo 34, o KG de segunda geração, pôde
substituí-lo — foi produzido entre 1962 e 1969.
Contudo, na década de 1970, a tradicional concepção de motor traseiro de
cilindros opostos (boxer) arrefecido a
ar, com tração também atrás, estava caindo em desuso na VW. A aquisição
da Audi em 1965, que trouxe no pacote a marca NSU, havia colocado em
pauta na fábrica de Wolfsburg conceitos técnicos mais parecidos com os
de outras marcas, com motor refrigerado a líquido, cilindros em linha e
tração dianteira. Experimentada em um modelo que não parecia um VW — o
K 70, de vida breve —, essa arquitetura
passou a ser aplicada aos automóveis que representariam a marca nos
principais segmentos: o médio Passat,
lançado em 1973; o médio-pequeno Golf,
um ano depois; e o pequeno Polo, em 1975.
Dentro desse novo contexto da VW, o Karmann Ghia refletia um período
passado e já não fazia sentido. No Salão de Frankfurt de 1973 o estúdio
ItalDesign de Giorgetto Giugiaro
apresentava um carro-conceito de linhas muito angulosas, o Audi Asso di
Picchie (ás de espadas), um cupê de duas portas com vidros bem
inclinados e um mínimo de curvas por toda a carroceria. Na época estava
em avançado estágio de desenvolvimento um novo esportivo com estilo
inspirado no do conceito, também de Giugiaro, e fabricação a cargo da
mesma empresa parceira — a Karmann Ghia, sediada em Osnabrück, Alemanha,
a 220 quilômetros de Wolfsburg. A plataforma, contudo, não seria a de
Audi 80 e Passat como no estudo
da ItalDesign, e sim a mais compacta do Golf, ainda por ser lançado.
Em março de 1974, três meses antes do próprio Golf, chegava ao mercado
alemão o Scirocco, nome italiano do vento mediterrâneo siroco, que sopra
do deserto do Saara e chega ao norte da África e ao sul da Europa
(curiosamente, um nome árabe para esse vento é ghibli, que denominou um
Maserati). Dos anos 70 aos 90 a VW usaria
vários outros nomes de ventos em seus carros, como Passat, Golf,
Santana e Bora. Embora possa
ser considerado um cupê por suas formas esportivas e perfil baixo, o
Scirocco seguia a mesma concepção de dois volumes e três portas do Golf,
só que com o vidro traseiro mais inclinado. A frente trazia quatro
faróis circulares na grade preta, os para-choques cromados tinham
ponteiras de plástico e a linha de base das janelas mostrava uma
ascensão após as portas. As colunas traseiras espessas sinalizavam um
padrão que acompanharia o Golf por todas as gerações. Não se surpreenda
com sua semelhança a nosso primeiro
Gol, que foi
evidentemente inspirado no modelo alemão.
O Scirocco era bastante compacto, com 3,88 metros de comprimento, 1,62 m
de largura, apenas 1,31 m de altura e 2,40 m de distância entre eixos, e
pesava meros 800 kg na versão de entrada. O interior, que transmitia
esportividade com a baixa posição dos bancos, trazia um painel de linhas
retas que deixava o aparelho de áudio e outros comandos bem à mão. Os
grandes mostradores — velocímetro e conta-giros, este com instrumentos
em seu interior — eram complementados por termômetro de óleo e relógio
no console. O volante de três raios e aro espesso dava outro toque
esportivo à versão TS, a mais cara disponível, acima da L e da S.
Com quatro cilindros em linha, comando de
válvulas no cabeçote e montagem transversal inclinada para trás para
permitir um capô mais baixo, os motores vinham de início em duas opções
de cilindrada: de 1,1 litro, com potência de 50 cv e torque de 7,9
m.kgf, e de 1,5 litro com 70 cv/11,4 m.kgf ou 85 cv/12,3 m.kgf. A caixa
manual tinha quatro marchas, com opção por uma automática de três, e as
suspensões seguiam os conceitos que a VW tornaria padrões em sua linha,
com sistema independente McPherson na frente e eixo de torção na
traseira, sempre com molas helicoidais. Nos Estados Unidos, onde era
lançado um ano mais tarde, o carro oferecia também a unidade de 1,7
litro e 74 cv da mesma família de motores. Era uma forma de contornar as
perdas de potência trazidas por dispositivos de redução de emissões
poluentes, cujas normas eram bem mais severas por lá, na época, que na
Europa.
A revista norte-americana Popular Science recebeu bem a novidade:
"Ele é menor, mais leve, mais espaçoso, com melhor desempenho e menor
consumo" em comparação ao Karmann Ghia que ele substituía. Em 1976 ela
confrontava o modelo da VW ao Toyota
Celica e ao Triumph TR7, dando
vantagem ao Scirocco em economia, conforto de marcha (empatado com o
Celica) e visibilidade e não o colocando em último em nenhum quesito.
Ele mostrou a aceleração mais rápida e o menor consumo. E deixou boas
sensações: "O Scirocco tem o jeito sólido de um carro mais pesado em
alta velocidade, apesar de seu baixo peso. Ainda assim, passa uma
sensação de controle e agilidade que não se encontra na maioria dos
sedãs."
Continua
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