Rajada de vento

Opção mais esportiva ao Golf nos anos 70 e 80, o Volkswagen Scirocco
ressurgiu após 16 anos com vigor apropriado aos novos tempos

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O cupê de conceito Asso di Picchie de Giorgetto Giugiaro, com base no 80, propunha linhas angulosas nas quais o Scirocco seria inspirado

Com desenho da mesma ItalDesign, o Scirocco estreava pouco antes do Golf e sugeria esportividade por seu perfil baixo e traseira inclinada

Revestimentos alegres, volantes esportivos e vários instrumentos no interior do modelo, que não tinha no espaço traseiro um bom atributo

A fórmula de combinar uma carroceria jovial e esportiva à plataforma e à mecânica de um automóvel acessível já havia dado certo na Volkswagen desde 1955, ano do lançamento da primeira geração (Tipo 14) do Karmann Ghia. O chassi do Fusca, com seus motores de 1,2 a 1,6 litro, havia sido "vestido" com um belo e atemporal desenho de linhas arredondadas criado pelo estúdio italiano Ghia, tão atraente que durou praticamente duas décadas até 1974. Nem mesmo o Tipo 34, o KG de segunda geração, pôde substituí-lo — foi produzido entre 1962 e 1969.

Contudo, na década de 1970, a tradicional concepção de motor traseiro de cilindros opostos (boxer) arrefecido a ar, com tração também atrás, estava caindo em desuso na VW. A aquisição da Audi em 1965, que trouxe no pacote a marca NSU, havia colocado em pauta na fábrica de Wolfsburg conceitos técnicos mais parecidos com os de outras marcas, com motor refrigerado a líquido, cilindros em linha e tração dianteira. Experimentada em um modelo que não parecia um VW — o K 70, de vida breve —, essa arquitetura passou a ser aplicada aos automóveis que representariam a marca nos principais segmentos: o médio Passat, lançado em 1973; o médio-pequeno Golf, um ano depois; e o pequeno Polo, em 1975.

Dentro desse novo contexto da VW, o Karmann Ghia refletia um período passado e já não fazia sentido. No Salão de Frankfurt de 1973 o estúdio ItalDesign de Giorgetto Giugiaro apresentava um carro-conceito de linhas muito angulosas, o Audi Asso di Picchie (ás de espadas), um cupê de duas portas com vidros bem inclinados e um mínimo de curvas por toda a carroceria. Na época estava em avançado estágio de desenvolvimento um novo esportivo com estilo inspirado no do conceito, também de Giugiaro, e fabricação a cargo da mesma empresa parceira — a Karmann Ghia, sediada em Osnabrück, Alemanha, a 220 quilômetros de Wolfsburg. A plataforma, contudo, não seria a de Audi 80 e Passat como no estudo da ItalDesign, e sim a mais compacta do Golf, ainda por ser lançado.

Em março de 1974, três meses antes do próprio Golf, chegava ao mercado alemão o Scirocco, nome italiano do vento mediterrâneo siroco, que sopra do deserto do Saara e chega ao norte da África e ao sul da Europa (curiosamente, um nome árabe para esse vento é ghibli, que denominou um Maserati). Dos anos 70 aos 90 a VW usaria vários outros nomes de ventos em seus carros, como Passat, Golf, Santana e Bora. Embora possa ser considerado um cupê por suas formas esportivas e perfil baixo, o Scirocco seguia a mesma concepção de dois volumes e três portas do Golf, só que com o vidro traseiro mais inclinado. A frente trazia quatro faróis circulares na grade preta, os para-choques cromados tinham ponteiras de plástico e a linha de base das janelas mostrava uma ascensão após as portas. As colunas traseiras espessas sinalizavam um padrão que acompanharia o Golf por todas as gerações. Não se surpreenda com sua semelhança a nosso primeiro Gol, que foi evidentemente inspirado no modelo alemão.

O Scirocco era bastante compacto, com 3,88 metros de comprimento, 1,62 m de largura, apenas 1,31 m de altura e 2,40 m de distância entre eixos, e pesava meros 800 kg na versão de entrada. O interior, que transmitia esportividade com a baixa posição dos bancos, trazia um painel de linhas retas que deixava o aparelho de áudio e outros comandos bem à mão. Os grandes mostradores — velocímetro e conta-giros, este com instrumentos em seu interior — eram complementados por termômetro de óleo e relógio no console. O volante de três raios e aro espesso dava outro toque esportivo à versão TS, a mais cara disponível, acima da L e da S.

Com quatro cilindros em linha, comando de válvulas no cabeçote e montagem transversal inclinada para trás para permitir um capô mais baixo, os motores vinham de início em duas opções de cilindrada: de 1,1 litro, com potência de 50 cv e torque de 7,9 m.kgf, e de 1,5 litro com 70 cv/11,4 m.kgf ou 85 cv/12,3 m.kgf. A caixa manual tinha quatro marchas, com opção por uma automática de três, e as suspensões seguiam os conceitos que a VW tornaria padrões em sua linha, com sistema independente McPherson na frente e eixo de torção na traseira, sempre com molas helicoidais. Nos Estados Unidos, onde era lançado um ano mais tarde, o carro oferecia também a unidade de 1,7 litro e 74 cv da mesma família de motores. Era uma forma de contornar as perdas de potência trazidas por dispositivos de redução de emissões poluentes, cujas normas eram bem mais severas por lá, na época, que na Europa.

A revista norte-americana Popular Science recebeu bem a novidade: "Ele é menor, mais leve, mais espaçoso, com melhor desempenho e menor consumo" em comparação ao Karmann Ghia que ele substituía. Em 1976 ela confrontava o modelo da VW ao Toyota Celica e ao Triumph TR7, dando vantagem ao Scirocco em economia, conforto de marcha (empatado com o Celica) e visibilidade e não o colocando em último em nenhum quesito. Ele mostrou a aceleração mais rápida e o menor consumo. E deixou boas sensações: "O Scirocco tem o jeito sólido de um carro mais pesado em alta velocidade, apesar de seu baixo peso. Ainda assim, passa uma sensação de controle e agilidade que não se encontra na maioria dos sedãs." Continua

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Data de publicação: 3/7/10

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