Santa irreverência

As linhas esportivas do cupê P1800 e da perua 1800ES quebraram os
sisudos padrões da Volvo, já famosa pela segurança e a robustez

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Um antecessor que a Volvo queria esquecer: o conversível P1900 não só tinha estilo pouco atraente e baixa potência, como foi problemático

O desenho do P1800 foi escolhido entre cinco propostas da Ghia; esse é um dos três protótipos que acusaram a inadequação do motor 1,6-litro

As linhas do projeto original foram mantidas no modelo de produção, com frente longa, cabine compacta e aletas nos para-lamas traseiros

Automóveis sisudos, de linhas retas e projeto voltado à confiabilidade e à segurança dos ocupantes, são o que as pessoas se acostumaram a encontrar nos antigos Volvos — a ressalva se faz necessária diante dos recentes lançamentos da marca, que abandonam a cada dia o aspecto sóbrio em busca de um estilo mais ousado. Contudo, na década de 1960 o fabricante sueco produziu um modelo de caráter esportivo e formas arredondadas, que ganhou fama na televisão: o P1800.

Esse não foi o primeiro Volvo com tais pretensões. Em 1955 havia sido apresentado o P1900 ou Volvo Sport, um conversível que estava longe de ser um expoente em estética, com motor de 1,4 litro e 70 cv, que teve apenas 68 unidades produzidas. Problemático, o modelo ensinou aos suecos muito do que não  deveria ser feito para trazer jovialidade à imagem da Volvo, já então mais associada a robustez e segurança que a desempenho ou estilo esportivo.

Helmer Petterson, consultor de engenharia da empresa, era um dos muitos insatisfeitos com o P1900, mas acreditava que um novo caminho deveria ser tentado antes da desistência. Ao diretor Gunnar Engellau ele sugeriu, em 1956, que a Volvo desenvolvesse outro carro esporte, dessa vez com base na linha Amazon (série 120) de sedãs, recém-apresentada ao mercado. Petterson foi então encarregado de obter propostas de estilo com estúdios externos, sobretudo os italianos, que na época já desfrutavam grande prestígio nessa atividade.

Seu filho Pelle trabalhava na Ghia, que foi a óbvia opção de Petterson em primeiro lugar. O estúdio havia adquirido outro, o de Pietro Frua, de modo que a encomenda firmada pela Volvo em abril de 1957 levou a quatro projetos: dois assinados pela própria Ghia e dois pela equipe que antes trabalhava na Frua. Um quinto desenho seria criado pelo próprio Pelle após seu pai convencer Luigi Segre, diretor da Ghia, de que o jovem de 24 anos tinha talento para tanto.

Em agosto, Engellau recebia as cinco propostas e — ao que consta, sem saber que era a do filho de seu consultor — mostrava clara preferência pela de Pelle, descartando as demais sem maior atenção. A autoria do desenho foi creditada ao estúdio Frua, como previsto, e levaria anos até que a Volvo admitisse que o jovem Petterson fosse o responsável pela criação.

O estúdio passou então a construir os protótipos do esportivo, identificados como P956-X1, X2 e X3. Dentro das lições aprendidas com o fracassado P1900, o novo carro teria carroceria de aço, em vez de plástico reforçado com fibra de vidro, e usaria grande número de componentes do sedã Amazon para baratear a produção. Desse modelo vieram a plataforma, que foi encurtada, e órgãos como caixa de câmbio, transmissão, eixo traseiro e suspensões.

Enquanto o projeto se desenvolvia, restavam algumas questões — uma delas, onde fabricar o carro sem afetar a produção normal da linha de automóveis, que havia mais que duplicado durante a década de 1950 e já não deixava muito espaço ocioso na fábrica. A Petterson coube, dessa vez, encontrar uma empresa capacitada. A Karmann parecia boa opção, mas seus contratos com a Volkswagen para produzir o cupê Karmann Ghia e o Fusca conversível levaram-na a recusar a proposta.

Depois de conversas sem sucesso com outras empresas alemãs, a Volvo decidiu-se pela escocesa Pressed Steel's Linwood, para fazer as carrocerias, e pela inglesa Jensen Motors Ltd. para montagem dos carros. O problema foi que tal processo distante da Suécia inviabilizou o uso das plataformas do Amazon, sendo preciso desenvolver um assoalho específico. Depois da fabricação, havia o problema do motor: testes nos protótipos com o 1,6-litro de 85 cv usado pelo 122S mostraram desempenho insuficiente para as pretensões do novo automóvel.

A solução foi projetar um bloco de maiores dimensões, o B18 (B de bensin, gasolina em sueco), que partia de 1,8 litro e permitiria aumento posterior de cilindrada, pelo maior espaço entre os centros de cilindros. Era um motor de concepção tradicional, com bloco e cabeçote de ferro fundido e comando de válvulas no bloco, mas que se mostraria muito robusto e com potência apropriada.

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Data de publicação: 19/11/11

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