Sushi bem temperado

Em quatro gerações, duas delas vendidas nos EUA como Lexus SC, o
Toyota Soarer provou que o Japão já sabia fazer um grã-turismo

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

No modelo inicial do Soarer, linhas retas e amplos vidros; os motores de 2,0 e 2,8 litros tinham seis cilindros em linha e a tração era traseira

O interior luxuoso trazia tecnologias como ar-condicionado automático e painel digital; suspensão com controle eletrônico foi oferecida depois


Evoluções posteriores: a versão de 2,0 litros com 24 válvulas (acima) e a opção de topo GT Limited, dotada de freios antitravamento já em 1984

Em seus quase 75 anos de atividade, a Toyota sempre foi vista como um fabricante voltado a automóveis funcionais — meios de transporte robustos, confiáveis, com diferentes graus de conforto e desempenho, mas raramente capazes de despertar emoção no motorista. Por outro lado, modelos esportivos brilharam em diferentes fases da história da marca, como o 2000 GT de 1967, considerado o primeiro supercarro da indústria japonesa, e os longevos Celica e Supra, lançados em 1970 e 1979 (na ordem) e produzidos em diversas gerações.

Uma dose de esportividade, associada a um nível de conforto superior e a requintes tecnológicos, foi o que a Toyota decidiu aplicar a seu primeiro cupê grã-turismo, apresentado em fevereiro de 1981: o Soarer. Quase desconhecido no Brasil, esse modelo ganhou projeção mundial ao dar origem, em sua segunda geração, ao primeiro cupê da divisão de prestígio Lexus — o SC 300/400 — e, na terceira, ao conversível de luxo SC 430 da mesma marca. No mercado japonês o Soarer manteve seu nome e o emblema da Toyota, enquanto sua versão mais nobre conquistava mercados como o norte-americano.

Lançado para suceder à versão cupê do Mark II, o primeiro Soarer (código Z10) tinha as formas habituais dos carros japoneses de seu tempo, com linhas retas, faróis e lanternas retangulares, ampla área de vidros e para-choques bem integrados ao desenho. Chamavam atenção as colunas traseiras muito estreitas, para melhor visibilidade. Em algumas versões, as molduras laterais seguiam em forma e cor os para-choques. Os retrovisores vinham avançados, nas laterais do capô, como era exigido à época pela legislação do país (hoje, apenas em utilitários).

Com 4,65 metros de comprimento, 1,69 m de largura, 1,36 m de altura, 2,66 m de distância entre eixos e peso a partir de 1.180 kg, o Soarer era considerado um carro grande pelos padrões japoneses da época. Seu interior era uma demonstração das tecnologias que a Toyota podia aplicar a um automóvel, com painel de instrumentos digitais, ar-condicionado com controle automático de temperatura por toques na tela e sistema de verificação que apontava a necessidade de manutenções.

O primeiro Soarer compartilhava parte da mecânica com o Cressida, um sedã de linhas impessoais, típicas dos produtos que a Toyota vende em grande volume. Estavam disponíveis dois motores de seis cilindros em linha: um de 2,0 litros e comando de válvulas único, com potência de 125 cv e torque de 17,5 m.kgf, e outro de 2,8 litros com duplo comando, 170 cv e 24 m.kgf, ambos com injeção eletrônica e catalisador. Havia escolha entre câmbio manual de cinco e automático de quatro marchas, sempre com tração traseira. As suspensões eram modernas — dianteira McPherson e traseira independente por braço semiarrastado, como nos BMWs de seu tempo — e todas as rodas vinham freadas por discos.

Avaliado pela revista inglesa Car  no Japão, o cupê deixou boas impressões nessa primeira tentativa da Toyota de fazer um grã-turismo: "O Soarer tem bom desempenho geral, com aceleração de 0 a 96 km/h em nove segundos. A direção e o comportamento são ótimos na maioria dos aspectos e o conforto de marcha é geralmente aceitável, embora ele precise de mais controle de amortecimento sobre ondulações. Eu preferiria um painel de instrumentos convencional, pois o velocímetro digital muda continuamente e sua iluminação é cansativa".

A revista concluiu a análise ao considerar o Soarer "um Toyota excepcional — muito silencioso, em geral prazeroso de dirigir e com sensação de solidez. Não queremos dizer que ele esteja na mesma classe de um [Opel] Monza, um [Mercedes-Benz] SLC ou um Jaguar, mas é um carro que os engenheiros de Munique, Stuttgart e Coventry fariam bem em estudar para ver como o mundo está mudando".

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Data de publicação: 5/4/12

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