Questão de prestígio

Potente e confortável, o Senator buscou colocar a Opel no patamar
de Mercedes-Benz e BMW, mas esbarrou na imagem da marca

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Ampla grade quadriculada, janela adicional atrás das portas, lanternas horizontais: recursos estéticos para o Senator se distinguir do Rekord

No interior, amplo espaço, fartos equipamentos de conveniência e luxo no revestimento dos bancos, acompanhado por plásticos da mesma cor

As autobahnen — autoestradas alemãs construídas para não ter limite de velocidade, embora essa condição seja mais rara hoje em dia — foram, por tradição, dominadas pelos grandes Mercedes-Benz e BMW de seis e oito cilindros, além dos Porsches e de carros esporte de diversas procedências. Mas outros fabricantes miraram seus olhos para esse símbolo da Alemanha entre os entusiastas, caso da Opel, o braço local da General Motors.

Opels grandes e potentes para sua época foram produzidos antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, quando as autobahnen ainda começavam a ser abertas. O Admiral de 1937, com motor de seis cilindros em linha e 3,6 litros, teve sucessor na década de 1960 com o modelo homônimo, que podia ter os seis-em-linha de 2,6 e 2,8 litros e um V8 Chevrolet de origem norte-americana com 4,6 litros e 190 cv. Houve ainda no período o luxuoso Diplomat, com o mesmo 4,6 e um V8 de 5,4 litros e 230 cv, que concorria com o Mercedes Classe S. Nos anos 70, a Opel desenvolvia um sucessor para o Commodore — a versão mais luxuosa e de seis cilindros do Rekord — e para o Admiral, enquanto outro projeto caminhava para se tornar o substituto do Diplomat, com oito cilindros.

Contudo, os efeitos da crise do petróleo de 1973 afetaram até o segmento de luxo do mercado europeu, levando os fabricantes a estudar alternativas mais econômicas. O gastador V8 norte-americano já não tinha lugar naquele cenário, o que a levou a cancelar o projeto do novo Diplomat. O outro carro em desenvolvimento, de seis cilindros, recebeu a incumbência de ocupar o topo da linha da marca alemã, tornando-se sucessor tanto do Admiral e do Commodore quanto do Diplomat. Para conter custos de desenvolvimento, ele aproveitaria muitos componentes mecânicos da nova geração do Rekord prevista para 1977. Os planos da Opel incluíam um cupê, o Monza (leia boxe abaixo), com a mecânica e a plataforma do sedã.

O Opel Senator era apresentado em agosto de 1977 para cumprir o papel de sedã de topo da marca
— e da inglesa Vauxhall, que o vendia com o nome Royale. Imponente, seu estilo antecipava tendências que a marca estenderia a toda sua linha na década seguinte. Enquanto o novo Rekord usava faróis retangulares e grade alinhada a eles no topo, no Senator as luzes assumiam a forma de um trapézio e tinham altura pouco maior que a da grade, sugerindo que o capô avançasse sobre esta última. A carroceria de linhas simples trazia poucos vincos e adornos, mostrando certo cuidado com a aerodinâmica (notado também pela ausência de quebra-vento), e diferenciava-se também nas portas traseiras e na parte posterior. Se o Rekord tinha apenas duas janelas e um vigia fixo nessas portas, o Senator acrescentava um vidro triangular na coluna traseira.

Mesmo que o raio da Opel na grade não tivesse o carisma da estrela de três pontas ou da hélice estilizada azul e branca, o carro mostrava um desenho elegante e contemporâneo. Era também correto no acabamento e nos equipamentos de série, dentro do padrão germânico de sobriedade. Estava disponível nos acabamentos básico, C e CD. Revestimento interno em couro, teto solar, lavadores de farol, direção assistida, controlador de velocidade, volante ajustável em altura, diferencial autobloqueante e controle elétrico dos vidros, travas, tampa do porta-malas e antena estavam incluídos no CD; ar-condicionado era opcional, assim como nivelamento automático da suspensão traseira. O painel da versão era completo, com conta-giros, manômetro de óleo e voltímetro. As várias opções de cores internas — preto, azul, verde, vermelho e bege — traziam grande número de componentes no mesmo tom do revestimento dos bancos.

Respeitando a arquitetura clássica das marcas com que pretendia concorrer — motor longitudinal de seis cilindros em linha e tração traseira —, o Senator oferecia duas versões do tradicional propulsor de comando de válvulas no cabeçote da marca, usado pela primeira vez no Admiral de 1964. Com 2,8 litros e carburador (versão 2.8 S), desenvolvia potência de 140 cv e torque de 22,2 m.kgf para levar o carro a 190 km/h; com 3,0 litros e injeção de combustível Bosch L-Jetronic (3.0 E, de Einspritzung, injeção) passava a 180 cv e 25,2 m.kgf, que representavam 210 km/h. Continua

Monza, o cupê
O papel do antigo Commodore de duas portas foi cumprido, de 1978 a 1986, por um modelo com a mesma mecânica e o desenho frontal do Senator. O cupê Monza (sem relação com o Chevrolet de mesmo nome feito no Brasil, que na Europa era o Opel Ascona) usava a plataforma do sedã, com entre-eixos 25 mm mais curto, e compartilhava os motores de 2,5, 2,8 e 3,0 litros.

Com perfil baixo e esportivo, ampla terceira porta e larga coluna central, não se parecia com o Monza brasileiro apenas no nome: lembrava realmente o carro nacional, só que com maior porte e um aspecto imponente. Ele acompanhou a reforma dianteira do Senator em 1982 e também recebeu motores de 2,0 e 2,2 litros de quatro cilindros.

Sua versão mais atraente, a GSE, vinha com motor 3,0 a injeção de 180 cv, bancos especiais Recaro, painel digital, rodas pretas e suspensão mais firme. Contudo, o Monza não sobreviveu à mudança de geração do Senator em 1987. Para o segmento de cupês a Opel teria, dois anos depois, o Calibra derivado do Vectra — belo, mas sem a tração traseira.

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 31/7/10

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade