O czar dos Urais

Rústico e competente, o Lada Niva cumpriu seu potencial
aventureiro como um dos primeiros utilitários esporte

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Utilitários esporte — denominação ainda não usada à época — eram um segmento restrito nos anos 70. Esse universo surgiu quando o Jeep Willys definiu o que é um jipe e, já no pós-guerra, sofreu as primeiras mutações para dar origem a peruas fora-de-estrada, mais próximas dos carros de passeio. Após três décadas, praticamente só havia o inglês Range Rover e os americanos Jeep Wagoneer e Cherokee e o International Scout. Apesar do gigantesco território e da notável variedade de paisagens inóspitas da antiga União Soviética, era improvável que um utilitário criado num país sem grande tradição na indústria automobilística vingasse. Isso até que em 1977 nasceu o Lada Niva.

Conhecido como Lada no restante do mundo, na então URSS esse fabricante tinha o nome AutoVAZ, também conhecida por VAZ. No início a marca fora chamada de Zhiguli, mas isso também apenas no mercado interno. A empresa nascera em 1966 de um acordo entre a Fiat e a URSS para construir uma fábrica de automóveis, às margens do Rio Volga, que produzisse um carro popular a exemplo do Volkswagen. A operação demandou até a construção de uma usina hidroelétrica que inundou e varreu definitivamente do mapa todo um município, Stavropol.

Os sedãs e peruas 1200, 1300 e 1500, baseados no Fiat 124, foram os principais modelos da Lada junto do Niva; em versões posteriores eles chegariam ao mercado brasileiro como Laika

Uma nova cidade erguida nos arredores da fábrica seria chamada Togliatti, em homenagem ao líder comunista italiano Palmiro Togliatti. Dessa sinergia entre os soviéticos e os italianos da Fiat vieram carros como os Ladas 1200, 1300 e 1500, todos derivados do Fiat 124, entre outros modelos posteriores que propiciaram a um número bem maior de russos ter acesso a um carro próprio. As más condições das vias e o inverno de temperaturas muito rigorosas no país, porém, pediam uma opção de veículo fechado para todo tipo de terreno.

Para isso foi pensado o Niva. Ele foi o primeiro projeto da Lada a não utilizar um modelo da Fiat como base. Embora o fabricante italiano já tivesse desenvolvido seu próprio jipe, o Campagnola, os russos decidiram criar seu utilitário com tecnologia e desenho próprios. O resultado foi um dos carros mais marcantes já criados pela indústria soviética, tanto que até hoje esse projeto original é produzido. Mundo afora, ele é talvez a primeira imagem que vem à mente quando se fala em carro russo. E isso ganha relevância quando consideramos que o mercado local já dispunha de dois jipes.

Em 1976 era apresentado o pequeno jipe russo: estrutura monobloco, linhas simples e retas, desenho da própria Lada e motor de 1,6 litro a gasolina

Um deles era o LUMZ-969-A, fabricado desde 1967 e equipado com um motor V4 de apenas 39 cv. O outro, mais tradicional, era o UAZ-469. Lançado em 1972, tinha quatro portas e seu motor de quatro cilindros em linha rendia 75 cv. As paisagens naturais russas, amplas e rudimentares para o trânsito de automóveis, marcadas por planícies, tundras e formações rochosas como os montes Urais, já tinham seus soldados desbravadores. Faltava um veículo capaz de fazer o mesmo com mais conforto e boas maneiras também no asfalto e nos cenários urbanos.

Independência e bravura   O projeto do Niva teve início em 1971. Vladimir Sergeevich Solovev chefiava a empreitada, enquanto Valery Pavlovich Semushkine comandava a equipe de projetistas. A princípio, o Niva seria mesmo um jipe tradicional com teto de lona. Dois protótipos foram preparados, ainda com o motor de 1,3 litro da Fiat. Logo depois o projeto evoluiu para um modelo fechado com motor 1,6. Já em meados de 1973, com ajuda de engenheiros da UAZ, a Lada dava início aos testes de protótipos no Uzbequistão. Continua

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Data de publicação: 4/8/07

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