As linhas equilibradas dos sedãs
da série W114/W115 mostravam uma beleza duradoura; além da Alemanha,
foram produzidos na África do Sul
O estúdio de estilo da marca,
onde Paul Bracq desenhou essa geração de Classe E; no interior, painel
tradicional e volante com aro de buzina |
A
estrela de três pontas é certamente um dos emblemas da indústria
automobilística mais conhecidos mundo afora. Não importa onde você
esteja, os que o virem passar em um carro com tal distintivo à frente,
em geral "espetado" sobre uma ampla e imponente grade cromada, saberão
que se trata de um Mercedes-Benz, marca que simboliza valores como
requinte, solidez e longevidade. E uma parcela expressiva dessa
reputação, conquistada década após década, pode ser atribuída à linha
conhecida como Classe E.
Embora tal denominação só tenha sido adotada nos anos 90, a fábrica
alemã também identifica dessa forma as diversas gerações que procederam
o atual Classe E, uma dinastia que começou antes mesmo da Segunda Guerra
Mundial. O modelo 170 V (código interno
W136, em que W significa wagen ou carro em alemão) foi lançado em 1936 e
deu lugar em 1953 à série conhecida como Ponton,
alusão aos para-lamas arredondados, de códigos W120, W121, W128 e W180.
Com linhas inspiradas nos automóveis norte-americanos da época, a
geração seguinte — designada como
W110, W111 e W112 e lançada em 1961 — ganhou o apelido Fintail por
causa das aletas nos para-lamas traseiros.
Até esse modelo, apesar de toda a evolução em estilo, conforto e
segurança, a construção dos Mercedes continuava parecida com a dos
modelos de antes da guerra, em particular pela já ultrapassada suspensão
traseira independente com semieixos oscilantes, como no
Fusca. Era hora de quebrar essa tradição, sem
recorrer a formas ousadas que pudessem afastar os clientes mais
conservadores. Em janeiro de 1968 a Mercedes apresentava a série
W114/W115 como New Generation Models, modelos de nova geração. Nome que
não emplacou, porém: ao usar a identificação "/8" (barra-oito) em
referência ao ano de lançamento, a fábrica levou os fãs a adotarem o
apelido Strich Acht em alemão, traduzido para o inglês como Stroke Eight.
O público pôde vê-lo pela primeira vez em março no Salão de Genebra.
Paul Bracq, que atuava na empresa desde 1957 e havia trabalhado antes
para a Citroën, foi encarregado de desenhar o novo automóvel com
assistência de Bruno Sacco,
que seria seu sucessor na função. O francês conhecia muito bem os
padrões de estilo da marca, pois havia concebido o superluxuoso
600, o
SL "Pagoda" de 1963 e o
Classe S W108. Para o W114/W115
ele definiu linhas discretas e equilibradas, sem os exagerados
para-lamas do antecessor Fintail. De fato, a década de 1960 havia sido
um período de sobriedade para o desenho automobilístico mesmo nos
Estados Unidos, onde os excessos haviam dado lugar à simplicidade, e o
novo sedã deveria seguir essa tendência.
O equilíbrio estava bem à vista: capô e tampa do porta-malas à mesma
altura, para-lamas dianteiros e seção central do capô pouco mais altos
que as partes laterais — criando "sulcos" visíveis pelo motorista —,
faróis circulares atrás de lentes quase retangulares na vertical,
para-choques cromados com faixa de proteção, ampla área envidraçada,
lanternas traseiras pequenas. E, claro, a grade cromada de dimensões
consideráveis com a estrela fincada no topo. Nas rodas de 14 pol, a
calota central acompanhava a cor da carroceria. A versão de topo 250
vinha com para-choques de lâminas duplas.
Já na época insatisfeita com as limitações de área de varredura dos
limpadores de para-brisa convencionais, a Mercedes adotava braços em
sentidos opostos, como os usados hoje em modelos como Honda Civic,
Peugeot 307 e algumas minivans. Assim, os braços limpavam ambos os
cantos superiores do vidro e não só o do lado esquerdo. Nos anos 80 a
evolução chegaria ao limpador monobraço da série
W124. Após sair da Mercedes pouco
antes da apresentação do carro, em 1967, Bracq trabalhou na BMW (1970 a
1974) e na Peugeot (1974 a 1996).
Tradição e sobriedade estavam também no interior, que trazia elevada
qualidade de acabamento, ainda que sem ostentação. Mesmo com bancos
dianteiros individuais e console central, a marca mantinha a alavanca de
câmbio na coluna de direção. Elementos herdados de Mercedes anteriores
eram o grande volante com aro fino, almofada central e aro de buzina —
que produzia um som característico, muito copiado mundo afora. No
painel, o velocímetro em escala vertical do Fintail dava lugar ao
instrumento circular em um painel simples e bem legível. Revestimento
dos bancos em couro e teto solar eram opcionais.
Continua
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