Concebido para durar

Os Mercedes-Benz "barra-oito", das séries W114 e W115, ficaram
famosos no mundo todo pelo conforto, robustez e longevidade

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

As linhas equilibradas dos sedãs da série W114/W115 mostravam uma beleza duradoura; além da Alemanha, foram produzidos na África do Sul

O estúdio de estilo da marca, onde Paul Bracq desenhou essa geração de Classe E; no interior, painel tradicional e volante com aro de buzina

A estrela de três pontas é certamente um dos emblemas da indústria automobilística mais conhecidos mundo afora. Não importa onde você esteja, os que o virem passar em um carro com tal distintivo à frente, em geral "espetado" sobre uma ampla e imponente grade cromada, saberão que se trata de um Mercedes-Benz, marca que simboliza valores como requinte, solidez e longevidade. E uma parcela expressiva dessa reputação, conquistada década após década, pode ser atribuída à linha conhecida como Classe E.

Embora tal denominação só tenha sido adotada nos anos 90, a fábrica alemã também identifica dessa forma as diversas gerações que procederam o atual Classe E, uma dinastia que começou antes mesmo da Segunda Guerra Mundial. O modelo 170 V (código interno W136, em que W significa wagen ou carro em alemão) foi lançado em 1936 e deu lugar em 1953 à série conhecida como Ponton, alusão aos para-lamas arredondados, de códigos W120, W121, W128 e W180. Com linhas inspiradas nos automóveis norte-americanos da época, a geração seguinte — designada como W110, W111 e W112 e lançada em 1961 — ganhou o apelido Fintail por causa das aletas nos para-lamas traseiros.

Até esse modelo, apesar de toda a evolução em estilo, conforto e segurança, a construção dos Mercedes continuava parecida com a dos modelos de antes da guerra, em particular pela já ultrapassada suspensão traseira independente com semieixos oscilantes, como no Fusca. Era hora de quebrar essa tradição, sem recorrer a formas ousadas que pudessem afastar os clientes mais conservadores. Em janeiro de 1968 a Mercedes apresentava a série W114/W115 como New Generation Models, modelos de nova geração. Nome que não emplacou, porém: ao usar a identificação "/8" (barra-oito) em referência ao ano de lançamento, a fábrica levou os fãs a adotarem o apelido Strich Acht em alemão, traduzido para o inglês como Stroke Eight. O público pôde vê-lo pela primeira vez em março no Salão de Genebra.

Paul Bracq, que atuava na empresa desde 1957 e havia trabalhado antes para a Citroën, foi encarregado de desenhar o novo automóvel com assistência de Bruno Sacco, que seria seu sucessor na função. O francês conhecia muito bem os padrões de estilo da marca, pois havia concebido o superluxuoso 600, o SL "Pagoda" de 1963 e o Classe S W108. Para o W114/W115 ele definiu linhas discretas e equilibradas, sem os exagerados para-lamas do antecessor Fintail. De fato, a década de 1960 havia sido um período de sobriedade para o desenho automobilístico mesmo nos Estados Unidos, onde os excessos haviam dado lugar à simplicidade, e o novo sedã deveria seguir essa tendência.

O equilíbrio estava bem à vista: capô e tampa do porta-malas à mesma altura, para-lamas dianteiros e seção central do capô pouco mais altos que as partes laterais — criando "sulcos" visíveis pelo motorista —, faróis circulares atrás de lentes quase retangulares na vertical, para-choques cromados com faixa de proteção, ampla área envidraçada, lanternas traseiras pequenas. E, claro, a grade cromada de dimensões consideráveis com a estrela fincada no topo. Nas rodas de 14 pol, a calota central acompanhava a cor da carroceria. A versão de topo 250 vinha com para-choques de lâminas duplas.

Já na época insatisfeita com as limitações de área de varredura dos limpadores de para-brisa convencionais, a Mercedes adotava braços em sentidos opostos, como os usados hoje em modelos como Honda Civic, Peugeot 307 e algumas minivans. Assim, os braços limpavam ambos os cantos superiores do vidro e não só o do lado esquerdo. Nos anos 80 a evolução chegaria ao limpador monobraço da série W124. Após sair da Mercedes pouco antes da apresentação do carro, em 1967, Bracq trabalhou na BMW (1970 a 1974) e na Peugeot (1974 a 1996).

Tradição e sobriedade estavam também no interior, que trazia elevada qualidade de acabamento, ainda que sem ostentação. Mesmo com bancos dianteiros individuais e console central, a marca mantinha a alavanca de câmbio na coluna de direção. Elementos herdados de Mercedes anteriores eram o grande volante com aro fino, almofada central e aro de buzina — que produzia um som característico, muito copiado mundo afora. No painel, o velocímetro em escala vertical do Fintail dava lugar ao instrumento circular em um painel simples e bem legível. Revestimento dos bancos em couro e teto solar eram opcionais. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 11/9/10

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade