O XR4x4 mantinha o jeito de
andar da tração traseira, mas com maior segurança na neve e no gelo; a
perua recebia a mesma opção em 1986
Entradas e saídas de ar, rodas
raiadas e o alto aerofólio indicavam que o RS Cosworth, com motor turbo
de 16 válvulas, não era qualquer Sierra |
O "Cologne" V6 de 2,8 litros
com comando no bloco, 150 cv e
torque de 22 m.kgf era derivado da unidade lançada 20 anos antes no Taunus
com 2,0 litros. Um propulsor ultrapassado para um carro tão atual no
desenho, que competia no mercado com sérios adversários como
Alfa Romeo GTV6,
Audi Coupé,
Opel Manta,
Saab 900 Turbo,
Volkswagen Scirocco e
Toyota Celica. A Ford o
imaginava como sucessor do cupê esportivo
Capri, que usava a mesma
mecânica, mas muitos clientes fieis ao velho modelo justificaram sua
convivência com o Sierra até 1985.
A
revista espanhola Solo Auto o confrontou ao Audi e ao Alfa
citados. Sobre
o Sierra, avisou que, "apesar de seu bom Cx, não se podem esperar
acelerações alucinantes com um veículo que pesa 1.250 kg. O carro é
sobretudo fácil e alegre de dirigir, mostrando um bom equilíbrio entre
conforto e estabilidade. E o interior está muito bem tratado." Ao fim,
opinou que o XR4i "é capaz de desempenho muito bom e a qualquer
momento pode atender aos anseios esportivos do usuário".
A brasileira Motor 3 avaliou um XR4i na Inglaterra em 1984. Entre as boas impressões do editor José Luiz
Vieira, "o motor é elástico e responde bem a qualquer solicitação, a
caixa de mudanças é excepcionalmente boa e todos os comandos parecem
'traduzir' muito linearmente os desejos do motorista. O 'som' do motor é
muito interessante. (...) A 120 km/h, há uma 'nota' mista de rosnar e
gorgulho que se pode chamar de deliciosa. A 205 km/h, o ronco é
impossível de se ignorar — mas é do tipo que faz a gente pedir mais".
Embora automóveis com tração permanente nas quatro rodas já existissem
desde os anos 60 — como o inglês
Jensen Interceptor —, foi só no começo da década de 1980 que o
sistema passou a ganhar volume de vendas pelas mãos de marcas como Audi
e Subaru. A Ford não ficaria de fora por muito tempo: em março de 1985
revelava no Salão de Genebra, Suíça o Sierra XR4x4, que combinava bom
desempenho, cinco portas e tração integral. Embora essa não fosse a
intenção da fábrica, ele logo substituiu o XR4i, pondo fim à carroceria
de três portas com três janelas laterais, que teria sobrevida apenas na
Argentina (leia boxe abaixo).
Se transmitir potência ao solo não era problema nas versões normais em
condições comuns de uso, o inverno rigoroso de parte da Europa, com neve
ou mesmo gelo, justificava a divisão dessa tarefa entre quatro rodas. No
XR4x4 a Ford adotou um sistema que repartia a potência em 34% à frente e
66% à traseira, para manter o comportamento de carro com tração
posterior. O motor V6 2,8 vinha inalterado, mas a versão inaugurava na
linha os freios com sistema antitravamento (ABS). Visualmente era mais
sóbrio que o XR4i, sem os apliques laterais e com defletor simples na
traseira. Teto solar era opcional. Um ano mais tarde, a perua em
acabamento Ghia podia vir com o mesmo sistema de tração.
Assinado
pela Cosworth
Enquanto isso, a Ford
providenciava algo mais "bravo" para clientes exigentes. A
engenharia de veículos especiais, SVE, encarregou-se de deixar o
Sierra de três portas bem mais rápido. O motor de 2,0 litros e quatro
cilindros da série "Pinto" recebeu cabeçote de duplo comando e quatro
válvulas por cilindro, desenvolvido pela parceira inglesa Cosworth (que
também prestava serviços a outras marcas, caso da Mercedes-Benz com o
190 E 2.3-16),
turbocompressor Garrett T3 e
resfriador de ar. Foi o bastante para
chegar a 204 cv e 28,1 m.kgf, que se refletiam em notável agilidade. Com
peso de 1.240 kg, ele acelerava de 0 a 100 km/h em 6,8 segundos e
atingia 238 km/h.
Continua
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