Alemão naturalizado brasileiro

Peculiar na técnica, a linha DKW-Vemag deu início à produção
nacional e teve grande importância em nossa indústria

Texto: Fabrício Samahá - Colaboração: Bob Sharp - Fotos: Cláudio Larangeira e divulgação*

A série DKW Front, iniciada em 1931, foi o primeiro carro a associar tração dianteira e motor transversal; embaixo o conversível F8, último da linhagem

Os maiores Schwebeklasse (em cima) e Sonderklasse usavam motor V4 de 1,0 e 1,1 litro com tração traseira, mas seguiam a tradição de dois tempos

O DKW-Vemag foi um dos carros mais significativos da história da indústria automobilística brasileira. Além do fato de ter sido o primeiro automóvel fabricado no Brasil, ele tinha características próprias, fora do convencional — era o que se pode chamar de único. Usava motor a dois tempos (o único em um carro nacional em qualquer época) de três cilindros e tração dianteira. Um médio-pequeno, transportava seis pessoas com bom conforto para os padrões da época. Era diferente em ruído e até no odor dos gases de seu escapamento. Tinha desempenho e estabilidade excepcionais para seu tempo.

Sua passagem pelo Brasil durou pouco, apenas 11 anos. Mas quem viveu aquele tempo garante que pareceu muito mais do que isso. Parecia que não teve começo, parecia que não teria fim. Um dia o DKW-Vemag acabou melancolicamente, saiu de repente do cenário brasileiro. A fábrica, a Vemag, foi comprada pela Volkswagen do Brasil que, um ano depois, tirou o DKW de linha. Mas esse carro fantástico, que mexeu com os corações de toda uma geração no Brasil, permanece vivo na memória e na garagem de muitos. Um alemão que se naturalizou brasileiro.

O começo   A DKW foi fundada em 1916 na Saxônia, Alemanha, pelo engenheiro dinamarquês Jörgen Skafte Rasmussen. A sigla para Dampf Kraft Wagen (carro a vapor, em alemão) indicava sua atividade, a produção de maquinários para motores a vapor. Rasmussen tentou fazer o próprio carro ainda naquele ano, o que não conseguiu. Mas em 1919 concluía um pequeno motor a dois tempos com cilindrada de 30 cm³, a que chamou de Des Knaben Wunsch (o desejo dos meninos) ou... DKW.

Esse não seria o último significado para a sigla: um motor da mesma época, de 125 cm³, foi aplicado a uma bicicleta, então denominada Das Kleine Wunder (a pequena maravilha). A DKW encontrava ali um de seus ramos de maior sucesso: no fim de década de 1920 se tornaria líder mundial em fabricação de motos. Mas a produção de automóveis também teve relevância em sua história.

O primeiro foi apresentado em 1928 e usava motor a dois tempos, como seriam todos os DKWs. Três anos depois, a série Front tinha a primazia de associar a tração dianteira — já experimentada em modelos como o Cord americano — à posição transversal do motor. Denominados de F1 a F8, os carros tinham dois cilindros em linha, cilindrada de 584 ou 692 cm³ e potência de 18 ou 20 cv.

Houve também modelos DKW de quatro cilindros em "V" e tração traseira, as linhas V800, V1000, Schwebeklasse e Sonderklasse. Com 990 e 1.054 cm³, desenvolviam 25 e 32 cv, na ordem, e eram anunciados como 4=8, uma referência ao fato de o motor de quatro cilindros a dois tempos ter o mesmo número de centelhas por giro do virabrequim que um de oito cilindros a quatro tempos. Igual estratégia levaria mais tarde à associação 3=6 para os motores de três cilindros. Continua

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Data de publicação: 22/12/07

*O Best Cars agradece as colaborações de Fabio Steinbruch (fotos de Cláudio
Larangeira), Jorge Lettry (fotos do Carcará) e José de Mattos Souza

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