Fusão de opostos   O nome Corvair já havia sido usado num carro-conceito de 1954, que propunha uma versão cupê fastback para o Corvette, algo que só se concretizaria em 1963. Foi uma boa escolha, pois podia tanto ser associado ao Corvette quanto ao Bel Air, dois dos maiores sucessos da marca na época. Se a mecânica do Corvair 1960 tinha seu modelo no Volkswagen — e, por que não, no Porsche 356 —, o desenho da carroceria estava em sintonia com os Chevrolets contemporâneos.

O painel do modelo 1960: velocímetro em escala horizontal e simetria com o porta-luvas

O sedã, com três volumes claros e traços retos, tinha o vidro traseiro envolvente, a exemplo do Impala. Eram os traços de família mais nítidos. Os faróis eram duplos, mas, por não ter grade do radiador, ele tinha um aspecto europeu que seria visto em carros como o NSU 1000 TT. No interior, o painel usava um velocímetro com escala horizontal e, do lado do passageiro, o porta-luvas tinha o mesmo formato do quadro de instrumentos para formar uma simetria.

O motor do Corvair, sua maior atração, deslocava 140 pol³ (2,3 litros), tinha a peculiaridade de girar ao contrário (contra os ponteiros do relógio) e rendia a potência máxima bruta (padrão neste artigo) de 80 cv. Como comparação, o seis-cilindros refrigerado a água da marca para modelos grandes tinha 235 pol³ (3,8 litros) e produzia 135 cv. O entreeixos de 2,74 metros também diferia bastante dos 3,02 m do Chevrolets maiores. O câmbio manual tinha três marchas e o automático Powerglide era opcional. No lançamento a Chevrolet oferecia apenas a carroceria sedã em dois padrões de acabamento, o 500 e o 700, este mais completo.

A disposição mecânica do Corvair: o motor atrás do eixo traseiro prejudicava a estabilidade

A suspensão independente, com molas helicoidais nas quatro rodas, usava semi-eixos oscilantes na traseira, o mesmo princípio do VW. Os pneus tinham a medida 6,50-13 e os freios eram a tambor. Esse conjunto era responsável pela característica mais criticada do Corvair: por ter motor traseiro e a maior parte do peso concentrada nesse eixo, podia ocorrer sobresterço repentino, típico dos carros com esta configuração (leia boxe). Agravava o risco o fato de que muitos consumidores, ao não calibrar os pneus ou ter igual pressão colocada em todos os quatro pelos frentistas dos postos, não mantinham a diferença de 11 libras pedida no manual do proprietário. Eram de 15 a 19 lb/pol² na frente e de 26 a 30 atrás, conforme a carga transportada.

O risco ficou maior com a chegada, no decorrer do modelo 1960, dos cupês 500 e 700 e de sua versão esportiva Monza, com o motor Super Turbo Air de 95 cv, alavanca de câmbio no assoalho e bancos dianteiros individuais. O apelo esportivo entre motoristas jovens, mais afoitos ao volante, podia ser um convite a derrapadas nas curvas. A suspensão traseira não foi fator impeditivo para boas vendas: 250 mil unidades do Corvair foram às ruas em seu primeiro ano de mercado, mais que os 194 mil Valiants, mas muito aquém do Falcon, que teve 435 mil exemplares vendidos. Foi mais fácil para os americanos se acostumarem a um carro menor de um grande fabricante local com desenho e engenharia de princípios tradicionais. Continua

Para ler
Chevrolet Corvair Photo History - por Monty Montgomery, editora Iconografix. Traz em 120 páginas em inglês a história de um dos mais controversos carros da GM, narrada ao lado de inúmeras fotos e com números de produção, detalhes que diferenciam cada ano-modelo, fichas técnicas, listas de opcionais e contatos com clubes e fornecedores de peças de reposição.

Corvair, 1960-1969 - por Bruggen/Machan, editora TPR. Ano a ano, o leitor pode acompanhar a evolução do Corvair e descobrir características e peculiaridades para uma restauração, como cores de catálogo, itens de acabamento interno e externo, opcionais e explicações sobre os números de chassi. São 121 páginas em inglês.

How to Keep Your Corvair Alive -
por Richard Finch, editora Motorbooks International. Contar a história de um carro costuma ser o caminho dos livros mais procurados do gênero. Mas quem tem a sorte de colecionar um Corvair encontra neste livro, de 160 páginas, uma preciosa fonte de informações para restaurar seu carro.
A linguagem é acessível e o autor incentiva os proprietários a deixar seus carros como novos, independente do nível de conservação, com fotos do tipo "antes e depois". Em inglês.

Corvair by Chevrolet: Experimental & Production Cars, 1957-1969 -
por Karl Ludvigsen, editora Iconografix. Os vários carros-conceito criados com base no Corvair são o destaque deste título, que conta a trajetória do modelo desde os tempos em que ainda era o projeto secreto Holden. Jornalista renomado, Ludvigsen trabalhou na GM durante a maior parte da existência do modelo. As 128 páginas do livro são escritas em inglês.

1969 Corvair Finger Tip Facts -
por Mark Ellis e Dave Newell, editora Clark's Corvair Parts. Este livro é coisa de especialista: membros ativos da Corvair Society of America, o colecionador Ellis e o historiador Newell, autoridade reconhecida nos Estados Unidos quando o assunto é Corvair, esmiúçam os detalhes do ano-modelo com menor amostragem do compacto Chevrolet, o de 1969, que teve apenas 6.000 unidades produzidas. O livro de 220 páginas em inglês revela como foi a saída à francesa desse clássico americano, produzido exclusivamente na fábrica de Willow Run, Michigan.
Bastidores I
Considerando-se que a GM é uma companhia acostumada a produzir o mesmo projeto sob diferentes marcas, é de se perguntar por que esse não foi o caso do Corvair. Na verdade, isso até foi considerado. Havia planos de "primos" do Chevrolet refrigerado a ar para as divisões Buick, Oldsmobile e Pontiac.

O projeto do Corvair teve início em 1956 e sua plataforma Y era chamada internamente pelo codinome Holden, o mesmo nome da empresa australiana que em 1931 tornou-se uma subsidiária da GM. As versões Buick (foto superior) e "Olds" teriam estilo muito parecido com o do Corvair, mas o Pontiac (embaixo) teria uma frente mais espalhafatosa. O nome Polaris chegou a ser considerado para ele, enquanto a versão Oldsmobile poderia ter sido chamada de Sixty-Six (66).

Ciente da ousadia do projeto, porém, a GM preferiu ser cautelosa e criar outra plataforma compacta, com motor refrigerado a água e instalado na frente. Era a plataforma A, que deu origem em 1961 ao Buick Special, o Olds F-85 e o Pontiac Tempest.

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