Excentricidade britânica

Um espólio da BMW deu origem aos automóveis da Bristol,
marca inglesa com tradição em construção artesanal

Texto: Francis Castaings - Fotos: divulgação

Nas décadas de 1940 a 1960 os fabricantes ingleses de automóveis eram mestres na esportividade. Marcas como MG, Jensen, Bentley, Jaguar, Healey e outras faziam muito sucesso na Europa e mundo afora, mas havia outra empresa britânica que estava começando no setor. A Bristol Aeroplane Company Ltd. foi fundada em 1910 por Sir George White como uma importante fábrica de aviões. Estes, que fizeram grande fama entre 1939 e 1945 na Segunda Guerra Mundial como aeronaves de combate, foram batizados Blenheim, Beaufighter e Beaufort. Por volta de 14.000 deles foram fabricados.

Ao fim do conflito, a empresa entrou no disputado mercado de carros esporte. Não era o momento ideal, por causa das mazelas da guerra, mas também começava um novo tempo. No princípio de sua produção, usava motores da BMW alemã. A causa disso foi a apropriação de planos da fábrica da Bavária (o chamado espólio) após a guerra. Os aliados — Estados Unidos, Inglaterra, França e Rússia — tinham certo direito de visitar o que sobrou das instalações fabris de diversos setores e investigar projetos em andamento.

Da grade "duplo rim" ao motor de seis cilindros em linha, era evidente a semelhança do Bristol 400 com o BMW 327, pois os ingleses haviam obtido os projetos da marca alemã

Foi assim que, em 1946, a nova divisão Bristol Car Division foi criada. Um ano depois lançava o modelo 400. Tratava-se de um cupê de linhas curvas e pára-lamas salientes, com um aspecto antiquado, nos moldes dos anos 30. A influência da fábrica alemã era clara. Na frente a grade imitava o famosos duplo rim. A carroceria se parecia também com a do BMW 327, mas com algumas modificações.

Como hábitos de época, as portas tinham abertura inversa ao padrão de hoje (tipo suicida) e os faróis circulares vinham destacados. O pára-brisa era bipartido, o capô longo tinha aberturas laterais e a traseira seguia o estilo fastback. No porta-malas havia uma saliência denotando o local de guarda do estepe. Até as rodas e calotas tinham desenho similar às do 327. Era um estilo atraente, apesar de antigo. A fábrica fazia questão, em sua publicidade, de colocar o esportivo junto de seus famosos aviões. Uma tradição que seria mantida por anos em seus anúncios.

Refinamento interno era, desde o início, uma característica da Bristol: o 400 tinha painel de madeira nobre, fartos instrumentos e rádio

Por dentro tinha um refinamento raro, só visto em automóveis como os conterrâneos da Bentley e da Rolls-Royce. Havia quatro mostradores pequenos no painel de madeira nobre, à esquerda do grande volante de três raios, e mais dois bem maiores — o conta-giros e o velocímetro — separados por controles e botões ao centro. Uma disposição pouco comum. Trazia ainda porta-luvas e rádio. A alavanca do câmbio de quatro marchas, de curso bem longo, ficava no assoalho e os pedais não eram suspensos.

Suspensão e motor eram baseados nos do modelo alemão. O propulsor de seis cilindros em linha e 1.971 cm³, com comando de válvulas no bloco, era equipado com três carburadores SU, desenvolvia potência de 85 cv e torque de 14,8 m.kgf, com o que alcançava velocidade final de respeitáveis 150 km/h. Os pneus tinham a medida 5,50-16 e os freios eram a tambor. Com comprimento de 4,64 metros, entreeixos de 2,89 m e peso de 1.170 kg, era um carro muito bem construído, seguindo critérios rígidos, e destinado a uma seleta clientela. Lançado em 1947 no Salão de Genebra, na Suíça, o 400 foi produzido por dois anos num total de 700 exemplares.
Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 1/9/07

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade