Superlativa obra-prima

Criado para fazer os Rolls-Royces parecerem modestos,
o enorme Royale foi o mais extravagante dos Bugattis

Texto: Fabiano Pereira – Fotos: divulgação

A Mona Lisa de Da Vinci. O Davi de Michelangelo. A Nona Sinfonia de Beethoven. Hamlet de Shakespeare. A Divina Comédia de Dante. A catedral de La Sagrada Familia de Gaudí. Todo tipo de arte tem seus monstros sagrados e cada um deles tem, pelo menos, uma obra que ecoa no imaginário das pessoas mesmo décadas, séculos depois de apresentadas. Do legado automotivo deixado por Ettore Bugatti (leia boxe), o Tipo 41 Royale se mantém como o ápice de uma carreira pontuada por modelos exclusivos, elitizados, com qualidades técnicas comprovadas, além de uma criatividade e beleza típicas das grandes obras de arte.

Nascido em Milão, filho de um pintor, Bugatti exibiu seu primeiro trabalho de carroceria para automóveis antes mesmo de completar 21 anos de idade. Uma empresa do ramo, a alemã De Dietrich, gostou tanto da sofisticação do resultado que decidiu produzir o modelo. Como ainda não tinha idade para formalizar os aspectos legais que envolviam a venda do projeto, Bugatti usou o nome do pai para tocar a negociação.

O protótipo do Tipo 41 Royale: seis metros de comprimento, 2,6 toneladas, motor de 14,7 litros, carroceria Packard

Não tardaria até que o jovem artista começasse a desenhar para encarroçadores e fabricantes de carros como Mathis e Deutz. Um dos maiores sucessos criados por Bugatti nessa fase foi o Bébé Peugeot, que teve na França uma trajetória semelhante à do Ford T na América. Em 1911, aos 30 anos, ele já fabricava carros artesanalmente em Molsheim, Alsacia, região francesa que na época fazia parte da Alemanha. O Tipo 13 foi o primeiro deles. Já tinha comando de válvulas no cabeçote e venceu Le Mans, à frente de um Fiat com motor bem maior.

A Primeira Guerra Mundial paralisou a produção e a evolução de seus carros até novembro de 1918. A Alsacia, que já havia sido território francês até a guerra franco-prussiana em 1871, voltou a pertencer à França. Bugatti tornou-se cidadão francês, o que explica a cor azul de seus carros de corrida subseqüentes, em vez do vermelho típico dos italianos. Entre esses estavam a evolução do Tipo 13, chamado de 22/23, e o Tipo 35, dois sucessos nas pistas (leia história). Numa carta de abril de 1913, endereçada a um amigo, Bugatti já declarava sua intenção de produzir um carro que seria mais longo que os da Hispano-Suiza, atingiria 150 km/h e teria cinco anos de garantia, pois só seria entregue após mil quilômetros de testes. A motivo de tal decisão teria sido o comentário de uma nobre dama inglesa com quem estivera num jantar oficial em Paris.

Mais admirado dos Royales, o Coupé Napoléon tinha compartimento do motorista aberto e quatro vidros no teto traseiro

A convidada estrangeira teria elogiado os carros de Bugatti, mas ressaltado que os Rolls-Royces continuavam insuperáveis, ao menos para os ingleses. Foi a fagulha de incentivo de que o construtor precisava. Independente de o episódio ter de fato ocorrido, Bugatti realmente quis superar tudo o que já havia sido feito em termos de automóvel. Ele queria criar uma obra de arte sobre rodas e tinha, como o próprio nome já indicava, a realeza européia como público-alvo. Continua

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Data de publicação: 1/4/06

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