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por Iran Cartaxo

Alfa 145: como acelerar de 0 a 100 em 5 s


Possuo um Alfa Romeo 145 Quadrifoglio 97, com rodas 17 e pneus 205/45. Foi feito o chip, adiantando o ponto; coloquei filtro esportivo e tirei o catalisador. Gostaria de saber como obter o máximo de potência e aceleração com baixo custo e sem comprometer a mecânica e o consumo do veículo. Desejaria velocidade máxima em torno de 260 km/h e aceleração 0-100 km/h em 5 s. Gostaria de saber: se o carro estivesse na garantia de fábrica, as alterações de chip, filtro, aumento da borboleta e retirada do catalisador comprometeriam a garantia? Qual dessas alterações não faria isso? Achei o site ótimo em informações, além de esclarecer muitas dúvidas. Vocês estão de parabéns.

Felipe Rodrigo Passold
Curitiba, PR
fpassold@bol.com.br


Preparação e baixo custo são coisas difíceis de conciliar, principalmente em um carro importado e quando se deseja a qualidade necessária para manter baixo consumo e boa durabilidade. Uma leve regulagem, como já efetuado neste carro através do remapeamento, aliada a pequenos alívios na admissão e escapamento consegue esse objetivo, mas não traz grande ganho de desempenho.

Tudo isso provoca insatisfação no proprietário, que já recorreu à preparação em busca de um rendimento maior, mas conseguiu frutos pouco perceptíveis. Isso não quer dizer que se esteja no caminho errado, mas também não quer dizer que tudo possa ser obtido só com leves alterações.

As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o Alfa Romeo 145 Quadrifoglio original (em azul); com preparação aspirada leve (em verde); e com preparação turbo (em vermelho)

Apesar de o remapeamento e os alívios na admissão e escapamento efetuados resultarem em ganhos exíguos -- a simulação indica aumento de potência de 5 cv, que dá 3 km/h a mais de velocidade máxima e 0,2 s a menos na aceleração de 0 a 100 km/h --, nem tudo está perdido.

Podem-se conseguir bons resultados ao estender um pouco esse trabalho de sintonia fina. Basta adicionar ao que já foi feito um bom coletor de escapamento dimensionado e, se possível, aumentar um pouco o diâmetro da borboleta de admissão.

Essas alterações exigem cuidado, senão os resultados podem não ser os desejados. No caso do dimensionado, a qualidade é essencial, sob pena de resultar em perda e não em ganho. Para aferir essa qualidade, observe se os dutos não têm rugosidade interna, curvas bruscas, ressaltos de solda ou outras imperfeições semelhantes. Tudo deve ser esmeradamente fabricado em um coletor de escapamento dimensionado. Só assim podem-se garantir os maiores ganhos em termos de fluxo de escapamento.

Ao contrário do que muitos pensam, os comprimentos dos dutos não precisam ser iguais. Basta que a resistência que eles provocam ao fluxo seja igual, e esse é um cálculo um pouco mais complicado do que simplesmente medir os comprimentos com uma trena.

O aumento do diâmetro da borboleta de admissão visa a permitir maior fluxo de ar admitido, mas não deve ser exagerado nem exíguo demais. A regulagem e as alterações no resto do fluxo pelo motor indicam um diâmetro ideal, que se ultrapassado resulta em perda de torque, e se não atingido resulta em estrangulamento da potência. Não só a borboleta deve ter seu diâmetro aumentado: o que deve ser mesmo ampliado é o bocal de admissão para o coletor. A borboleta só cresce porque deve ser capaz de fechar esse bocal.

Para as alterações citadas, o aumento do diâmetro do bocal de admissão recomendado fica em torno de 5 mm. Neste caso, mais uma vez, a qualidade do serviço é essencial. 145 Quadrifoglio
A borboleta deve assentar se forma perfeita na superfície do bocal, sem vazamentos; deve se movimentar de forma suave, sem esforços. Ou seja, tudo deve parecer limpo e bem executado, conforme o que foi exigido para o dimensionado.

Após as alterações, novo remapeamento deve ser feito para ajustar a injeção à nova configuração. Com mais esses ajustes o resultado final será bem mais sensível, como se observa na simulação, mantendo ainda um baixo custo e durabilidade e consumo pouco alterados.

Mas não se deve pensar que, com isso, se vai conseguir ganhos de desempenho suficientes para as metas indicadas de 260 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 5 s. Para levar o Alfa 145 a tanto, serão precisos mais de 340 cv, o que só é conseguido -- visando o uso em rua -- com sobrealimentação. Tal preparação, com a qualidade necessária para manter durabilidade e consumo sob controle, aliada às alterações necessárias no resto do carro, fica um pouco longe do que pode ser chamado de barato.

Neste caso o mais indicado para uso constante em rua é um turbo, que conforme indicado em outras consultas, deve ser bem dimensionado, de baixa inércia, acompanhando de intercooler e de uma boa eletrônica ou remapeamento para ajustar a injeção às novas condições de funcionamento (
saiba mais). Sem isso não se consegue funcionamento suave e estável, alto rendimento, durabilidade e consumo razoável.

Para atingir o objetivo, a pressão de sobrealimentação deverá ser 1,2 kg/cm². O turbo a ser usado deve ser um Garret T3, trim 60, A/R 1.06, ou equivalente de qualquer outro fabricante, de preferência bipulsativo -- que dá resposta em menor tempo e com mais eficiência em motores quatro-cilindros. O intercooler não deve ser dispensado, pois sem ele a temperatura de admissão seria de 131 °C, sendo de 52 °C caso seja usado um bom intercooler aletado.

A taxa de compressão deve ser reduzida para minimizar problemas de detonação com pressão já um tanto elevada como esta. Neste caso, um ponto, baixando a taxa para 8,5:1, é o indicado. Para conseguir isso o volume da câmara de combustão deve passar dos atuais 58,75 cm³ (considerando a junta e a folga do pistão) para 66,58 cm³. Pode-se considerar uma conversão para álcool, que evitaria ter de reduzir a taxa de compressão, mas para ter o mesmo rendimento seria preciso 1,3 kg/cm² de pressão, e o trabalho com eletrônica ou remapeamento para deixar o funcionamento suave e o consumo baixo seria muito mais difícil.

Foram simuladas as duas preparações. Observe os resultados esperados:
  Original Preparação aspirada Preparação turbo
Potência máxima 150 cv 168 cv 342 cv
Rotação de potência máxima 6.200 rpm 6.500 rpm 6.200 rpm
Velocidade máxima 200 km/h 208 km/h 264 km/h
Rotação à velocidade máxima 5.800 rpm 6.000 rpm 7.600 rpm
Aceleração de 0 a 100 km/h 9,3 s 8,5 s 5,1 s
Torque máximo 18,9 m.kgf 19,9 m.kgf 43,1 m.kgf
Rotação de torque máximo 4.000 rpm 4.200 rpm 4.000 rpm
Aceleração longitudinal no interior do veículo 0,67 g 0,73 g 1,21 g
Eficiência volumétrica na rotação de potência máxima 89,0 % 94,1 % 203,0 %
Eficiência volumétrica na rotação de torque máximo 97,1 % 102,2 % 221,4 %
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão.
Algoritmo de simulação de preparação de motores desenvolvido pelo consultor
Iran Cartaxo, de Brasília, DF.
Pode-se observar que os resultados foram bem mais expressivos na preparação leve, com as mudanças indicadas , do que o que está sendo obtido agora -- mas ainda estão bem longe do objetivo traçado. Observa-se também que mesmo aspirado um motor pode ter rendimento volumétrico maior que 100% em determinadas condições. Isso se deve ao bombeamento que ocorre para dentro dos cilindros devido à inércia da mistura admitida em carros com admissão muito livre. Caso isso não acontecesse, nunca seria possível extrair mais de 300 cv de motores aspirados 2-litros em competição. Com a preparação turbo o rendimento volumétrico chega a ultrapassar 200%.

O conjunto do carro deve ser readequado ao novo desempenho. Um jogo de pastilhas de freio mais macias, em conjunto com os enormes pneus já usados, são suficientes para a preparação aspirada leve. Merece atenção, porém, a embreagem, tradicional ponto fraco dos Alfa Romeo.

Já para a turbo tudo deve ser revisto. Começando pelo câmbio, uma embreagem mais resistente (não precisa ser de cerâmica, mas o platô deve ser de carga bem maior que o original), conjunto facilmente encontrado ou fabricado sob encomenda no Brasil. Caso se observe quebra das engrenagens deve-se trocá-las por outras mais resistentes, que com certeza só serão encontradas no exterior.

A suspensão deve ter molas e amortecedores de maior carga. Cerca de 50% neste caso garantirão um bom comportamento dinâmico, e podem ser encomendados a bons fabricantes nacionais destes componentes para competição. O gosto do proprietário e testes em pista podem exigir mudança nestes valores de carga. A suspensão pode ter menor altura caso se opte por isso, com ganho em estabilidade, desde que toda sua geometria seja reajustada (
saiba mais).

Os pneus e rodas podem manter aro 17, mas a largura dos pneus mais apropriada seria em torno de 245 mm, o que exigiria um perfil muito baixo para manter o diâmetro original dos 195/55 R 15, além de poder exigir alterações na carroceria para esse enorme conjunto caber na caixa de rodas. Pode-se conservar os pneus atuais, mas deve-se ter em mente que eles são subdimensionados para essa potência. Assim, acelerações serão feitas em maior tempo e, principalmente, frenagem e aderência estarão aquém do que seria seguro e recomendável.

Em relação à garantia, o dono de um carro zero-km ou semi-novo tem pouco a fazer. Qualquer mudança como as feitas em seu 145, ou mesmo as que sugerimos aqui, provoca perda da garantia -- pelo menos nos componentes relacionados à modificação. Não é por outro motivo que se cobra tão caro por preparações como a AVR desenvolvida pela Audi: por contarem com o aval do fabricante ou importador, a garantia do carro novo é mantida. Mas, sem dúvida, pelo preço cobrado o usuário poderia efetuar a mesma preparação com todo o critério e ainda guardar boa reserva para eventuais problemas...

Por fim, é cuidar na qualidade de tudo que for escolhido e das regulagens, para poder curtir seu carro preparado com a tranquilidade de quem anda em um original. E se preparar pra colocar mesmo a mão no bolso caso se escolha a preparação mais pesada. Afinal, qualidade tem seu preço.

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