Consultório de Preparação
por Iran Cartaxo
Remapeamento de injeção,
desafio aos preparadores
Gostaria de saber como é feito o
remapeamento da injeção eletrônica, tecnicamente, os processos
para a alteração das características originais. A alteração
utiliza algum software específico? Qual? Qual a linguagem
utlizada? O chip original pode ser regravado?
Fábio Arruda
fra@fund.cepel.br
Rio de Janeiro, RJ
A programação de chips de injeção não é nada simples. Na
realidade trata-se de uma reprogramação em seu mais baixo
nível: deve-se localizar os endereços de memória no chip da
injeção original, onde estão armazenados os parâmetros usados
pelo programa de injeção para calcular o tempo de abertura dos
bicos injetores e o ponto de ignição. Nota-se que não se trata
de tarefa fácil, pois não se encontra no chip nenhum programa
feito em linguagem de alto nível para que seja modificado, e sim
dados armazenados diretamente em hardware que são
usados por um software também programado em linguagem
de baixo nível.
Outro complicador é o fato de existir muitos modelos de
injeção, cada um permitindo diferentes mudanças em seus
parâmetros, usando diversas variáveis em seus cálculos e com
infinitas combinações entre hardware e software.
Além disso, os fabricantes alteram constantemente os endereços
de memória onde ficam armazenados os dados. Há configurações
de software-hardware-dados que chegam a ser fabricadas
por poucos meses, o que torna o campo ainda mais vasto e
desconhecido.
Para sorte dos preparadores, os dados de saída e entrada da
injeção são poucos. Basicamente, os parâmetros de saída da
injeção que se desejam alterar são o tempo de abertura dos
bicos injetores e o ponto de avanço da ignição. Os parâmetros
básicos para cálculo destas variáveis são a rotação e a
carga (abertura da borboleta de admissão), assim têm-se dois
gráficos tridimensionais com a configuração dos dados de
saída da injeção. É claro que a enorme quantidade de sensores
da injeção não está lá à toa: eles são usados como
variáveis adicionais no cálculo e ajudam a otimizar o
desempenho, consumo e emissões. Entre os parâmetros adicionais
estão os dados fornecidos pela sonda Lambda, o sensor de
detonação, o de temperatura e diversos outros.
A esta altura pode-se imaginar um preparador perdido em meio à
imensa quantidade de dados, tendo só números localizados em
diversos endereços de memória de um chip como informação para
trabalhar. No início, quando se desenvolvia o método de
remapeamento, chegou-se bem próximo deste caos. Mas com a
possibilidade de simplificar o trabalho a estas quatro variáveis
-- tempo de abertura, avanço, rotação e carga -- pôde-se
desenvolver softwares que "conversam" com a
injeção, simulando seu funcionamento, e descobrem os endereços
onde estão armazenados seus parâmetros e as relações entre
eles. Os softwares traçam, no caso dos mais avançados,
os dois gráficos tridimensionais principais, e no caso de softwares
mais simples, uma série de gráficos bidimensionais, que ajudam
a redefinir os novos valores a ser gravados nos endereços de
memória do chip.
Alguns equipamentos são obrigatórios nessa tarefa, como um
copiador/apagador/gravador de chip (chips que são geralmente eprons),
sem falar em toda a parafernália necessária para ligar o micro
aos diversos tipos de sistemas de injeção existentes.
Um remapeamento bem-feito envolve regular o carro com um
microcomputador portátil (laptop) em seu interior,
enquanto ele é dirigido em diversas condições. Isso pode levar
um dia inteiro -- ou mais, dependendo dos problemas que podem
aparecer. Um serviço de primeira qualidade pode chegar a custar
R$ 500. Mas nem tudo é lucro, pois o custo dos equipamentos e do
software é elevado. Só o programa de auxílio no
remapeamento custa em média R$ 15.000, além do equipamento
(microcomputador e o copiador/apagador/gravador de chip, este em
torno de R$ 5.000).
A técnica e conhecimentos não se adquirem com facilidade, pois
está em jogo a alteração de duas curvas tridimensionais, uma
de injeção x carga x rotação, e outra de ponto x carga x
rotação, ponto a ponto, curva por curva, para todas as
condições de uso. Só com muita prática obtêm-se os valores a
alterar e em que condições, evitando que se perca uma semana
procurando o ponto ideal. Pode-se então fazer o serviço em
poucas horas, pois já se parte de uma alteração pré-definida,
fazendo pequenos ajustes às diferentes condições do carro ou
gosto do proprietário.
O desafio da comunidade de "preparadores eletrônicos"
que está surgindo não é mais conseguir um bom remapeamento
trabalhando com as quatro variáveis básicas (tempo de abertura,
avanço, rotação e carga), e sim fazer um ótimo remapeamento,
praticamente reprojetando todos os parâmetros usados pela
injeção. Modifica-se desde o atraso promovido no avanço quando
o sensor de detonação indica "batida de pino", até
os limites aceitáveis de oxigênio no escapamento pela sonda
lambda. Leva-se também em conta a temperatura de admissão ou de
trabalho do motor, trabalhando não mais com dois gráficos
tridimencionais, mas sim com vários gráficos, ou com um
gráfico de muitas dimensões. Estes dados permitem atingir o
máximo rendimento de um motor só mudando sua regulagem, e fazem
a diferença entre um remapeador mediano e um mestre nesta arte.
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