Consultório de Preparação
por Iran Cartaxo
Kadett GS turbo pode
chegar perto dos 270 km/h!
Gostaria de parabenizá-los pelo site.
Ele é excelente para aficcionados por carros como eu! Tenho um
Kadett GS 89 a álcool. Como tive que fazer o motor dele,
coloquei um turbo com 0,6 de pressão; fiz também todo o escape
em 2,5 polegadas. Sem mexer na pressão do turbo, o que mais
posso fazer para tirar o máximo desse carro? Quais serão os
resultados? Quanto eu gastaria? Não foi modificada a taxa nem
foram usados outros pistões. Eu gostaria que o carro não
fizesse aquele barulho do turbo (espirro). Câmbio e embreagem
ainda não foram mexidos, mas pretendo; alguma sugestão?
Pretendo colocar aro 15 e pneus 195/50. O primeiro estágio está
bom, o segundo dá umas "pipocadas" mas o mecânico
falou que resolve isso. Troquei as velas originais por NGK EGV
B9. É permitido colocar turbo pelo novo código? Com turbo eu
conseguiria fazer seguro deste carro?
Fabio Fogassa
maquetes@uol.com.br
Aproveitar a retífica do motor para fazer uma preparação é
sempre uma boa medida: facilita a preparação, pois aproveita-se
a desmontagem do motor para a troca das peças, e permite uma
redução do custo total, pois conjuga os custos da mão-de-obra
da preparação com os da retífica. Há também a vantagem de se
utilizar um motor renovado e com menor tendência a quebras
quando preparado, o que premite desfrutar do novo desempenho com
mais tranquilidade.
A preparação realizada em seu carro nos parece bem equilibrada.
A manutenção da taxa de compressão original, o
redimensionamento do conjunto de escapamento e o uso de válvula
de prioridade são indicativos disso. Cabe dizer que a
experiência dos preparadores com carros carburados, e sobretudo
com o motor 2-litros GM, facilita bastante as escolhas corretas
durante a preparação. Mesmo assim sua preparação é passível
de aperfeiçoamento.
As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o Kadett GS original (em azul); com turbo a 0,6 kg/cm2 (em marrom); com turbo a 0,6 kg/cm2 e intercooler (em rosa); com turbo a 0,6 kg/cm2, intercooler e preparação aspirada (em cinza); com turbo a 1 kg/cm2 e intercooler (em verde); e com turbo a 1 kg/cm2, intercooler e preparação aspirada (em vermelho) Clique aqui para ver as curvas de potência e torque ampliadas |
Na tentativa de evitar a detonação ("batida de
pino"), a maioria dos preparadores acaba atrasando demais a
curva de ponto de ignição e enriquecendo demais a mistura. Isso
provoca uma queda no rendimento do motor, aumento de consumo e
dos níveis de emissão de poluentes. Em todo carro com turbo
adaptado vale a pena verificar se estes dois pontos estão
regulados corretamente. Em seu carro, Fábio, pode-se observar
mistura muito rica em regimes de rotação mais altos, daí a
ocorrência de "pipocadas", que nada mais são do que
álcool mal-queimado sendo jogado no escapamento e entrando em
combustão lá. Isso pode facilmente ser corrigido, mas encontrar
o ponto ideal não é tão fácil. O melhor é ir a uma oficina
equipada com sonda Lambda para fazer a regulagem baseada nas
taxas de oxigênio dos gases de escapamento, que permite acerto
mais preciso.
Para regular o avanço da curva de ponto de ignição ideal o
procedimento é mais simples, pois não se trata de carro com
injeção. O ponto é em geral regulado pela limitação do
avanço centrífugo do distribuidor (alguns a chamam erroneamente
de travamento). Assim, basta aumentar o avanço e testar o carro
em condições extremas de uso, até que se note a primeira
detonação. Então volta-se um pouco a regulagem do avanço e
pode-se desfrutar do ponto de ignição máximo, que permitirá
mais potência e menor consumo e emissões. O melhor procedimento
para adequar a curva de ignição seria a fabricação de novos
pesos e molas para o avanço centrífugo, e não sua limitação,
pois assim toda a curva seria ajustada às novas condições e
não só o ponto máximo. Mas esta técnica, complexa, exige
muitos estudos e tentativas para se obter a curva ideal, o que --
diante dos bons resultados obtidos com a limitação --
definitivamente não compensa.
Tanto o diâmetro adotado no escapamento quanto a taxa de
compressão original do Kadett GS, relativamente baixa para um
motor a álcool, permitem que se utilizem pressões maiores sem
grande custo adicional, bastando uma nova regulagem do motor.
Pode-se facilmente chegar a 0,8 kg/cm² sem riscos, e um
preparador experiente pode regular seu motor para funcionar com 1
kg/cm² sem necessidade de reduzir a taxa de compressão. Alguns
preparadores preferem reduzir a taxa para trabalhar com pressão
tão alta; neste caso, nunca permita que a taxa atinja a do motor
a gasolina, pois é muito baixa e deixará o motor lento enquanto
a turbina não entrar em funcionamento. Tal procedimento, no
Kadett, é necessário apenas para pressões acima de 1,6
kg/cm².
As velas utilizadas, de grau 9, podem ser substituidas por outras
ainda mais frias (necessárias se a pressão for maior), de grau
11 por exemplo, o que permitirá a regulagem de um avanço maior
na curva de ponto de ignição. Certos preparadores enfrentam
dificuldades para iniciar a ignição usando velas tão frias com
a pressão de 0,6 kg/cm². O segredo está na regulagem da
abertura da velas: quanto maior, melhor se dará a ignição, o
que garante o início da ignição com uma vela bastante fria.
Corre-se o risco de que a centelha não ocorra com uma abertura
muito grande entre os eletrodos da vela, por isso é preciso
experiência e algumas tentativas para encontrar a abertura
ideal.
Em seu carro, Fábio, pode-se ainda combinar ao turbo recursos de
uma preparação aspirada, como comando de maior duração e
abertura e troca do carburador. Os Kadetts GS e GSi, que utilizam
motores iguais aos do Monza (ao contrário da versão S/R de 1,8
litro deste, bastante preparada), não possuem grande
desenvolvimento da parte aspirada, tendo portanto boa margem para
preparação nesta área sem prejuízo da dirigibilidade. Há
vantagem também em se adotar o intercooler, mesmo para a
pressão atual: o motor ficará mais protegido contra detonação
e a potência aumentará um pouco. Esse recurso se torna
essencial se você optar por aumentar a pressão do turbo.
Simulamos nada menos que cinco preparações para seu Kadett:
- turbo com
pressão de 0,6 kg/cm²;
- turbo com pressão de 0,6 kg/cm² e intercooler (custo aproximado do intercooler: R$ 250);
- turbo com pressão de 0,6 kg/cm² e intercooler, comando com 20o a mais de duração e 0,6 mm a mais de abertura das válvulas, troca do carburador por um Weber 40 ou equivalente (custo aproximado de R$ 600 para o conjunto de alterações sobre o turbo já usado);
- turbo com pressão de 1 kg/cm² e intercooler (custo aproximado de R$ 350 para a nova regulagem, troca de velas e intercooler);
- turbo
com pressão de 1 kg/cm² e intercooler, comando com 20o
a mais de duração e 0,6 mm a mais de abertura das válvulas,
troca do carburador por dois Weber 40 (custo aproximado de R$ 900
para o conjunto de alterações sobre o turbo já usado).
Observe o desempenho estimado:
Original | Turbo 0,6 kg/cm2 | Turbo 0,6 kg/cm2 e intercooler | Turbo 0,6 kg/cm2 e preparação | Turbo 1 kg/cm2 | Turbo 1 kg/cm2 e preparação | |
Potência máxima | 110 cv | 176 cv | 183 cv | 226 cv | 233 cv | 354 cv |
Rotação de potência máxima | 5600 rpm | 5600 rpm | 5600 rpm | 6200 rpm | 5600 rpm | 6900 rpm |
Velocidade máxima | 181 km/h | 212 km/h | 215 km/h | 230 km/h | 233 km/h | 268 km/h |
Rotação à velocidade máxima | 5850 rpm | 6845 rpm | 6935 rpm | 7435 rpm | 7520 rpm | 8645 rpm |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,4 s | 7,5 s | 7,2 s | 6,5 s | 5,9 s | 4,2 s |
Torque máximo | 17,3 mkgf | 27,7 mkgf | 28,8 mkgf | 26,7 mkgf | 36,7 mkgf | 34,0 mkgf |
Rotação de torque máximo | 3000 rpm | 3000 rpm | 3000 rpm | 3350 rpm | 3000 rpm | 3700 rpm |
Alongamento recomendado na relação de transmissão | - | 22,2 % | 23,9 % | 19,7 % | 34,3 % | 25,3 % |
Aumento recomendado na injeção de combustível | - | 48,3 % | 50,0 % | 50,0 % | 83,3 % | 83,3 % |
Aceleração longitudinal no interior do veículo | 0,60 g | 0,96 g | 1,00 g | 1,23 g | 1,27 g | 1,73 g |
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão. |
Algoritmo de
simulação de preparação de motores desenvolvido pelo
consultor Iran Cartaxo, de Brasília, DF. |
Para eliminar o ruído de "assobio"produzido pelo
funcionamento da válvula de prioridade deve-se adquirir uma
válvula silenciosa, e se possível direcionar o ar por ela
liberado de volta ao turbo, através de conexão entre a descarga
da válvula e a mangueira que vai do filtro para a entrada do
turbo. Esse procedimento resfriará o compressor e o ar admitido,
permitindo um funcionamento melhor do sistema e uma redução
ainda maior do retardo da turbina (turbo-lag). Pode-se
disfarçar o barulho da válvula atual, Fábio, bastando
colocá-la dentro de uma caixa selada e fazer um retorno da
descarga conforme já citado. Mas o resultado é desastroso
esteticamente, ocupa muito espaço e não é tão eficiente
quanto adquirir uma válvula já projetada para não fazer
barulho.
Claro que para uma potência maior será necessário o uso de
embreagem apropriada, para evitar o desgaste prematuro e o
consequente deslizamento do disco. Pode-se não reforçar o
câmbio e tomar uma série de cuidados para evitar sua quebra (clique aqui para saber mais), mas para
desfrutar da potência extra com tranquilidade deve-se trocar as
engrenagens por mais reforçadas. Saiba, porém, que elas são
difíceis de encontrar e custam caro.
O alongamento do câmbio é indispensável em qualquer das
preparações. O câmbio do Kadett 1,8, de marchas mais
espaçadas (wide ratio) que as do GS (mais próximas
umas das outras, close ratio), é uma ótima opção,
mas suficiente apenas para seu motor atual (alongamento da quinta
marcha em 20,3%). A troca também do diferencial original
(3,94:1) pelo do GS a partir de 1991 (3,72:1, o mesmo do GSi)
resultaria em alongamento de 24,6% da quinta, bastante próximo
ao que a maioria das preparações citadas exige. Para o uso de
turbo a 1 kg/cm² sem veneno aspirado, nem mesmo o uso de
diferencial do Vectra CD 16V (3,55:1) seria o bastante, sendo
recomendável recorrer a engrenagens especiais com relação
ainda mais longa.
Alterações no conjunto de suspensão, nas rodas, pneus e freios
ajudarão a manter um comportamento mais neutro e seguro do
carro. Na suspensão deve-se endurecer as molas, o que reduzirá
a inclinação da carroceria em curvas fortes. Procure manter a
altura original, para evitar que as barras de direção se
inclinem demais e a cambagem dianteira se desajuste (clique aqui para saber mais). Para evitar
o "mergulho" em freadas bruscas e o levantamento da
dianteira ("passarinhar") em acelerações fortes,
deve-se aumentar a carga dos amortecedores, trocando-os por
outros de carga regulável ou simplesmente de maior carga. Evite
o retrabalho dos amortecedores através de adaptações ou
injeção de óleo: além de ineficiente, produz resultados
irregulares e pode ser perigoso.
Os freios podem ter sua eficiência aumentada pela adoção de
partilhas e lonas de material mais macio, mas a adaptação de
discos de maior diâmetro na dianteira e de discos traseiros é
recomendável nas receitas mais fortes. Os discos originais dos
GSi mais recentes podem ser empregados, mas deve haver opções
de boa qualidade no mercado de preparação. Pneus também devem
ser trocados por outros mais largos. A opção pelos 195/50 R 15
V, que mantêm o perímetro dos 185/60 R 14 H originais,
mostra-se suficiente para as potências menores.
Obter um bom comportamento com preparação mais pesada exigirá
pneus ainda mais largos, o que implica dificuldades no Kadett
pelo formato das caixas de roda traseiras. Se houver regulagem de
altura da suspensão em seu carro, Fábio, você pode utilizar
pneus 205/50 R 15 V, rebater os pára-lamas traseiros -- recorra
a um bom funileiro para não ter problemas de ferrugem ou um
serviço de estética desagradável -- e controlar a altura da
traseira quando rodar com maior peso, evitando atrito dos pneus
com os pára-lamas. Jamais utilize a suspensão muito elevada,
pois compromete o equilíbrio em curvas e freadas. Para que uma
potência maior que 250 cv seja aproveitada a fundo sem destruir
o carro, é preciso também reforçar o monobloco, operação
cara e complicada.
Quanto às duvidas finais: o veículo preparado pode ser
legalizado (clique aqui para saber como),
mas é comum que as seguradoras recusem fazer o seguro de carros
com turbo. Pesquise junto a um bom corretor sobre essa
possibilidade, que certamente não lhe custará pouco -- a
começar pelo modelo original, um esportivo com nove anos de uso.
Para um desempenho ainda maior pode-se optar por adicionar um kit
de injeção de óxido nitroso ao sistema, o que deixaria seu
carro -- equipado com turbo a 0,6 kg/cm², intercooler e nitro --
com 259 cv, chegando a 241 km/h e acelerando de 0 a 100 em 5,4
segundos. Caso o nitro fosse usado em conjunto com a preparação
mais forte simulada, o resultado teórico seria de absurdos 471
cv, 294 km/h de máxima e 0 a 100 em míseros 3,4 segundos. Dá
água na boca, mas exigiria a completa reconstrução do motor e
do carro para suportar tamanha exigência.
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