Consultório de Preparação


por Iran Cartaxo


Gol com cabeçote rebaixado: avanço e curva de ignição


Tenho um Gol CL 94 1.8 a gasolina com comando de válvulas 272, carburador Brosol 2E com acionamento do segundo estágio por mola (mecânico), dutos de admissão do cabeçote e coletor de admissão polidos. O cabeçote sofreu dois passes de 0,45 mm cada. Qual seria a taxa de compressão atual? E o avanço inicial recomendado para a nova taxa de compressão? Devo retrabalhar a curva de avanço para deixá-la mais plana? Que velas de ignição devo usar? As do Uno Turbo serviriam? O que posso fazer para melhorar o torque deste motor?

Alexandre Tanno
makoto@inetminas.estaminas.com.br



A receita de preparação aspirada aplicada a seu carro, Alexandre, parece bastante equilibrada: trata-se de um veneno leve, barato e que não prejudica a dirigibilidade. O que está faltando é um pequeno ajuste, de certa forma até dispensável, mas que pode ser feito pelos mais exigentes.

Tomando por base um cálculo matemático, e por isso somente aproximado (clique aqui para saber mais), pode-se estimar a taxa de compressão atual em cerca de 9,1:1. Esta taxa deixa o carro mais econômico, menos poluente e está ainda num bom patamar para nossa gasolina atual, não havendo risco de detonação desde que a regulagem da mistura e da curva de ponto de ignição tenham sido bem feitas. O aumento de taxa traz um melhor comportamento para a curva de torque, ponto crucial em uma preparação aspirada, que costuma prejudicar em primeira mão o torque.

A curva de avanço realmente precisa ser refeita, não só pelo aumento da taxa de compressão, mas por todas as modoficações que foram feitas no motor. Observe que, para cada mudança no motor, a curva de ponto de ignição e a mistura devem ser reajustadas para um ótimo aproveitamento da alteração. O ideal seria redimensionar os pesos do avanço centrífugo, algo complicado e caro (clique aqui para saber mais). O recurso é regular um novo avanço inicial e esperar que o resto da curva se comporte bem durante os outros regimes de rotação. Chega-se até a desligar o avanço a vácuo em busca de melhor ajuste da curva, mas essa medida deve ser evitada, pois o avanço a vácuo só atua de forma decisiva quando a borboleta de aspiração é fechada, produzindo o vácuo. Tendo isso em vista, a desativação do avanço a vácuo pouco influencia na curva de ponto de ignição em regimes normais de funcionamento. Deixa-se assim de desfrutar do ajuste do ponto provido pelo vácuo quando a borboleta é fechada.

O avanço inicial deve ser definido em diverssos testes feitos pelo preparador, pois mesmo entre carros iguais o ponto inicial ideal pode variar -- por isso é difícil apontar a regulagem ideal. O que deve ser feito é ir alterando aos poucos a regulagem do ponto até que se atinja uma medida que satisfaça os regimes de baixa, seja econômica e deixe o motor com um comportamento agradável ao usuário.

Para a taxa de compressão atual de seu carro não deve ser feito um "travamento" do avanço final centrífugo: pode-se evitar a detonação apenas com a regulagem ideal da mistura e do avanço inicial. O uso de velas mais frias é também desnecessário neste caso, mas quem precisa usá-las não precisa recorrer às do Uno Turbo. Entre as velas de motocicleta pode-se encontrar uma grande gama de diversos graus, a maioria aplicável ao cabeçote do Gol. E custam muito barato, mesmo as mais frias, como as da Yamaha RD 350.

Quanto à melhora do comportamento nos regimes de baixa rotação, o ajuste ideal do ponto de ignição inicial, bem como da giclagem do carburador, já deve resolver o problema, pois o comando 272 não chega a prejudicar muito as curvas de torque em baixa rotação. A troca do carburador 2E pelo 3E, mais adequado ao comando 272, permite ao motor respirar melhor, facilita a regulagem da marcha-lenta e melhora o comportamento do motor tanto nos regimes de baixa como nos de alta -- mas aumenta um pouco o consumo.



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