Consultório de Preparação
por Iran Cartaxo
Turbo em Gol GTi com alta
quilometragem
Possuo um VW Gol GTI 2.000 1993
com quase 150.000 Km rodados. O motor está aparentemente em bom
estado, consumindo cerca de um litro de óleo a cada 5.000 km,
como sempre o fez. Gostaria de saber da viabilidade da
instalação de um turbocompressor com sobrepressão não muito
elevada algo em torno de 0,4 a 0,5 kg/cm2. Qual seria a
receita? Seria necessário trocar a injeção por um carburador
ou seria possível/necessário reprogramá-la (uma vez que, se
estou correto, esta injeção possui controle analógico e não
digital)? Seria necessária alguma alteração nas suspensões
(para comportar o maior esforço gerado nas acelerações)? E
ainda, como seria afetado o desempenho do carro?
Maurício H. Nagaoka
nagaoka@iconet.com.br
Caçapava, SP
Apesar da resistência conhecida dos
motores Volkswagen, 150.000 quilômetros é muito para a adição
de qualquer veneno ao motor. Nestas circunstâncias recomenda-se
aguardar, ou adiantar, sua retífica. Ao menos abra o motor e
verifique o estado de suas peças móveis.
As curvas de potência (as mais altas) e de torque do Gol GTI sem turbo (em azul), com turbo a 0,4 kg/cm2 (em verde) e a 0,5 kg/cm2 (em vermelho)
Clique aqui para ver as curvas de potência e torque ampliadas
À medida em que o sistema de injeção se torna mais conhecido
entre os preparadores brasileiros, deixa de ser necessário
substituí-lo pelo carburador. Basta adaptá-lo às novas
condições de alimentação e ignição exigidas pelo turbo, o
que pode ser feito de três modos: 1) enganar os sensores
é barato mas difícil de reverter, e a alimentação e ignição
ficam prejudicadas e mal reguladas; 2) adicionar uma caixa
eletrônica extra que gerencie outros bicos e atrase o ponto de
ignição barata e fácil de reverter e de regular, mas
apresenta maior risco de falhas, pela adição de componentes
eletrônicos ao carro; 3) remapear o chip da central de injeção
e ignição apresenta risco mínimo de falhas, facilidade
de reversão e otimização da regulagem, mas é caro e há
poucos profissionais capacitados. A terceira opção é a mais
recomendada, mas a segunda tem larga utilização e pode atingir
grau de eficiência próximo ao daquela. Quanto ao controle
analógico, refere-se aos sensores e atuadores. O chip é sempre
digital e passível de reprogramação.
A pressão escolhida dispensa reforços no motor, que serão,
porém, bem-vindos caso se deseje maior vida útil. Escolha uma
turbina que proporcione respostas rápidas e entre em operação
com baixas rotações: dê preferência às pequenas, que entram
a 1.500 a 2.000 rpm. Se possível use uma turbina bipulsativa,
que possui resposta mais rápida em retomadas. Uma válvula de
prioridade também ajuda a reduzir o turbo-lag (retardo da
entrada do turbo). A taxa de compressão pode ser mantida, a
critério do preparador. Sugerimos a taxa original, mas você
pode reduzi-la um pouco para maior segurança em baixas
altitudes. Recomenda-se a adição de um intercooler, pois
reduz o risco de detonação, diminui o consumo e aumenta a
potência.
O desempenho estimado com esta receita, utilizando a taxa de
compressão original e pressões de 0,4 e 0,5 kg/cm2, é o
seguinte:
0,4 kg/cm2 | 0,5 kg/cm2 | |
Potência máxima | 161 cv | 174 cv |
Rotação de potência máxima | 5400 rpm | 5400 rpm |
Velocidade máxima | 208 km/h | 213 km/h |
Rotação à velocidade máxima | 6276 rpm | 6435 rpm |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 7,3 s | 6,8 s |
Torque máximo | 25,4 mkgf | 27,3 mkgf |
Rotação de torque máximo | 3200 rpm | 3200 rpm |
Alongamento recomendado na relação de transmissão | 16,2 % | 19,2 % |
Aumento recomendado na injeção de combustível | 33,3 % | 41,7 % |
Aceleração no interior do veículo | 0,85 g | 0,92 g |
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão e/ou o emprego de pneus mais largos. Caso o aumento de potência não seja muito grande, pode-se mantê-los originais e contar com resultados pouco piores. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão. O aumento na injeção de combustível é feito para manter uma relação ar/combustível equilibrada e não representa aumento proporcional no consumo. |
Algoritmo de
simulação de preparação de motores desenvolvido pelo
consultor Iran Cartaxo, de Brasília, DF. |
Para atingir a velocidade final estimada é necessário alongar a
relação final de transmissão. A troca do câmbio pelo do Gol
GL 1,8 da época, com a quinta marcha de relação 0,68:1 (a do
GTI é 0,80:1), alongaria a relação final em 15%, aproximando-a
do ideal.
Para evitar detonação e proporcionar queima perfeita do
combustível, aumente o volume de combustível injetado na
proporções indicadas. Isso não representa incremento
proporcional no consumo: observe que a potência subiu mais que o
volume de injeção, indicando maior eficiência térmica. Enfim,
escolha um preparador ou loja de renome, que preze pelo serviço
limpo, bonito e que dê garantia. E bom passeio de GTI turbo!
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