Tempo de férias

Nas viagens, mais até que no dia a dia urbano, é preciso seguir
certas regras para o automóvel nos servir de modo confiável

por Roberto Agresti

Boa parte dos brasileiros pegou a estrada recentemente. Tempo de férias, hora de levar as crianças para a praia, à montanha ou aonde seja. Qualquer que tenha sido o destino, para muitos esse momento de ruptura com a rotina significou horas e horas passadas viajando dentro de automóveis.

Vou chover no molhado? Não. Seria muito óbvio pegar o tema e discorrer sobre o mau estado de nossas rodovias. A péssima sinalização seria outra obviedade, assim como a fiscalização ineficiente. Mas, nessa primeira coluna de 2012, prefiro falar de outros probleminhas — também óbvios —, de nossos pecados, aqueles que nos levam a pagar preço alto por simples esquecimento, leviandade ou falta de conhecimento.

Um amigo recentemente comprou um carro, uma minivan, que depois de longa pesquisa e consultas — inclusive a esse que vos escreve — considerou a escolha mais adequada a suas necessidades. Em menos de três meses rodou a bagatela de sete mil quilômetros e, num encontro causal, externou sua satisfação geral com o carro e uma dúvida: qual a pressão correta dos pneus com o carro carregado?

A pergunta me deixou perplexo, pois nesses meses de carro novo o amigo viajara para longe com a família, de porta-malas cheio — de São Paulo ao Rio Grande do Sul —, o que me faria intuir o óbvio: que ele soubesse o quanto a fábrica recomenda para essa situação. Contudo, mesmo sendo uma pessoa muito culta, inteligente e experiente, cometeu um grave erro, deixando aos frentistas de postos de gasolina a tarefa de cuidar da pressão de enchimento dos pneus.

É um erro recorrente esse, que tem origem na plácida consideração de que o profissional que trabalha no dia a dia de um centro de distribuição de combustível saiba, de cor, a pressão recomendada pela fábrica de cada um dos infinitos modelos e versões de automóveis que hoje circulam pelo Brasil.

Houve um tempo — duas décadas atrás se tanto — em que os modelos de carro não eram muitos, e idem os tipos de pneus. Hoje a diversidade de veículos e seus respectivos “sapatos” me faz afirmar, sem nenhuma chance de errar, que frentista sabe a pressão recomendada pela fábrica para, no máximo, os cinco carros mais populares em nossas ruas.

Assim sendo, se você não está dentro de um Gol, Palio, Uno, Corsa ou Fiesta, esqueça: abra o manual ou procure por aquele selinho, muitas vezes aplicado ao batente da porta ou à tampa do tanque, que indica a medida correta. Senão, você acabará como meu amigo que, depois de um tempo, começou a achar seu carro novo muito estranho — estranheza essa devida a uma pressão dos pneus muito abaixo da recomendada.

Sorte dele que ficou na estranheza: poderia ter perdido uma roda ou pneu em um impacto em buraco, por usar pressão insuficiente, ou ter desgastado os pneus de forma prematura ou irregular, por uma pressão alta ou baixa demais. Isso, claro, para não falar no maior risco de perder o controle em uma situação crítica.

Outra temeridade, praticada de boa fé por muitos, é ceder à gentileza dos frentistas de checar “a água e o óleo”. Tanto em um quanto em outro caso, essa cortesia pode resultar em problemas ao motor — e ao bolso do dono do veículo. O princípio é simples: a verificação de líquidos, seja o de refrigeração, seja o lubrificante, deve ser preferencialmente feita com o motor frio.

Proporção correta
No que diz respeito ao liquido do sistema de refrigeração, nos vasos de expansão comumente há marcas de nível para motor frio ou quente. Em qualquer das situações, adicionar água não é o correto: o sistema funciona com uma mistura de água com um fluído desenvolvido para esse fim, em precisa proporção entre as partes. Ao acrescentar apenas água, tal proporção começa a se diluir de maneira indevida.

Sim, como dissemos isso não é um grande pecado, mas é indevido. O certo é aferir o nível a frio e adicionar o líquido refrigerante recomendado, na proporção que cada marca de veículos recomenda, coisa essa que sempre está escrita no manual do proprietário, mas de que poucos frentistas sabem de fato.

Quanto ao óleo, o pecado de se deixar controlá-lo com motor quente é grave: o lubrificante em um motor deve circular para cumprir seu duplo papel de lubrificar e refrigerar as partes móveis. Uma verificação do nível através da prosaica vareta, numa parada para reabastecimento, sempre resultará numa medição aproximativa, tendendo ao erro, pois o carro estará com boa parte do óleo nas partes altas do motor. Resulta daí um falso veredito tipo “falta um litro, doutor”.

E seu prejuízo, ao ouvir tal constatação, não se limita ao preço do litro de óleo que será indevidamente reposto. Um motor funcionando com óleo a mais do que o recomendado é algo ruim, tão ruim quanto funcionando com óleo abaixo do recomendado. Sendo assim, preceito básico é medir o nível em local plano e com o motor desligado há mais de cinco minutos, deixando a força da gravidade levar a maior parte do líquido de volta ao cárter.

Problemas e viagens de férias também podem surgir com o desleixo na arrumação da bagagem, em especial em carros no qual o compartimento não seja separado da cabine. A necessidade de levar uma tralha enorme às vezes leva a cometer alguns deslizes que podem em princípio parecer pequenos, mas que em uma emergência acabam provocando problemas — não raro muito sérios.

Um squeeze, essas garrafinhas de água de plástico ou metal, que role para a região dos pedais do posto do motorista é algo muito grave, quase tão grave quanto uma caixa ou mala pesada posicionada de modo a voar em direção à cabeça dos ocupantes em uma freada de emergência. Sendo assim, ter todo cuidado na arrumação da bagagem e limitar a quantidade de objetos soltos na cabine é obrigação. Pensar em situações limite é salutar para evitar problemas.

E problemas, nessa época de férias, também podem vir de fatores externos — como chuva, por exemplo. Preocupação com o estado dos pneus e sua calibragem é o básico, mas, sobretudo no Sudeste do Brasil, o verão é uma época chuvosa e isso demanda uma despesa obrigatória: a troca das palhetas do limpador de para-brisa. Nesse item, não economize: as mais caras são as melhores, tanto pelo óbvio aspecto da capacidade de eliminar a água do vidro, como por um aspecto que parece bobo, mas não é — o ruído.

Palhetas ruins, baratinhas, fazem barulho. Uma viagem de três horas já é estressante o suficiente sem barulho nenhum. Com barulho, pode causar um cansaço mental que afeta a capacidade do condutor de reagir adequadamente a uma situação de emergência. As palhetas de nova geração, que parecem ser feitas unicamente de uma lâmina de borracha, não apenas são eficazes como muito mais silenciosas.

Sei que para muitos de vocês — quase que certamente a maioria — essas observações podem parecer óbvias. Todavia, tais preceitos são extremamente importantes e devem ser sempre relembrados, em especial em um momento com tantos carros sendo vendidos e tantos deles andando para cá e para lá nas mãos de novos motoristas. Por isso, compartilhe esses conhecimentos com quem possa não tê-los ainda.

E feliz ano novo a todos os leitores do Best Cars!

Outra temeridade, praticada de boa fé por muitos, é ceder à gentileza dos frentistas de checar "a água e o óleo"
   
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Data de publicação: 7/1/12

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